domingo, 31 de março de 2013

PAIS E FILHOS - APRENDIZADO: DESAFIO DIÁRIO



Eu e marido aprendemos a todo instante. Pedro aprende a todo instante.

Nós aprendemos com Pedro algo mais a aprender. Pedro aprende conosco. 

Nós o ensinamos algo novo a aprender. Ele nos ensina que sempre teremos muitos algos novos a aprender.

A gente ensina. A gente aprende. A gente aprende como ensinar. A gente aprende muito a ensinar. A gente ensina muito a aprender!

Pais e filhos, aprendizado e ensinamento: dualidade constante e concomitante!

Nosso caminho é de construção. O que não se sabe hoje, se aprende com o erro. Nesse caminho é assim, a gente aprende errando, porque aprende fazendo o que nem se sabe. 

Muitas vezes, procuramos um Norte, nem que seja para entendermos, depois, que precisamos ir para o Sul... a gente segue, indo, evoluindo! É isso que a gente faz: aprende seguindo sem seguir.

Pat Lins.


quinta-feira, 28 de março de 2013

MÃES NA PRÁTICA: FELIZ PÁSCOA!


FELIZ PÁSCOA!


Mais uma fase mundial para reflexão. Dizem que esses momentos são mais propícios para não só refletirmos, como para entendermos melhor essa reflexão. Tudo isso porque todo o mundo - até os que negam a existência do Cristo -, todas as religiões, todas as nações... todos estarão refletindo em algo bom. 

Então, que a mensagem da páscoa - a verdadeira, não a comercial dos ovos de páscoa com valor de ouro e que todo mundo fica doido para comprar, inclusive eu... - chegue até nossos corações e mentes. Que a lembrança de que não nascemos para sofrer e sim para merecer uma vida melhor a cada dia deixe de ser lembrança e passe a ser parte da nossa jornada nessa vida!

Desejo a todos que vejam o que houve na época da crucificação de Jesus e entendamos a mensagem de PERDÃO, COMPREENSÃO, HUMILDADE e AMOR! Foi para isso que o Cristo derramou seu sangue, para nos fazer entender que ninguém precisa sofrer se houver AMOR. Ele deu seu sangue por nós! Por que não entendemos isso e, mesmo depois de derramada cada gota, contiuamos sendo cruéis, distantes e "malvados", lavando as mãos para nós mesmos e para os nossos? Continuamos a desenvolver o orgulho e a vaidade e chamamos egoísmo, possessividade, ciúme... de amor! Ninguém entende o porquê de Jesus ter perdoado quem o traiu... mas, apenas Judas o traiu? Vale a pena a reflexão. O que fazemos, hoje, também não se caracteriza "traição" ao sangue derramado? Condenamos, julgamos em nome do bem - do bem próprio!

Que nesse período, não seja comer ou não carne mais importante do que refletir sobre a mensagem. Que não sejam os ovos de chocolate mais doces do que a vida. Comam e celebrem a fartura, mas, sejam gratos à natureza, porque nada que comemos surgiu do nada. Agradeçamos - quem assim o chama - a Deus, D´us, Jeová, Força Superior, Criador... duvido que Ele lá esteja preocupado com o nome que o chamamos. 

É época de renascimento, mais importante do que o da morte. A morte simbolizou a PASSAGEM - tradução ao pé da letra de PÁSCOA -  e início de uma nova fase. Que seja própera essa fase! Que seja abundante em alegrias e realizaões! A Páscoa é uma celebração muito antiga, de diversos povos, que comemorarm, sempre, alguma PASSAGEM - inclusive, como comemoração da libertação do povo de Israel da escravidão do Egito. A mensagem é sempre a mesma: PROSPERIDADE!

Desejo, de coração, que cada um plante e semeie o que há de melhor em si!

FELIZ PÁSCOA!

sábado, 16 de março de 2013

PEDRO E A CURA DO CÂNCER...


Pedro conversando com a tia-dinda:

- Tia Meirinha, você lembra de tia Nice? E quando é que a gente vai tirar os ossos dela de lá de Candeias? Ela vai voltar, você sabia? Ela vai voltar sim!

- Oh, Peu,  os ossos, só daqui a 3 anos...

- Daqui a três anos, tia Meirinha? É muito tempo...

Dali a um tempo, ele de novo:

- E... tia Meirinha, a gente vai poder tirar os ossos dela quando de lá?

- Peu, quando você tiver 9 anos, viu?

Depois e a gente começou a entender o motivo da inquietação:

- Quando eu crescer eu vou ser cientista. Vou descobrir um monte de remédio e curar doenças.

- E quais doenças, Peu, você vai querer curar?

- A que tia Nice teve. Depois, aí, eu vou lá e jogo o remédio nos ossos dela para ela voltar para a gente!

E antes disso tudo ele invocou:

- Tia Meirinha, você sabia que eu tenho uma missão aqui? Eu tenho uma grande missão!

Filho, se você se empenhar em ser uma pessoa de bem, pelo bem e para o bem, já será um grande homem! Deus te abençoe e ilumine, amorzinho!

Pat Lins.

quinta-feira, 14 de março de 2013

PEDRO E A PERDA/MORTE DE TIA NICE

Tia Nice e Peu com 2 meses.

Ontem, minha tia-dinda faleceu, após lutar muito contra um câncer de mama agressivo e, hoje, foi o enterro.

Como foi em outra cidade e toda a família e amigos iriam, levamos Peu, que foi tranquilamente - ele gosta de passear nessa cidade.

No início da manhã, enquanto nos arrumávamos, parei e dediquei um tempo para conversar com ele:

- Filho, você sabe o que está acontecendo?

- Sei sim!

- Lembra que tia Nice estava muito dodói e que estava sofrendo muito?

- Lembro.

- Pois é, agora ela não sofre mais! Ela dormiu para sempre, amor, e não vai mais estar aqui conosco. Hoje, vamos para Candeias porque o corpo dela vai para lá. Você sabe que quando a pessoa dorme assim para sempre, ela morre, lembra? Pois é... a gente... - e ele me interrompe:

- Tá mãe, já entendi! A gente vai enterrar ela, né?

- É isso filho. O corpo dela fica aqui e ela vai lá para o céu, lá para pertinho de Deus, ser feliz!

- Mãe, e ela vai naquela caixa?

- É caixão filhote. Vai sim.

