quinta-feira, 26 de maio de 2011

LIDANDO COM A PERDA E COM A PERDA PARA PEDRO


Lidar com a perda de um filho - ainda que seja um embriãozinho de 9 semanas - é doído, mas, saber que se tratou de um processo natural e que não podemos lutar contra a natureza e sim aceitar, afinal, os rumos naturais são sábios e inquestionáveis.

Mas, existe o que fica - onde vão parar as expectativas? Como lidar com o sonho desfeito? E toda alegria que estava sentindo, mesmo cansada de tanto enjoar? ... - e é preciso saber lidar. Encarei tudo de frente, afinal, não era imaginação, é o que é. Mas, para Pedrinho foi um baque maior. Não temos noção do qunato uma criança de 4 anos é capaz de sentir uma perda - mesmo de um irmão(ã) que nem havia nascido. Pedro chora e ficou muito triste. Chegou a dizer que não ia mais beijar minha barriga, porque não tinha nada mais "lá dentro". Fora que ainda continuava com um pouco de enjôo e ele chateado - ele chorava quando me via vomitar, queria ajudar e ficava preocupado. É uma característica dele, é cuidadoso e preocupado com os outros. - me dizia: "mas, como se não tem mais irmãozinho aí?".

O que mais me chamou a atenção e me fez redobrar os cuidados com ele foi: "pai, vou jogar uma corda para o céu, para bisa Eurides - minha avó que tem 11 anos de falecida e Peu, tem 4 anos de idade...-  segurar e me puxar para lá, para eu ver meu irmãozinho". Precicamos explicar para ele que ele não pode fazer isso, senão cai e morre, mas, não vai ver o irmãozinho, porque onde o irmãozinho dele está, só vai neném que estava na barriga da mamãe e "Papai do céu" lembrou que não era a hora de nascer e levou para guardar com Ele, num lugar separado... Ufa! Foi o que o fez parar de repetir que "queria ir para o céu". Toda noite ele chora, quietinho, em seu quarto. Depois, chama a gente e pede abraço. Fica abraçadinho conosco - eu e o pai - e diz: "meu coração tá pedindo para eu chorar, mãe, eu quero parar e não consigo...". O abraçamos firme, com carinho e muito amor  e dizemos: "então chore, filho, alivie seu coraçãozinho, para ele ficar vazio da dorzinha. Bote para fora e saiba que estamos aqui com você e seu irmãozinho está bem."

Bom, ao menos ele está vendo que os pais sentem a perda do irmãozinho, como ele fala, mas, estão tendo força para seguir. E estamos num movimento sincero, não estamos fingindo para ajudá-lo, estamos conscientes, mesmo. Só esse movimento sincero pode fazer base para Pedro. Fingir que se está bem não surte efeito real. Ele sabe que pode contar e confiar na gente e, cada vez que ele pede um abraço e recebe, ele sente que estamos ali, abertos. 

Não digo que é fácil, porque, de fato, não é, mas, o que precisa ser feito, deve ser feito e estamos fazendo: nos esforçando a cada dia, sem nos fazermos de vítmas ou culpando algo ou alguém. Como comecei falando, o que acontece naturalmente não deve ser algo ruim, e sim, algo que precisava acontecer. Oque nos cabe? Mesmo sem entender o verdadeiro motivo, aceitar - não há outra opção, mesmo - e seguir em frente. Sentir a dor e deixar passar, não eternizá-la. Existe o momento onde me isolo um pouco, choro minha dor e repito: "Deus sabe o que faz". Faço uma oração e alivio o peso que a dor traz. Esse é o meu caminho e minha maneira de caminhar. E o caminho do amor é, com certeza, o melhor: reunimos forças para seguir e temos um ao outro, não como posse, mas, como verdadeiros companheiros.

Saudações maternais,

Pat Lins.

sábado, 21 de maio de 2011

E AGORA, O QUE PASSOU É PASSADO - PERDI O BEBÊ

Enquanto uma situação não termina, um ciclo não é fechado, ainda é presente - ainda que passando, como tudo na vida. Mas, quando encerra, passa-se. É passado. 


Preciso desabafar sobre esse passado recentíssimo de perder meu segundo filho, quando seu coração parou de bater, ainda em meu ventre, por volta de 9 semanas de gestação. 

Levei duas semanas para ter certeza e confirmar o óbito fetal. Assim, tomei minha decisão - explico isso em DECISÕES EM MOMENTOS DIFÍCEIS, no "Mães na Prática" - e fui ao hospital, fazer a tal "curetagem".



Estou horrorizada com o atendimento da emergência do Jorge Valente. O detalhe: Fui atendida por volta de 9:30 de ontem – dia 19 -  me deram a medicação para dilatar o colo do útero às 10:10 a.m. Nesse meio tempo, um rapaz da recepção chamou minha prima  e disse que o hospital estava cheio e eu precisava ser transferida. Segundos depois, a enfermeira entrou em meu leito e perguntou porquê eu havia pedido transferência. Informei que não pedi, apenas autorizei diante da orientação da recepção deles de que não haveria disponibilidade de continuar o procedimento lá, pois o hospital estava muito cheio. Isso já era perto das 11h. Ela não voltou mais lá. Sequer dava orientação. Ao ser perguntada se eu precisava trocar de roupa, apenas me disse: "pergunte na recepção". Próximo a meio dia, já estava sentindo as contrações. Elas me disseram que não poderiam fazer nada, porque "eu" havia pedido para ser transferida e não cabia mais a elas darem atendimento. Uma única se prontificou e me disse que não poderiam dar mais medicamento, inclusive, porque o colo do útero precisava contrair, mas, que não era para eu começar a sentir dor, já que o procedimento da curetagem entra um sedativo logo após 3 horas da inrodução do citoteque - que no hospital tem outro nome. Eu já estava beirando as tres horas e sentia fortes dores, como um trabalho de parto, sem bebê para sair, haja vista que carregava um embrião sem vida. Nada de ambulância. Por volta das 14:30, as dores e contrações eram violentas e perdi o controle, com tanta dor e comecei a gritar - um vexame - e foi quando a ambulância imediatamente apareceu. Nenhuma enfermeira ou auxiliar veio junto, nem para abrir a porta para a maca sair. Foi preciso pedir ajuda a uma acompanhante de outro paciente, junto com minha acompanhante, para abrir a bendita porta. Na ambulância, eu perguntei ao maqueiro porque não me levaram para o centro cirúrgico e ele me disse: "mas, como, se a senhora pediu transferência para não fazer com a gente?" Gritando de dor e de raiva, disse que foi a "porcaria" da recepção que nos orientou a optar pela transferência por falta de vaga no Jorge Valente. Ele então, passou a ser mais solidário. Ficamos sabendo que a ambulância estava a minha disposição desde às 11h e que a demora foi a burocracia. Imagine, mais de 4 horas de burocracia, sabendo que foi começado o procedimento para uma curetagem... Já não me bastava a dor de saber que havia perdido um filho(a), ainda precisei passar por tudo isso? 

Chegando ao Hospital Sagrada Família – tem uma unidade dentro do Hospital Salvador, na Federação e faz jus ao nome -, aí sim, fui bem atendida. A enfermeira e a médica me perguntaram o porquê d´eu ter demorado tanto, sabendo do tempo para os procedimentos... Eu já não suportava mais ser cobrada por algo que fui vítma e disse que eu estava esperando lá, deitada no leito, sentindo as dores e sem ter acesso a qualquer informação. Elas me perguntaram o horário da introdução do tal citoteque e falei 10:10h. Me levaram na mesma hora para o centro cirúrgico, antes mesmo de finalizar o processo burocrático, porque já eram quase 15h e elas compreendiam que a dor que sentia era desumana. Numa dor de parto, o próprio bebê ajuda para sair e, num aborto? 