- Lá tem a fonte dos milagres, lembra? Eu vou tomar banho lá, pego um pouco da água e jogo nela.

Depois, continuamos a nos arrumar e seguimos. Ele, conversando com minha outra tia, fala:

- Tia Meirinha, você precisa enfrentar seus medos. Você vai ver o esqueleto de tia Nice. Mas eu vou segurar sua mão, tia Meirinha.

E foi um dia de pérolas!

Indagou tudo o que podia.

Eu falei que ele ficaria numa área externa, que ele nem precisaria entrar para ver, porque ela estaria muito diferente. E ele:

- É mãe, eu vou querer entrar, sim. Precisamos comprar uma flor para levar para ela. Ah, tem que ser uma bem leve e sem sujeira embaixo - se referindo à terra, dos jarros de planta - para não sujá-la.

Lágrimas caíram dos meus olhos e ele, olhando em meus olhos, diz:

 - Vamos enxugar essas lágrimas? Pronto, assim fica melhor!

Eu explico:

- Filho, as lágrimas só estão me aliviando por dentro. Eu estou bem e já, já, essa dor e tristeza vão passar!

Daí, pegamos as flores e ele segurou nas mãos, pesando e fez expressão de satisfação, pois atendia ao primeiro requisito: era leve. Em seguida, passou a mão por baixo do jarrinho e disse: "ótimo! Limpinho!". Ou seja, atendia aos dois requisitos do "nhônhô"Peu.

Não teve quem o fizesse ficar do lado de fora. Ele já foi chegando e dizendo: 

- Tia Nice morreu, sabia? Mas ela vai voltar a viver. Agora só tem o corpo dela aqui, mas o coração e ela estão lá - e apontou para o céu azul e limpo. Depois ela volta para cá - e aponta para o chão.

Ele a olhou e levou a cada um que chegava para vê-la. Ela curtia esse jeito espontâneo dele. E parece que ele estava fazendo isso para agradá-la, sendo quem ele é.

Houve um momento em que ele perguntou:

- E se ela vai voltar - porque ela vai voltar - afirmava ele - se tampar o caixão, como ela vai sair dali? Ela vai ficar sem ar... Sem conseguir respirar.

Olha, queria lembrar de cada palavra alegre e de consolo ele falou... E registro aqui o máximo que me recordo, para que ele mesmo se leia no futuro.

Durante o fechamento do caixão, minha prima fez uma carta de despedida/homenagem e eu fui ler. Como estava tomada por uma forte emoção - entender que era o melhor para ela, após tanto sofrimento e a saudade que fica - lia aos prantos. Ele, que estava com uma amiga nossa, do lado de fora, entra correndo e me abraça. Só sinto aquela mãozinha gostosa me envolver e dizer:

- Mãe, chora não. Respira! Inspira! Expira. - enquanto todos sorriamos, ele manda - Pronto! Agora posso ir!

Saiu e falou para nossa amiga:

- Minha mãe estava chorando e mandei ela respirar. Se ela chorar de novo eu volto lá. - simples assim... Risos

Nossa amiga disse que ele estava jogando no tablet, quando me escutou falar chorando e disse:

- É minha mãe! Ela está chorando! Peraê que eu vou lá e volto!

Um lindo!

Durante o sepultamento, ele desceu que eu nem vi... Quando cheguei lá, ele estava a postos, de frente para a "carneira" e falava sem parar. Perguntava se ali havia mortos-vivos. Se o cimento era especial, para que quando a tia acordasse, pudesse se soltar dali... Ao ser alertado sobre não pisar em determinado local, pois estava enterrado um bebê, ele fala: "Ninguém pode pisar aqui por causa desse anjinho...". Reclamou com o coveiro, por não ter quebrado o bloco certo e avisou: "Viu? Você quebrou errado, por isso que não fecha...". Perguntava porque as letras dali não estavam ali e, ao que responderam que roubaram as letras, ele ordena: "Chamem a polícia!". Pedia para que lessem os nomes nas lápides...

Já na casa da minha tia-avó, ele manda: 

- Mãe, lembra o que tia Nice - a mesma que agora fora enterrada - me contou outro dia? Que quem morre vai para o céu e vira uma estrela? Ela está indo para o céu agora. Tia Nice vai virar uma estrela cadente, porque ela vai voltar para a Terra e terá que cair do céu...

Na estrada, de volta à nossa cidade - são próximas - já era noite e o céu escuro e ele grita:

- Olha, mãe, lá no céu! Uma estrela! Será que é tia Nice? Eu vou fazer um pedido: me manda um 'inatron'* de vida! E, mãe, você lembra da cartinha que Leleti escreveu para tia Nice? - referindo-se a uma carta/homenagem que minha prima escreveu. - Você pode falar tudo de novo, para eu ouvir? Eu gostei muito!

* - Inatron - para ele, que se diz um cientista, existem máquinas ou experiêcias para tudo que ele precisar...

E assim foi o dia do enterro... uma sucessão de pérolas de Peu - com certeza amanhã ou depois ou depois, lembrarei de mais e colocarei aqui - que deram o acalanto que precisávamos. Ele nos consolou de uma maneira peculiar, nos fazendo entender que é "simples, assim!". E com essa mesma simplicidade ele perguntava algumas pessoas: "Você lembra de tia Nice?", como quem queria que a gente entendesse e não sofresse, tipo: "é só lembrar dela.".

Ele convivia muito com ela e, por isso, para ele era simples assim só lembrar de coisas boas e lembrar que essas coisas boas devem ser lembradas!

Filho, obrigada por se revelar a cada dia um ser magnífico! Sua sensibilidade foi comovente e seu carinho imprescindível! Você nos ajudou a entender que a vida é muito mais importante do que a morte. Obrigada, por ser essa criança surpreendente! 

Pat Lins.

terça-feira, 12 de março de 2013

APRENDER: DESPERTAR DE UM DESEJO


Pedro vem nos ensinando - "nos" são todas as pessoas que convivem conosco e ele mesmo - o quanto o fator motivacional "desejo" - no sentido de vontade e não de ilusão ou fantasia - é preponderante a qualquer desavença entre pensamentos e teorizações do óbvio que nós adultos somos capazes de de dedicar nossas vidas pessoais e profissionais.

Já escrevi aqui sobre a saga do ano passado com alguns profissionais deslocados e sem conseguir adentrar na proposta teórica de suas funções num desafio de ordem prática - fica o alerta, aprender é uma coisa, saber fazer o que aprendeu, na prática, num desafio real é outra... e se esse distanciamento for grande, pode prejudicar alguém, principalmente uma criança que, por mais esperta que seja, é inocente pela pouca experiência de vida. 

Pois bem, este ano, Pedro começou com um comportamento melhor ainda. E com muita vontade de estar diante desse mundo maravilhoso de escrita e leitura. Na escola isso repercute, também. A professora já sinalizou esse dado novo. 

O que me chama a atenção é que, chegamos a pedir a transferência dele, no final do ano passado, mas após conversa com a direção, voltamos atrás num processo bacana e aberto de ajustes. Bom, quais ajustes? Essa é a minha pergunta... Tivemos uma reunião na última quarta, dia 6 de março, apenas com a dupla de coordenação e em meia hora o que nada tinha a ser colocado se foi exposto e atos falhos que me levam a questionar: e aí, houve auto-avaliação da instituição? As profissionais envolvidas "no caso" fizeram a reflexão de "estou disposta a me debruçar sobre essas crianças, vê-las como são e ajudá-las no processo do desabrochar?" ou manteve-se a postura arrogante de quem acredita que tem todas as respostas dentro de um título acadêmico e que o comportamento deve ser nivelado? Compreendo perfeitamente que como Pedro estava, sem parar, batendo nos colegas e na professora e etc atrapalhava a ele, bem como aos outros. E o que foi feito? Como agiram? 

Bom, na referida reunião, o primeiro comentário inquietante: "Pedro melhorou bastante. Como foi ele nas férias? (...) Mas, ele ainda não está como a gente quer!...", então, passei pinceladamente sobre as férias - elas têm a capacidade clara - e isso vem de relato de outros pais - em demonstrar que não estão te escutando, salvo quando se fala algo aterrorizante e suspeito... - e respondi: ... Lógico! Ele não iria se tornar um santo de uma hora para outra, nem é esse o nosso objetivo!" iria adiante, mas prometi não me estender... estamos começando o ano e não quero reviver toda a tensão e exaustão do ano passado... iria completar que quem canoniza é o Papa, não eu, nem elas. Bem, de verdade, um santo já nasce santo, independente de quem o afirme ser ou não... Peu, é gente!

Em seguida, me vem outro comentário: "Bom, a professora nos trouxe que ele está totalmente regular dentro da sala e de acordo com o que se espera. Mas, só temos 3 semanas e é muito pouco para avaliar..." - interessantíssimo! Ano passado, qualquer pouco tempo, 1 ou 2 dias eram suficientes para "provar" a culpa de um menino elétrico que é vítima de sua ansiedade excessiva e de uma inteligência acima da média e sua falta de controle sobre esses rompantes. 

O terceiro comentário que me chamou a atenção é de dar risada: "Ele tem melhorado muito mas a coordenação motora fina dele precisa ser bem trabalhada... Ele precisa deixar de fazer o 8 com duas bolinhas e fazer o movimento do S..." ou seja, o que ele consegue fazer não vale, só vale o que ele não consegue: punam-no! Eu, antes de ter uma noção sobre "coach", falava - e falei todo o ano passado - que elas deveriam ver o que ele tem e adentrá-lo por ali até ajudá-lo a desenvolver o que ele "não consegue" - e não o que ele "não tem" como elas colocam - e, hoje, entendo que se trata de uma prática de peak performance, onde pela avaliação e levantamento de situações com desfeches positivos, se ajuda as com desfechos negativos. Será que profissionais tão bem qualificados academicamente estão dispostos a desenrolar isso, mesmo? Ainda que numa escola que prega "não trabalhar a inclusão porque não trabalha a exclusão", na prática isso acontece? Quando ele entrou na escola, afirmaram num discurso convincente e bonitinho, através de uma charge - que não encontro em lugar algum - de várias pessoas diferentes entrando numa máquina e saindo todas iguais, de que ali não se trabalhava daquele jeito, massificando e sim de acordo com as peculiaridades de cada um. Porém - sempre existe um porém como justificativa... - algumas questões poderiam ser levada em conta: 1 - os tempos são outros e as crianças, também; 2 - ninguém está preparado para toda demanda, mas pode se empenhar em tentar lidar com ela, considerando que o que "sabe" não basta...; 3 - a escola fica numa posição central, dentro do bairro onde se localiza e o bairro cresceu ao redor dela, ou seja, o público dela mudou... por uma questão de proximidade e por ser considerada uma escola muito boa, os pais matriculam os filhos lá e cobram atitudes de uma escola tradicional... Isso deixa de ser uma pressão sobre como conduzir e se ajustar à nov realidade? 

Pois bem, o quarto e último comentário também me fez arrepiar: "A rotina dele é muito importante. É importante desenvolver essa rotina...". Tá, pergunto: "Que rotina? Porque ele tem uma rotina muito bem definida e seguida, bem como flexibilizada quando necessário, porque não é exercito..." e como resposta? Silêncio e troca de olhares gritantes entre elas. Não vou entrar nesse jogo bobo. Francamente, duas profissionais pelas quais a direção coloca a mão no fogo agindo assim... O que me deixa tranquila é que a professora deste ano não está abalada emocionalmente como a do ano anterior - que era uma excelente professora, mas com problemas pessoais notórios em seu jeito estressado de falar e acirrado pelo desafio Pedro Henrique - e tem uma postura muito firme. O trabalho que ELA desenvolve o envolve e ele se desenvolve. Isso seria ou não um "algo" a ser verificado, observado de longe e de perto - de nada adianta se observar apenas de longe, é preciso comprovar e esclarecer de perto... senão  compromete a imparcialidade da observação - e refletir mesmo sobre as falhas do ano passado que foram exclusivas da relação dessa parte da equipe com alguns alunos-problema. 