Oxe, em compensação, já no centro obstétrico, me sedaram e, adeus dor. De repente, eu nem sabia mais onde estava... só me via entrando pelas tirinhas do teto. Voava. Ria... kkkkkkkkkkkkkkk Olha, fiquei “doidona”. Sem noção de tempo, espaço ou qualquer coisa, ia voltando, aos poucos. Escutava as risadas e não identificava minha voz. Me peguei respondendo perguntas básica como meu nome, idade e, até tipo sanguíneo. O que me perguntavam eu respondia, certinho. Mas, sempre dando risadas sem noção. Me recordo de uma cosia ou outra. Tipo: “Dra, a senhora está aqui, comigo? Como a senhora entrou aqui?”  - estava em meio a imagens psicodélicas e acreditava que ela havia entrado naquele mundo, que nem eu sabia onde era... E, quando conseguia abrir os olhos, via as toucas da equipe e via bem de perto o anestesista se acabando de rir. Eles me diziam que eu era hilária e que os fiz dar muitas risadas com minhas histórias... Sabe Deus o que saiu de minha boca. Parecia que tinha um buraco na testa que, o que eu pensasse, saía – kkkkkkkk. Eu falei assim: “noossssaaa! Agora entendo o que um drogado passa...” E me perguntaram: “e você usa drogas?” Eu disse: “eu? Kkkkkkkk eu não. Acho que já nasci drogada”. E tome-lhe risada. Só depois soube que fiquei uns 40 minutos delirando. Eles me disseram que se desse tempo desceriam para me contar as coisas que falei. Imagine? Teve um momento que me escutei dizer: “minha perna? Esta esticada? Eu não estava naquela posição horrorosa? – as pernas ficam elevadas e amarram meus pés no alto. E agora? Eu quero espirrar...” Me responderam: “pode espirrar”. E aí, foi onda: “E como é que eu espirro? Kkkkkkkkk Não sei espirrar”. Mas, foi uma galhofada. A médica me disse que eu estava muito tensa e depois de tanta dor – cheguei a desmaiar na ambulância, segundo minha prima – a sedação tem um efeito mais forte e delirante. Ela me disse que meu útero era muito difícil para curetar e perguntou a razão de minha cesariana - com relação ao meu prinmeiro filho, cuja gravidez foi normal. Aquela história, que não é história, é fato: só é aquilo que veio para ser, senão, não é. Afinal, o que tem que ser, será. O que não, não.  Expliquei que foi o colo do útero mesmo, pois levou quase 48 h com Peu encaixado e eu não sentia nada, e o colo do útero não afinava. Ela disse que deveria ter sido isso... provavelmente, nunca consiga ter um parto normal com o útero bem fechado daquele jeito. Ela me disse que pelo que viu, não sabe como suportei tanta dor.

O importante é que deu tudo certo. Sinto umas cólicas incômodas, mas, nada grave.E, agora, agradecer a Deus; pedir que meu embriãozinho chegue aos céus e que, na hora dele vir, estou aqui.

Não foi fácil, prazeroso ou legal passar por tanta coisa, para variar, em tão pouco tempo. Descobri que estava grávida. Fiquei feliz da vida. Todo mundo curtindo. Planos - natural, né? Enjôos fortíssimos. Desanimo, sem gás para nada, apenas para dizer: "vai passar e, já, já, p bebê estará aqui fora..." E, de repente, num exame de rotina, não se detecta batimentos cardíacos. Tudo mudou de cenário. A mesma coisa passou a ser outra coisa, oposta, triste e desgastante. Encarei os fatos. Estou bem. Mas, precisei passar por umas coisinhas chatas para, mais uma vez, testar quem sou eu.

Por outro lado, venho recebendo muito carinho. Preciso agradecer a médica do Hospital Sagrada Família, não me lembro o nome, mas, me recordo do rosto, da voz e da postura firme, profissional e humana. Agradecer a toda equipe, que esteve lá e me ajudou, muito, no dia 19 de maio de 2011 - dia em que virei mais uma página de minha vida. Agradeço a meu querido médico, Dr. Giordano Matos, que é excepcional, bem como suas atendentes. Agradecer a minha mãe, meu pai, minha família todaaaaa, meu marido, meus amigos. Nessas horas, o que deve importar é saber tirar proveito do que acontece de bom. Não é fácil, mas, se esforçando, dá. Isso não me impede de ver a crise no sistema de saúde, educação, segurança e etc do nosso país. Mas, isso fica para outro post. A ambição desmedida está destruindo a vida e, quem destrói nem se dá conta. Se cada atitude fosse isolada e só atingisse a quem pratica, mas, antes, outras pessoas inocentes, "pagam o pato". 

Estou bem, de verdade. Agora, é deixar passar a raiva do Hospital Jorge Valente e de toda loucura que impera lá. Deus me livre!

Mais uma vez, eu vi que  A DOR SÓ DÓI ENQUANTO ESTÁ DOENDO, DEPOIS... PASSA! Ela precisa passar! Tudo passa! O tempo, passa. Só a vida segue. E nós podemos DEIXAR UM MUNDO MELHOR PARA OS NOSSOS FILHOS E FILHOS MELHORES NESTE MUNDO!!! Sempre começando por nós mesmos!

Beijos,

Pat Lins.


sábado, 14 de maio de 2011

DECISÕES EM MOMENTOS DIFÍCEIS

O quê fazer? Como fazer? Qual a melhor opção?

Bom, já não basta a surpresa ruim de não encontrar batimentos cardíacos no bebê, vem o dilema de o quê fazer? Como agir? Esperar, leve o tempo que levar? Intervenção médica?