Pois é... quando nos esbarramos nessa questão da posição unilateral da escola em abrir um inquérito de "prove que ele melhorou o comportamento" e quer condenar o pequeno ser em vez de conhecê-lo, dá nisso, na repetição do mesmo problema em um novo contexto: a melhora no comportamento de Pedro é inquestionável, PÚBLICO e notório. Isso é campanha de "veja meu filho" ou alerta do "veja que é possível, unam-se a nós e vamos ajudá-lo em parceria?". Eu vejo como a união, elas ainda enxergam pelo viés do estigma e set criado por elas mesmas: "Isso é coisa de mãe...". E a criança? Está protegida , dentro daquela instituição, por ela mesma, que demostrou grandeza e pediu para continuar na escola, pela professora deste ano e pela equipe de apoio. E protegida de quem? Dessa coordenação que está no meio e sem saber como ajudar, nem admitindo que precisam de ajuda... Na verdade, para elas, cegos somos TODOS nós - eu, o pai, a psi dele, o pessoal da equoterapia que viu o progresso dele e colaboraram muito, a família, os amigos, os vizinhos... e a professora - que não vêem o que elas estão vendo.

Eu, acredito no que estou vendo dele, seja com 8 em forma de um bolinha em cima e outra embaixo ou em forma de S... desde que ele saiba o que é um 8.

E 8 é o símbolo do infinito, né? Que sejam infinitas as possibilidades de aprendizado e ensinamento que ele nos traz. Eu estou ao lado, como parceira firme e mãe zelosa, fazendo o que for preciso para ele se desenvolver e ter autonomia para lidar com os desafios. Eu? Vejo um despertar de novos desejos nele e com isso a vontade de apreender e fazer. Isso deve ou não ser valorizado, incentivado? 

O importante é ter um objetivo e se dedicar a saber como fazê-lo real!

Pat Lins.

domingo, 10 de março de 2013

3 ANOS DE MÃES NA PRÁTICA!

3 ANOS - MÃES NA PRÁTICA!

Hoje, completamos 3 anos!

Parabéns para cada uma de nós, mães do dia a dia; mães que se constroem a cada dia; a nós MÃES NA PRÁTICA! 

Mães, humanas, errantes, "acertantes", participantes dessa arte diária de aprender e, algumas muitas vezes, desaprender para construir. 

Fazemos parte de uma época especial, de mudanças e nem nos damos conta... 

Somos as mães dos filhos do futuro. E como queremos esse futuro? Repetição dos erros do passado ou através da construção de um hoje mais aberto e acolhedor de possíveis melhoras, mudanças... transformações?

Erramos ontem? Consertamos hoje! Aprendemos! Seguimos! Vivemos!

Parabéns a cada mãe. Parabéns a cada pai! Parabéns aos avós! Parabéns a quem colabora, diariamente, na prática com a (re)(des)construção de uma nova geração, de um mais um grupo de esperança, sem descarregarmos neles a expectativa dessa transformação mundial. Eles podem fazer essa melhoria! Nós podemos fazer essa melhoria!

TODOS estamos juntos nesse movimento diário de DEIXAR UM MUNDO MELHOR PARA OS NOSSOS FILHOS E FILHOS MELHORES NESTE MUNDO - a começar por cada um de nós: filhos e pais/mães.

Somos dualidade. Somos pluralidade. Somos gente! Somos MÃES NA PRÁTICA!

PARABÉNS! O PRESENTE É NOSSO. O PRESENTE DIÁRIO DE FAZER CADA DIA, UM NOVO DIA NOVO, DE NOVO!

Saudações maternais,

Pat Lins.

3 anos de MÃES NA PRÁTICA!

CRIANÇAS ATUAIS, SEUS PAIS/MÃES, COBRANÇAS SOCIAIS E DIAGNÓSTICOS APRESSADOS


Desde que meu filho nasceu, sempre foi muito elétrico e altamente "ligado". Muito sorridente, feliz e brincalhão.

Foi crescendo e, com 3 anos, eu estava exausta de tantos questionamentos. Ele sempre foi muito precoce. Começou a falar cedo e se expressava muito bem para a pouca idade. Não parava quieto. Na escola, então... Só que ele aprendia tudo muito rápido. A primeira professora dele sugeriu, por garantia, que o levássemos a uma neuro-pediatra, a fim de nos certificarmos se ele era TDAH. Segundo ela, a questão era o fato dele ser muito inteligente e isso não cabia no corpinho limitado de um menino de 3 anos. Procurei a pediatra dele e ela me afirmou que o fato dele ser agitado não queria dizer se hiperativo - TDAH - e que ele era muito inteligente e com uma capacidade cognitiva acima da idade dele. Mas, como eu queria, fui na APAE. Na consulta com a neuro, ele não só respondia o que ela perguntava como a indagava sobre cada pergunta. A fase do "por quê?", tão comum a todas as crianças, na dele era diferente: "Por quê? E se...". Uma resposta evasiva, para ele não, era resposta, tinha que ser consistente. Pois bem, ela me deu a requisição para o eletro. Me advertiu da possibilidade dele ter que tomar um remedinho para dormir, pois como ele era acelerado, isso comprometeria o resultado. Aí, eu questionei se não poderia tentar com ele sem medicamento e, apenas em extrema necessidade tomaria. Ela retrucou e me disse taxativamente: "Eu conheço um hiperativo quando ele pisa na soleira dessa porta... Se quiser, tente, mas já vou avisando, não vai dar certo!". Fui à sala do exame e a técnica começou o exame, sem o remédio, porque a primeira fase é acordado. Ela era tão jeitosa e paciente que ele ficou quietinho. Ela mesma me pediu para tentar continuar sem o remédio para dormir. E foi feito. Ele fez tudo que ela pediu, com 3 anos de idade. Colaborou como um adulto. Ela me disse que se surpreendeu desde a hora que ele deitou na maca, pelo fato dele ter colaborado numa boa e que "...crianças quietas davam muito trabalho para fazer aquele exame, imagina os agitados... E ele está ótimo! Parabéns, Peu!". Pois, depois, já com o resultado em mãos, levei para a neuro e ela me disse, meio contrariada, que estava tudo OK com ele. Me sugeriu psicoterapia porque ele poderia ser ansioso ou muito inteligente e, por isso, fosse tão agitado, mas que mesmo assim, se eu quisesse, ela passaria um medicamento, para ele ficar mais calmo. Eu perguntei se ele tinha algum problema e ela não queria me dizer e ela me afirmou que não, apenas me sugeriu o medicamento porque muitas mães não "aguentam o trampo" e pedem socorro... Eu disse que dispensava, exceto pelo fato de ser necessário. Ela insistiu até eu sair da sala e me perguntou: "Você vai aguentar o trampo?" e eu respondo: "Sei não. Mas medicamento para uma criança que não precisa eu me recuso a dar!". Fechei a porta e nunca mais pisei lá!

No ano seguinte, eu engravidei e perdi o bebê. Peu desencadeou uma agressividade anormal. Na escola ele batia em todos - inclusive na professora. Mesmo sem condição de pagar a psicoterapia, pedi a escola que me indicasse alguém e foi quando tive a oportunidade de conhecer a psi dele - com quem está até hoje! - e que não teve pressa em fechar diagnóstico, ela se ateve a conhecê-lo e conhecê-lo, não em tachá-lo ou enquadrá-lo em algo. O TDAH foi descartado no ano passado. O comportamento dele vem dando melhoras com a psicoterapia, atividade física especializada - inclusive, ele fez EQUOTERAPIA por 4 meses e, desde o primeiro mês, a melhora na diminuição da ansiedade foi notada... exceto na escola, local onde ele mantinha o padrão de "terror" e, hoje, faz FUN KIDS -, rotina da casa e muito empenho da gente, de algumas pessoas na escola, de amigos... posso afirmar que tenho um batalhão, ou uma companhia mult-pluri-interdisciplinar formada por amigos e conhecidos especialistas, como pedagogos, psicólogos e muito mais e muiittttoooo amor. Fora o fato dele estar crescendo e ficando mais consciente do seu papel.

O que me fez escrever este post - já havia manifestado minha preocupação em 2010, pouco depois da consulta com a neuro-pediatra: HIPERATIVIDADE OU HIPER ATIVIDADE?  - foi a matéria do "Fantástico" sobre TDAH e diagnósticos errados e como isso compromete o desempenho de uma criança e de uma adulto - afinal, toda criança é um futuro adulto. 

Drauzio explica o TDAH e mostra como superar as dificuldades do transtorno

O doutor Drauzio Varella explica por que tantas crianças estão recebendo um diagnóstico errado da doença.

Um alerta muito interessante é feito pelo piscanalista Chrsitian Dunker: 

"Não só no Brasil, é uma tendência mundial, a criança está sendo supermedicada. Essa idéia de diagnosticar rápido, tratar rápido, tratar o quanto antes... criar uma criança de alto desempenho... A gente precisa olhar com um pouco mais de cuidado em relação a isso.".

E isso me levou a um "papo" maravilhoso que tive, ontem, com Jaime Sodré - historiador e escritor, acima de tudo, uma pessoa brilhante, coerente, íntegro e de uma sabedoria natural impressionantes - onde ele falava sobre as "crianças de hoje em dia", por conta de algumas atitudes de Peu que eu, reclamando e ele me adverte: "Minha amiga, você percebeu que está repetindo aquilo que você aprendeu lá atrás...? Você poderia ter reparado, antes, que ele foi extremamente inteligente, sagaz e muito esperto! Veja a cognição dele: 1 - ele viu onde abria a porta do estúdio. 2 - Ele viu que ele não tinha altura. 3 - Ele viu que o braço dele não alcançava. 4 - Ele viu a alavanca debaixo e pensou rápido: subo ali, abaixo a de cima e, depois, desço e abro a debaixo... E fez. Ele é muito inteligente, esse menino! E você acha que educar uma criança dessa geração como nós, do século passado, vai funcionar? Perceba: elogie a capacidade que ele teve de pensar, ver um obstáculo e agir, sem se machucar, com tudo calculado e com segurança, depois, explique para ele que apesar dele ser capaz de fazer isso tudo, ele precisa entender que ali é um programa de rádio, que está sendo transmitido ao vivo e que não é lugar de brincadeira...". 

As crianças de hoje em dia demandam de nós uma ruptura. Se isso não é um bom motivo para ficarmos alerta em vez de "doentificar" a criança, o que é, então? Sei que diagnosticar é importantíssimo. Não é esse o ponto. O ponto é como esse diagnóstico é feito? Com cuidado? Com pressa? 

A cobrança de pessoas massificadas e "iguais" vem em contradição à demagogia instalada de que o estímulo às diferenças é que fará a diferença positiva... Será? Será que estamos preparados - ou dispostos a nos preparar - para lidar com as crianças de hoje em dia, com as cobranças exageradas e estressantes, a lidar com a pressa. Aceitar as diferenças é muito mais difícil do que nos damos conta. E aceitar que nem toda diferença peculiar é uma doença e precisa ser medicada, apenas bem acompanhada, é mais difícil ainda. 

Podemos começar a refletir sobre essas questões: se um mundo novo e melhor se faz necessário, qual o meu papel nesse processo de mudança?

Saudações maternais,

Pat Lins.

sábado, 9 de março de 2013

CUIDADOS NA GESTAÇÃO - DESDE A SAÚDE DA FAMÍLIA


Em pleno dia internacional da mulher, me peguei a refletir sobre os cuidados com os filhos. Eles devem existir desde quando somos filhos/as.

O país deve colocar em prática o que só aparece em propagandas lindas e bem elaboradas!

Se queremos condições para criarmos nossos filhos, a pátria mãe clama por cidadãos e políticos mais conscientes do que vem a ser DIREITOS e DEVERES. 

Nós, mães, precisamos de melhores condições para cuidar dos nossos pequenos futuros grandes.

É ridículo, cada dia mais, sermos punidas com condições de trabalhos desleais e desrespeitosas com homens e mulheres! Estava vendo uma reportagem sobre o fato de se mudar a licença maternidade e nivelar com padrões europeus e, em seguida, vi uma sobre o questionamento a respeito de uma enfermeira que estava em aviso prévio e engravidou, ganhando a causa na justiça... O comentário sensato - não deixou de ser - foi que isso pode ser um efeito negativo para o processo seletivo que envolva mulheres. Isso é um absurdo! Inclusive, os pais também deveríam ter essa licença. Ninguém está falando em férias, mas licença para estar junto de um pequeno ser, indefeso e que nasce cheio de energia, enquanto as mães estão exaustas... 

A sensação que tenho é que a cegueira empresarial vai além do limite... imagino as mães dos legisladores brasileiros... ou os deixaram à toa e eles, complexados com esse abandono revidam em todos, ou são verdadeiros filhos do nada, rebentos da infelicidade.

Se queremos uma nação de gente forte e consciente, é preciso correr riscos e colocar em prática as boas condições em saúde, educação, alimentação, cultura/arte e lazer. 