De acordo com a última ultra - fiz ontem, sexta-feira 13, em outro lugar, totalizando 4 ultras em 3 lugares diferentes - não há novidades com relação ao batimento, nem evolução de nada. Não há caminho de sangue. Olhamos por vários ângulos e instantes. Colo do útero bem fechado. Pela experiência da médica e, de acordo com o que o exame apresenta, pode levar mais 3 semanas para que o aborto aconteça. Bate com o que minha médica falou, que poderia levar 1 mês para que meu corpo "expulsasse" naturalmente o embrião. Trata-se de uma angústia terrível: não sinto nada  e fico esperando "o" momento da mudança de quadro. Isso dá margem para que escute de um tudo, desde pessoas que conhecem alguém que teve hemorragia e dores insuportáveis, a pessoas que optaram por apelar para a intervenção cirúrgica, não sentiram nada e engravidaram, logo depois, sem grandes problemas. 

Aí, fico sem saber o que fazer. Como tomar a decisão certa se nenhuma é errada? Nenhuma decisão dessa será errada. Mas, de fato, conviver com a idéia de que meu bebê está morto, dentro de mim, não é agradável. Mas, pensar que pode ser algo que a medicina não saiba, também passa pela minha cabeça. Farei outra ultra semana que vem... é o que me cabe fazer... Mas, não nego que crio expectativas - lembre-se, eu também sou humana e sonho com milagre, quem não sonha?! - de que tenha sido qualquer coisa e se escute os batimentos. Se ele crescer, semana que vem estiver maior, pode ser uma prova de que tem algo estranho, mas, que ele esteja vivo... Esperar o movimento natural me dará essa certeza, de que estava morto, mesmo. Mas, esperar tanto tempo, vivendo dia-a-dia com receio do que possa acontecer, mesmo que esteja vivendo normalmente, esse receio fica martelando, sim. Como negar? A diferença é que não faço disso um entrave. Apenas, lógico, tomo algumas precauções: evito ficar sozinha em casa, com Peu, por exemplo. Meio óbvio, né? Mas, há quem acredite ser exagero meu. Paciência, faço o que penso que deva fazer. Falo do que algumas pessoas falam para que se saiba que minhas decisões e a maneira como me esforço para ser melhor não se trata de um caminho livre de obstáculos e dificuldades. Mesmo assim, sigo em paz.

Apesar de todo dilema natural, visto o contexto, meu coração está em paz, de verdade. Minha mente, sim, esta está em trabalho constante. Preciso refletir e neutralizar a agonia, em forma de pensamentos e audições... Minha mente está voltada para manter tudo em ordem. Não entro em acelerações, evito discussões... Escuto o que me falam e pondero assim: "é o que a pessoa sabe falar... será que agiria assim? muito mais fácil falar do que fazer..." e tento compreender. Não me exijo a obrigação da compreensão... tem gente que eu não faço a mínima idéia do porquê agem como agem, mas, sabe de uma? O problema não é meu. Assim, minha mente deixa de lado. Não deixa de ocupar meu tempo, onde poderia estar pensando em algo melhor. Mas, a vida é assim. Pessoas são como são e só cada um pode se ajudar e melhorar - caso queiram, né verdade? Mudar dói e requer muito mergulho em si, sem deixar de viver o tudo mais.

Enfim, manter o equilíbrio - ou se manter na busca dele, como é o meu caso... rs - requer muito equilíbrio.

Semana que vem, volto aqui para atualizar.

Saudações maternais e fiquemos bem,

Pat Lins.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

SELEÇÃO NATURAL

Toda mulher sabe que o primeiro trimestre da gravidez é um dos mais delicados e, também conhecido como período de SELEÇÃO NATURAL.