Às vezes penso que os politicos brasileiros, esses sim, em sua maioria, não são humanos... 

Pat Lins.

DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) - Por Drauzio Varella




DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE (TDAH)

Mario Louzã é médico, coordenador do PRODATH, Projeto de Déficit de Atenção e Hiperatividade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
Meu filho não para quieto nem para comer. Desde o instante em que se levanta até a hora em que vai dormir, anda de um lado para o outro, pula, sobe nos móveis, derruba as cadeiras que encontra pelo caminho, corre pela casa. Seu quarto é um verdadeiro caos. Espalha roupas e objetos, mesmo aqueles que não está usando no momento, revira as gavetas, não fecha as portas dos armários.
No colégio, então, é um terror. Sua agitação incomoda os colegas e prejudica os relacionamentos. A desatenção e a inquietude interferem também no rendimento escolar. Não termina as lições, comete erros grosseiros nos exercícios e redações, esquece conteúdos que dominava satisfatoriamente um dia antes, rasga a folha da prova de tantas vezes que apaga as respostas.
Geralmente, essas queixas caracterizam os portadores do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), uma doença que acomete as crianças, mas que pode prosseguir pela a vida adulta, comprometendo o desempenho profissional, familiar e afetivo dessas pessoas.

Sintomas e diagnóstico
Drauzio – Em geral, as crianças são travessas e desatentas. Como se estabelece o limite entre a desatenção e inquietude próprias da idade e o comportamento potencialmente patológico?
Mario Louzã – À medida que a criança vai crescendo, aumenta o nível de exigência sobre ela. No entanto, o típico é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) ficar evidente quando ela vai para a escola. Normalmente, a criança consegue permanecer sentada na carteira da sala de aula, prestar atenção no que a professora fala, tomar nota, fazer exercícios e aprender as lições. A hiperativa, no entanto, com déficit de atenção não para quieta e comete erros por distração. Muitas vezes, fica evidente que ela sabe a matéria, mas não acerta as repostas, porque está distraída.
Existem casos mais leves da doença que eventualmente podem ser contornados apenas com medidas pedagógicas e há os mais graves que exigem tratamento medicamentoso.
Drauzio – Quem percebe primeiro o problema? Os pais em casa ou a professora na escola?
Mario Louzã – Para fazer o diagnóstico de déficit de atenção e hiperatividade, os sintomas precisam manifestar-se em dois ambientes distintos. Em geral, eles ocorrem em casa e na escola. A mãe, que geralmente acompanha a criança nos deveres de casa, percebe a agitação e a demora para fazer as tarefas. A professora nota o mesmo comportamento na escola. Por isso, pais e professores são bons informantes para ajudar o médico que observa a criança no consultório.
Drauzio – O déficit de atenção sempre começa na infância ou pode instalar-se mais tardiamente?
Mario Louzã – Por definição, a criança já nasce com a doença, tanto que para fazer o diagnóstico em outras fases da vida é preciso investigar como foi a evolução da enfermidade na infância.
O TDAH jamais se inicia quando o indivíduo é adulto. Ao contrário. Em geral, evolui com melhora dos sintomas, tanto que até alguns anos atrás acreditava-se que desaparecia com o crescimento. Hoje se sabe que, apesar de diminuírem o número e a intensidade dos sintomas nos adolescentes e adultos, parte das crianças continua com o problema por toda a vida e apresenta as dificuldades decorrentes da doença.
É importante lembrar que, quando se fala hiperatividade, estamos nos referido a dois sintomas agregados: a hiperatividade propriamente dita e a impulsividade.
Drauzio – Você poderia explicar o que isso significa?
Mario Louzã – Basicamente na criança, a hiperatividade está ligada à motricidade, aos movimentos. É a criança agitada, que não para quieta um segundo sequer, com o bicho carpinteiro, como dizem as pessoas. Já a impulsividade se caracteriza pelo agir sem pensar. Crianças hiperativas se machucam mais, sofrem mais acidentes, porque são intempestivas. Não têm paciência nenhuma, interrompem quem está falando, intrometem-se na conversa alheia. Esse é um sintoma que se manifesta também nos adolescentes e adultos.
Drauzio – Vocês falam déficit de atenção/hiperatividade. Essas duas coisas estão sempre associadas?
Mario Louzã – A síndrome tem esses dois sintomas básicos. Pode predominar um deles, mas em boa parte dos casos tanto o déficit de atenção quanto a hiperatividade estão presentes.

TDAH nos adultos
Drauzio – Você recebe um adulto que se queixa de ser muito distraído e que isso está atrapalhando sua vida. No entanto, o problema passou despercebido na infância e adolescência. Como você encaminha o diagnóstico nesse caso?
Mario Louzã – Essa é uma situação bastante comum. Há pessoas com déficit de atenção e hiperatividade que passam a vida toda sem terem sido diagnosticadas. Dá para imaginar quantos obstáculos precisaram vencer para chegar à universidade, por exemplo?
Na verdade, as queixas dos adultos são as mesmas das crianças: distração, dificuldade para concentrar-se, baixo rendimento no trabalho, impulsividade. Agem sem pensar e depois se arrependem do que fizeram.
O primeiro passo para o diagnóstico nessa faixa de idade é levantar uma história e tentar obter o máximo possível de dados sobre a infância da pessoa. É importante saber se, na escola, a professora reclamava de sua indisciplina, se era desorganizada, apresentava lições mal feitas, tinha os cadernos soltos, bagunçados e o material em desordem.
Nem sempre é fácil conseguir tais informações. Às vezes, a própria pessoa não tem lembrança clara de como eram as coisas. Uma saída é recorrer a informantes que lhe sejam próximos. Se os pais estão vivos, podem ser fonte importante de consulta.
Para o diagnóstico, levam-se em conta também as queixas atuais: o trabalho que não rende, a dificuldade para concentrar-se na leitura de um texto mais longo ou realizar as tarefas do dia a dia, o incômodo por ficar sentada numa reunião mais prolongada ou monótona, a dificuldade para assistir a uma aula na faculdade ou a um curso que exija concentração e permanência numa posição constante. Tudo isso somado ao fato de que se esquece dos compromissos e de pagar as contas. Delinear esse conjunto de dados possibilita reconhecer um quadro de déficit de atenção e hiperatividade no adulto.
Drauzio – Esses dados que você citou são queixas que se ouvem muito no mundo moderno. As pessoas reclamam que não rendem no trabalho, não se concentram porque os estímulos são muitos e não têm paciência para reuniões prolongadas. Como profissional, o que lhe permite estabelecer a diferença entre o comportamento que resulta das atribulações da vida e o que é realmente patológico?
Mario Louzã – Existem de fato alguns casos que estão no limite entre o que seria, digamos, o esperado para a população adulta no momento e o patológico que exige tratamento. Vale destacar que, no adulto, a dificuldade e as queixas vêm da infância. Mais velho, quando o quadro da doença é bem definido, ele se compara com seus pares e percebe que os colegas fazem o mesmo trabalho na metade do tempo, não esquecem a maioria dos compromissos, não atrasam. Já ele é um atrasado contumaz, um desorganizado. A conta está em cima da mesa, mas ele se esquece de levá-la e perde o prazo do pagamento. Não são coisas que acontecem de vez em quando. Acontecem sempre e passam a sensação de fracasso constante, de rendimento inferior à real capacidade de produzir.

Papel da genética
Drauzio – Há maior concentração de casos desse transtorno em determinadas famílias?
Mario Louzã – A genética tem papel importante na incidência do TDAH, embora sozinha não seja suficiente para explicar a doença. Quando se rastreia a família de um paciente, é muito comum encontrar outros casos de déficit de atenção e hiperatividade. Às vezes, enquanto fazemos o diagnóstico de uma criança, os pais percebem que também foram ou são portadores daqueles sintomas e os prejuízos que podem ter causado em suas vidas.
Drauzio – Além da genética, quais são os outros fatores implicados?
Mario Louzã – Os fatores ambientais são menos conhecidos. Imagina-se serem fatores que atuem de alguma forma no sistema nervoso central, no cérebro, na fase de desenvolvimento embrionário ou talvez no início da vida. No entanto, eles não foram claramente definidos.
Drauzio – É possível estabelecer algum tipo de alteração morfológica no cérebro associada ao TDAH?
Mario Louzã – Existem trabalhos que mostram diferenças em áreas do cérebro nas crianças com TDAH, se comparadas com um grupo de crianças sem a doença. Entretanto, é importante salientar que o diagnóstico é eminentemente clínico, baseado nas queixas da pessoa e em sua história de vida. Exames radiológicos, raios X, tomografia ou eletroencefalograma (exame pedido com muita frequência) não ajudam a esclarecer o diagnóstico, seja em crianças, seja em adultos.

Associação com outras doenças
Drauzio – O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade pode estar associado a outros distúrbios psiquiátricos como depressão ou transtorno bipolar?
Mario Louzã – Pode. É típico do TDAH estar associado a outras doenças qualquer que seja a faixa de idade do paciente. Nas crianças, além da ansiedade, aparecem os transtornos de conduta que não decorrem só da distração. São dificuldades de aprendizado específicas como dislexia (dificuldade para compreender o que lê), disgrafia (dificuldade para escrever), discalculia (dificuldade para fazer cálculos).
Nos adolescentes, o problema maior é a tendência ao abuso de drogas. Não existe uma explicação clara para o fato. Os estudos mostram, porém, que a partir da adolescência o uso de drogas nos portadores de TDAH é mais frequente, se comparados com os indivíduos sadios.
Drauzio – Algum tipo específico de droga?
Mario Louzã – Não existe especificidade. A tendência é ao abuso de drogas em geral.
Drauzio – Imaginei que talvez a maconha fosse a droga de predileção desses pacientes, porque a cocaína os deixaria mais agitados ainda.
Mario Louzã – Por estranho que pareça, o consumo de cocaína é comum entre eles. Sob a ação da droga, ficam mais atentos, mais concentrados. Aí, entra um aspecto interessante dessa doença. Os estimulantes diminuem a hiperatividade e a desatenção tanto que o tratamento é feito com uma medicação que contenha esse tipo de substância.

Tratamento
Drauzio – Você recebe um adulto muito agitado, com dificuldade de concentração, baixo rendimento no trabalho e a cabeça girando com múltiplos problemas. Ele conta que isso acontece desde a infância. Qual o primeiro passo para dar início ao tratamento?
Mario Louzã – Fechado o diagnóstico de TDAH, é preciso examinar se não existem outras doenças associadas. Nos adultos, as mais frequentes são ansiedade e depressão e o tratamento vai depender de como esses fatores combinam.
Nessa faixa de idade, o tratamento medicamentoso associado à abordagem psicoterápica ajuda a controlar a doença. O mais comum é prescrever psicoestimulantes (no Brasil há um único medicamento com essa característica) e alguns antidepressivos.
Na infância, o tratamento é mais complexo e envolve frequentemente equipe multidisciplinar, pois requer também a aplicação de medidas pedagógicas e comportamentais.
Drauzio – A medicação é usada por quanto tempo?
Mario Louzã – Se o paciente é uma criança, o ideal é acompanhar a evolução do caso para ver se há melhora com o crescimento. Estudos mostram que até a idade adulta os sintomas diminuem e que, em metade dos portadores de TDAH, desaparecem espontaneamente. Se persistirem no adulto, provavelmente o quadro estará estabilizado.
Como não faz muito tempo que os adultos portadores de TDAH estão sendo estudados, temos pouca informação de como evoluem até os 70 ou 80 anos. No entanto, a hipótese é que os sintomas continuam sempre os mesmos por toda a vida. Desse modo, pode-se afirmar que o tratamento deve ser mantido indefinidamente.
Drauzio – Os medicamentos disponíveis para TDAH provocam efeitos colaterais?
Mario Louzã – De maneira geral, os efeitos colaterais são leves e ocorrem no início do tratamento. Depois, o organismo se ajusta e é boa a tolerância aos medicamentos.
Drauzio – O paciente nota logo os efeitos benéficos dos medicamentos?
Mario Louzã – Isso depende do medicamento que está sendo usado. Geralmente, em algumas semanas, o paciente percebe melhora na atenção e na capacidade de ficar sentado. Percebe que passou a produzir melhor no trabalho e a não cometer os erros que cometia antes. TDAH é uma doença psiquiátrica cujo tratamento dá resultados bastante satisfatórios nas crianças, adolescentes e adultos.
Drauzio – Não parece paradoxal tratar uma pessoa hiperativa com remédios psicoestimulantes?
Mario Louzã – Soa paradoxal, mas atende ao que se supõe ser o mecanismo da doença: a falta de uma ação inibitória do sistema nervoso central sobre algumas áreas. Portanto, quando se estimula a inibição, aumenta o controle da atenção, da atividade motora e da impulsividade.
Drauzio – Você disse que o tratamento envolve uso de medicamentos e psicoterapia. Qual é o objetivo da psicoterapia nesses casos?
Mario Louzã – Nos adultos, a psicoterapia não visa exatamente à doença, mas à pessoa que tem déficit de atenção e hiperatividade. O que acontece frequentemente é que sua história de vida é marcada por insucessos acumulados ao longo dos anos. São falhas no dia a dia, mau desempenho escolar, repetência, suspensões. Depois, vêm problemas no trabalho e na organização das atividades. A longo prazo, isso gera um sentimento de fracasso muito grande, faz cair a autoestima e pode trazer dificuldades para lidar com situações emocionais.