Na primeira gravidez, enjoava muito - menos do que esta... porque, nesta, tive refluxo - e fui parar no hospital, porque, na hora que agachei, para vomitar, saiu um pouco de sangue. Nossa, um susto. Foi só uma gotinha, mas, corri. Ao chegar na emergência, estava quase na hora da troca de plantão - da tarde para a noite - e a médica - minha xará-, me recebeu e informou que o aparelho de US - Ultrassonografia - estava quebrado. Conversou comigo e me "garantiu" que era um aborto e que era comum, visto que estava dentro do primeiro trimestre e que eu me acalmasse, porque tratava-se de uma seleção natural, etc. Sorte que ela não me deu nenhum medicamento, além do para enjôo. Pois, quando trocou o plantão, o médico que assumiu veio me ver e perguntou baseado em que eu acreditava ter abortado. Expliquei o parecer da colega dele e ele fez um exame de toque, me dizendo em seguida: "Só posso garantir com a US, mas, pelo que senti aqui, seu útero está fechado..." A suposição dele era que, como fica sangue de menstruação grudado no colo do útero, pode ter saído esse sangue, que fica na região externa, no momento do esforço para vomitar. Pois bem, me pediu para ficar lá, em observação, para evitar qualquer coisa. Dia seguinte, consertado o bendito aparelho, fizeram minha ultra. A primeira coisa que ouvi foi um batimento acelerado e uma bolinha linda, lá dentro e bem fixada em meu útero. Era Peu, vivinho da Silva e sem nada que demandasse risco. A hipótese do médico era a que mais se aproximava do que pode ter acontecido. Um susto, apenas. A gravidez foi normalíssima. Assim, eu fui apresentada a SELEÇÃO NATURAL e a uma coisa contrária a ela, que são médicos que não respeitam a seleção natural de cada um, em seguir sua verdadeira vocação e fazem medicina apenas porque estudaram bastante e passaram no vestibular, se formaram e se tornaram profissional de medicina, o que, para mim, é algo muito diferente de ser médico. SER médico, para mim, é um DOM. Nem todo mundo que se forma em medicina É médico. E, a depender da área que opte por trabalhar, além do dom, tem que ter JEITO... A imprudência da primeira médica poderia ter custado a vida de um embrião saudável e do meu filho.

Daí, voltei a condição de espera: espera do parto; de ver e pegar meu pequeno; de vê-lo crescer...

Hoje, vivo outra espera, a espera do sangue descer. Quando eu era menina - em minha época, 11, 12 anos era menina, ainda - eu era louca para menstruar. Vivia a espera do sangue descer. Aquele sangue mudaria minha vida, dentro de minha crença. Eu me tornaria: mocinha. Um passo para ser mulher. Romperia uma barreira e ascenderia: estava crescendo. Engraçado é que, depois que a gente menstrua, mês após mês, acha um incômodo, né? Mas, quando não vem, a gente se preocupa... risos. Ou, quando estamos querendo ter um filho, a espera dele não descer é que se instala. Pois é, os sinais em nossas vidas são tudo, já percebeu? Marcos em cada fase de nossa história. O movimento natural do nosso corpo, por mais que se tenha avanços tecnológicos, é ele quem determina as verdadeiras mudanças e transformações. Esse movimento natural que determina em que fase estamos e para a qual vamos... Por isso que, hoje, vivo um misto de cada fase dessas fases, com um agravante: a espera da perda. Nas fases anteriores, vivi a espera da mudanças alegres. As boas expectativas, dos sonhos e planos. Na fase atual, estava bem e tranquila: o embrião estava bem encaixado e crescendo. Cresceu até a 8a semana e seu coração parou de bater. 

Sábado passado, eu não tive sangramento, muito menos algo que me levasse a estar preocupada. Fui fazer uma ultra, já que, a primeira, fiz com menos de 5 semanas e não dava para escutar o coração. Minha médica pediu para que eu repetisse, para a época certa, já que, após a 7a semana é que se é possível escutar. Pois, fui fazer. Mas, o coração não batia. Ele estava bem desenvolvido. Parecia um bonequinho com cabeça, tronco e o que começavam a ser os membros. Vi tudinho e estava fácil de ver, porque estava bastante nítido. Mas, sem batimento. A hipótese é que o coração havia parado há uma semana. Fui, novamente apresentada a teoria da seleção natural, onde a natureza se incumbe de interromper uma gestação de uma criança com algum problema. Mas, o que me deixa intrigada é que:

1 - o embrião cresceu bastante e normal, da 5a para a 7/8a semana - apesar dele(a) estar com tamanho de 9 semanas;
2 - ele(a) estava bem encaixado, líquido normal...;
3 - uma semana antes, eu havia parado na emergência... por conta do refluxo. A médica da emergência, uma senhora com ar de deboche, me fez ficar de pouco mais de12:00h até quase 17h, tomando apenas remédio para enjôo e soro, sem escutar minha queixa real, que era do sufocamento pela acidez que subia do meu estômago, queimando tudo e com a sensação de que estava voltando tudo. Era como se nada descesse, apenas subisse... Só que eu já havia vomitado desde o dia anterior e o que saía era algo muito ruim, com um sabor amargo e ácido. Era abrir a boca e saía. Muito nojento. Ela veio me ver - isso num hospital bom e de nome forte, viu? - e perguntou como eu estava. Eu disse: "péssima! O negócio ácido e que queima ainda está forte e estou com a sensação de que vou sufocar." Ela, com riso debochado, me disse: "Patricia, Patricia, tenha paciência mulher. Gravidez é assim mesmo." Eu, sarcástica e desesperada, apenas disse: "Eu sei, já estive grávida antes e sei que passa. Acontece que estou me sentindo muito mal e esse líquido nojento não pára de subir me queimando e isso está me sugando as forças." Ela sorriu e saiu. Prescreveu alguma coisa e saiu. Ela prescreveu "ANTAK". Veja. eu cheguei lá por volta de 12:10h, fui atendida logo depois e só após as 17h ela foi me ver... Foi quando me passou esse remédio para o estômago, que me aliviou em menos de 15minutos. Acalmou tanto que senti fome. Me foi liberada uma refeição - pense, eu estava sentada o dia inteiro numa cadeira, na emergência - leve: sopa, inhame e suco. Nossa, comi como se fosse um banquete, naquela cadeira desconfortável e sem ter onde apoiar. Detalhe: não sou fã de sopa... Mas, tomei como se fosse a coisa mais gostosa da vida. Uma semana depois, fiz a ultra e disse que o coração do bebê parou... O que pensar?

Fui ler a bula do antak e a maioria fala que não é indicado na gravidez, principalmente, dentro do primeiro trimestre. Ele interefer nos batimentos cardíacos de quem o toma - um dos efeitos colaterais - e é capaz de passar pela placenta e, inclusive, passa na amamentação. Portanto, não recomendado a gestantes e mães amamentando... O pior: a acidez só passou naquele dia, na segunda, estava de novo... Só bebi água e voltava do mesmo jeito. Foi complicado. Eu sofria e estava desgastada, mas, repetia: vai passar! E me apegava a expectativa de que passaria e depois seria tudo melhor. Pensava no bebê. Alisava a barriga e dizia: "fica aí, viu? Mamãe tá reclamando do enjôo e dessa acidez insuportável, mas, tenho que aguentar!". 

Fiquei confusa e com uma pulga atrás da orelha: SELEÇÃO NATURAL ou FALHA MÉDICA?

Não sei se tem como comprovar... o fato é que, hoje, estou a espera do sangue descer. Não para entrar numa fase de boa mudança, mas, para uma fase de encerramento. Enquanto ele está aqui, ainda em meu ventre, tenho a sensação de que o coração vai bater... Como não sinto cólica, nem tenho perda de sangue ou sangramento, fico presa a uma falsa esperança. A realidade é que estou vivendo a espera da perda concreta. 

Estamos sempre a espera de algo... Por isso, que, apesar dessa espera, estou vivendo o aqui e agora, dando continuidade aos afazeres diários, com algumas restrições e sei que as coisas só acontecem quando têm e como têm que acontecer. Estou tendo que viver na prática o que me proponho: ter fé. Uma coisa é acreditar que Deus existe e que existe um propósito para cada coisa. Mas, a fé de que Ele sabe o que faz e ser grato é mais complicado. Então, falo: "Deus, apesar de não entender seus desígnios, sei que eles são reais. Não posso lutar contra os fatos. Mas, também, não poso agradecer de coração... Te peço perdão pela minha ignorância e peço que me capacite a entender. Um dia entendo e, nesse dia, posso te agradecer com consciência..." Sei lá, Deus é Deus e Ele deve entender meu lado humano, afinal, eu sou humana.

Bom, queria só compartilhar essa fase ruim e chata, pela qual passo. Mais uma fase ruim e delicada. Mais uma que vai passar, com certeza, porque eu quero deixar passar e estou deixando. Mas, mesmo dentro dessa fase ruim, muita coisa boa: Pedro tem me dado todo o apoio. Não falei claramente para ele, vou pedir ajuda a psicóloga. Mas, ele estava na sala da ultra, quando a médica falou que não havia batimento cardíaco e saiu. Depois, quando chegou em casa, ele se jogou na cama dele e ficou triste, abraçado ao travesseiro de anjinho dele. Perguntei se ele queria conversar com a mamãe e ele disse que não. Pedi meu beijo, que ele não havia me dado. Ele se recusou e me disse: "meu irmãozinho não está mais em sua barriga...". No dia seguinte, me abraçou e beijou muito, mas, no rosto, no braço, na perna... menos na barriga, como vinha fazendo nos últimos meses. Na segunda-feira passada - dia 09/05 - repeti a ultra e nada. Mas, antes de sair, ele estava pronto para ir a escola, me abraçou e disse: "minha princesa, eu te amo muito! Você vai para sua médica agora, é? Leve seu pijama, viu?" 

Fora Peu, meus pais, irmãos, minha sobrinha, meus tios e tias, meus primos, meus amigos - os que já estão sabendo... estou avisando aos poucos - e até meus alunos, todos estão me dando tanto apoio e carinho que não dá para se manter triste. Fora que eu sinto assim: dói, mas, opto por não sofrer, muito menos, eternizar a dor, deixo-a passar. Vejo como as pessoas estavam felizes com essa gravidez e como estão tristes, como se fosse com cada um. É bom saber que se é querida e amada. É bom saber que existem muito mais pessos que torcem por mim, do que as que me invejam e me enchem o saco. Muito bom saber que não estou sozinha! Não fujo do meu momento, mas, ele fica muito menos pesado por ser partilhado com a torcida das pessoas. Encaro de frente a realidade e não dá para sofrer pela verdade. Outra coisa, não me culpo... Sem essa de achar que falhei em alguma coisa. Com certeza, trata-se de uma cosia que não depende de mim. Se alguma amiga-mãe está passando por isso - a não ser que tome algo consciente - trate de jogar a culpa para as cucuias. Existe uma pressão de que "a mulher não soube segurar a criança...". Cai fora! Fora as besteiras que ouvi: lógico, os chatos de plantão não mudam, nem nessas horas. Uma jovem, no consultório de minha médica, veio logo falando: "tava fazendo estripulia, não foi não? Agora, vai emagrecer, dar umas caminhadas..." Ou seja, querendo me culpar ou, me fazer sentir culpada. Eu sei o que me fez engordar e o motivo da dificuldade de perder peso. Sei que minha saúde é muito boa, mesmo estando acima do peso, está tudo em ordem. Minha pressão é 9x6, por vida. E, mesmo que não fosse, não seria questão de culpa.  Então, tapem mesmo os ouvidos e deixem esse povinho falar. Porque, por mais que me suba uma raiva enorme, esse povinho nunca vai mudar... e me poupe, povinho é gentinha medíocre, com mente tacanha e pequena... isso merece crédito? Alguém que é incapaz de pensar, refeletir e ter bom senso? Se eu vou saber a causa ou não, é uma coisa. O fato é o que tenho: um embrião já sem vida que será expelido, naturalmente, a qualquer momento. Se é algo prazeroso? Lógico que não. Mas, é o que é e não preciso enfeitar nada, apenas precisei aceitar. Aceitar ajuda a curar a dor.

Aí, sim, agradeço a Deus por esse presente diário de ser amada e amar!

Boa sorte para todas as mães! Muita paz para todas nós! Eu continuo seguindo, respeitando o tempo das coisas. Respeitando meu momento e deixando que ela passe, naturalmente.

Saudações maternais,

Pat Lins.

domingo, 8 de maio de 2011

SER MÃE NA PRÁTICA - "fazer diferente exige muito mais que contradizer" (Morgana Gazel)

Engraçado que, quando estamos na qualidade de filhos, nos chateamos com as atitudes de nossas mães e sempre achamos tudo "excesso de zelo", afinal, "nós sabemos nos cuidar...". Repetimos várias vezes: "quando eu tiver meu filho, vou ser uma mãe diferente". Quem de nós nunca falou ou pensou assim, ao menos, uma vez na vida?

Acontece que, ser diferente, muitas vezes, nos leva a ser igual... Na condição de mães, observemos se acabamos ou não fazendo muitas coisas igualzinho, apenas em circunstâncias diferentes? Cometemos velhos erros; repetimos outros acertos; criamos erros novos; acertamos novos acertos... vamos tentando e fazendo o que podemos, muito mais do que o que sabemos que podemos. Como escreveu Morgana Gazel, em seu belíssimo livro Enseada do Segredo: "Fazer diferente exige mais que contradizer."

Na prática, ser mãe é saber que não se sabe de tudo, mas, tudo que sabe precisou procurar saber, afinal, ninguém é obrigado a saber tudo, mas, se informar é sempre bom.

Ser mãe, na prática, requer que nos vejamos e nos enxerguemos como humanas, acima de tudo e, daí, vem nossa suposta perfeição: da arte diária de se fazer e refazer, mesmo sendo imperfeita e limitada como qualquer outra pessoa. Nosso talento especial está em ser mãe e muito mais. 

Sejamos, pois, as melhores mães que pudermos. Não melhor do que outra mãe, mas, o melhor que há dentro de cada uma de nós. Infelizmente, nossos filhos serão quem eles tiverem de ser, mas, ser quem se é, sabendo que pode contar com a mãe para sempre, faz toda a diferença. Educamos indivíduos, seres com características pessoais próprias e únicas, e, raramente aceitamos isso... repetimos os padrões de querer ter a posse desses indivíduos e sofremos quando eles tomam seu rumo, porque esquecemos que os filhos não são nossos, são deles mesmo. Assim como nós saimos e seguimos nosso caminho, assim será com nossa prole. Mas, essa arte de ser mãe, não se deixa abater com isso, quando acontece: sofre, mas, continua com os braços abertos, porque sabe que, um dia, o filho vai voltar. Não aquele bebezinho indefeso, que precisava de nossa proteção em todos os sentidos, mas, homens e mulheres, donos de si, que devem estar repetindo aquilo tudo que já falamos na condição de filhos e tudo começa de novo. Mães e filhos só serão unidos se desenvolverem uma relação boa e saudável. Esse vínculo sim, é mágico e une para sempre. Não basta colocar no mundo, tem que participar. 

E, hoje, nosso dia - além dos outros 364... risos - podemos, cada uma ao seu momento - nos unirmos num único coro e elevarmos nossas vozes aos céus em pedidos de AMOR, HARMONIA, BONDADE, PAZ E SAÚDE para todo o planeta. Vamos unir nossas vozes com a voz daquela mãe que espera o tempo certo de todas as coisas: A MÃE NATUREZA. Que toda a sabedoria de todos os tempos nos guie em nosso tempo, para que possamos fazer deste presente um presnte melhor e, juntas, podemos ajudar na construção de uma futuro melhor. 

E, fazendo uso de uma frase de uma campanha de uma marca conhecida, na TV: 

"ENQUANTO TODO MUNDO TEM PRESSA, UMA MÃE, SIMPLESMENTE, ESPERA!"

 A gente espera para dar a luz; espera e acompanha cada etapa da vida de nossos filhos...; a gente espera que nossos filhos cresçam com bons valores e boas ações; a gente espera que eles entendam que fazemos por eles, o melhor que conseguimos e que, se "erramos", com certeza, foi tentando acertar. Filhos, não queremos que vocês sejam melhores do que ninguém, mas, o melhor que houver dentro de vocês! Que se superem e superem cada dificuldade na vida como obstáculos a serem superados e não eternizados em sofrimento. Esperamos que todo o mundo encontre o caminho do AMOR, da PAZ e do RESPEITO AO PRÓXIMO. Esperamos e fazemos, porque todas as MÃES, NA PRÁTICA, já estão fazendo algo, mesmo quando estamos esperando.

Mãe, parabéns, pelo seu dia!

Para todas as MÃES NA PRÁTICA:


UM FELIZ E ESPECIAL DIA DAS MÃES!!!

Saudações maternais,

Pat Lins.

sábado, 7 de maio de 2011

FELIZ DIA DAS MÃES

Bom, nem precisa repetir, dia das mães é todo dia... mas, ter um dia especial é bom!

Este ano, estou duplamente feliz, mas, estou cansada, por conta dos enjôos e não consigo escrever direito. 

Mas, desejar um FELIZ DIA DAS MÃES a todas as MÃES NA PRÁTICA, porque essa prática é uma arte de se fazer e refazer em tantas funções e papéis.

Saudações maternais,

Pat Lins.

domingo, 1 de maio de 2011

E TEM GENTE QUE ACHA QUE É FRESCURA

Hoje, parei no hospital. Estava fraca de tanto vomitar e uma acidez subindo pela garganta... estava triste, já.

Estamos bem, mas, precisava hidratar.

Detalhe é que ainda tem gente que acha que essa fase delicada do início da gravidez é frescura... Fora algumas grávidas que - graças a Deus - nunca enjoaram e desfazem das que passam por isso, menosprezando, como se as que enjoam assim fizessem por prazer. Se alguém soubesse o desgaste que é essa fase, teria mais compaixão.

Estou doida para voltar a escrever aqui, mas, só consigo falar dos enjôos e fica muito chato - risos.

Já, já, etarei de volta com algumas novidades!

Saudações maternais,

Pat Lins.

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