Incidência nos dois sexos
Drauzio – Como é a distribuição da doença entre os gêneros, ou seja, entre homens e mulheres?
Mario Louzã – Pode-se dizer que, na infância, há prevalência dos meninos sobre as meninas. No entanto há os que discutem essa afirmação, alegando que TDAH fica mais evidente nos meninos, porque eles são naturalmente mais hiperativos e incomodam mais do que as garotas. Argumentam, ainda, que elas tendem mais à distração, sem apresentar o componente da hiperatividade. Desse modo, nelas, o risco de que o problema passe despercebido é maior.
O fato é que estudos epidemiológicos feitos em clínicas que recebem esses pacientes revelam a prevalência um pouco maior da doença nos meninos. Quando chega a idade adulta, porém, a incidência de TDAH é aparentemente igual nos dois sexos.

Considerações finais
Drauzio – Que dicas você dá aos portadores de TDAH?
Mario Louzã – Muitas vezes, as pessoas não reconhecem suas falhas de atenção como uma doença passível de tratamento. Elas as incorporam como características de personalidade, como seu jeitão de ser.  Admitir que possam ser sintomas de uma doença é o primeiro passo para buscar ajuda e tratamento e contornar o problema.
Além disso, é fundamental criar estratégias para compensar a desorganização natural e a falta de atenção dessas pessoas. Quanto mais rotineiras e sistemáticas forem, melhor será seu desempenho nas diferentes áreas.
De modo geral, os adultos com déficit de atenção e hiperatividade já desenvolveram algumas técnicas para lidar com as próprias dificuldades. Como sabem que são distraídos, anotam com cuidado os compromissos na agenda, criam hábitos como deixar os objetos sempre no mesmo lugar e estabelecem determinadas rotinas na vida.
Em relação às crianças, desenvolver essas atitudes comportamentais irá ajudá-las a organizar-se melhor. Outra dica importante é reconhecer os danos à autoestima que a doença provocou e procurar uma abordagem psicológica.


sexta-feira, 8 de março de 2013

domingo, 3 de março de 2013

AVANÇO TECNOLÓGICO - CADA ÉPOCA COM SUA (R)EVOLUÇÃO

Imagem: Adoção da tecnologia no ensino alcança resultados  cada vez melhores -  Informationweek


Assistindo ao Fantástico, deste domingo - 03 de março de 2013 - sobre: "Investir em tecnologia melhora o ensino?", me vi pensando: toda época tem seu avanço tecnológico, desde sempre! Foi na necessidade de se cobrir o corpo, para proteção contra o frio que a roupa foi inventada; seja na invenção da roda, para facilitar o levar algo... enfim, cada época, grupos de precursores - de uns tempos para cá, chamados pela ciência de "gênios" ou, em casos de máquinas e afins: protótipos - acaba nadando contra a correnteza da acomodação e vai além, vendo além do óbvio instalado pela rotina - nada contra a rotina, ela é tão importante quanto rompê-la diante da necessidade da evolução, sendo esta "evolução" mesmo ou não...

Pois é, hoje, usar ou não tecnologia na escola; substituir ou não provas e questionamentos que teorizam o óbvio e gravitam muito mais na limitação dos pensamentos do que na órbita do "vamos saber o que temos hoje e ir além" por jogos que estimulem o raciocínio... o que ensinar? O que é importante aprender? Houve época em que registrar, apenas oralmente e de geração para geração. Quantas culturas se perderam por não haver um registro? O medo, com a revolução da descoberta do papiro, de se perder o controle, o medo de perder o poder. Lógico que nem tudo é para todo mundo, que nem todos têm a capacidade de lidar com a responsabilidade de certos conhecimentos... mas, será que os que detêm esse conhecimento e alimentam esse sigilo também têm essa consciência da responsabilidade ou não passa do medo comprometedor do poder que detêm? 

Bom, vou me ater à matéria super bacana do Fantástico. E volto a lembrar: o que hoje é polêmica, amanhã será a realidade... já não em papiro, mas num ambiente virtual e quase infinito.

Cada época com a sua (r)evolução tecnológica. Um dia, quem sabe, superaremos essa limitação e até o físico transcenderá? Eu acredito que um dia, breve, nos comunicaremos por telepatia... Até lá, abaixo o orgulho, a vaidade, e outros sentimentozinhos impeditivos...

Façamos nosso melhor hoje! Aqui e agora tudo pode mudar! O amanhã é o hoje que inevitavelmente chega! Medo de quê? Vamos tentar o que é válido. Vai me dizer que toda linha de educação, quando fora criada, não teve lá suas especulações e negativismos como barreira? Vygotsky, Piaget e tantos outros, foram aceitos com facilidade? Até hoje ainda encontram resistência. E quem resiste está errado? Quem os segue, está certo? Vai saber! O importante é tentar. Há público para tudo. Para essa geração atual, de crianças que nascem intuitivamente tecnológicas, essa educação formal vai dar conta? Tudo é questionável. Tudo é questionamento. Tem como frear o avanço? Como resistir ao que não depende de atos individuais? E aí, é parar ou seguir? No mínimo experimentar.

E aí, investir em tecnologia melhora o ensino? Melhora o aprendizado? Isoladamente, eu penso que não, mas num contexto preparado, creio que sim. É identificar a necessidade do público alvo... qual a linguagem dessa turminha que está aí?

Ah, educação para mim vai além da escolar e acadêmica... 

Pat Lins.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails