Pedro vem nos ensinando - "nos" são todas as pessoas que convivem conosco e ele mesmo - o quanto o fator motivacional "desejo" - no sentido de vontade e não de ilusão ou fantasia - é preponderante a qualquer desavença entre pensamentos e teorizações do óbvio que nós adultos somos capazes de de dedicar nossas vidas pessoais e profissionais.
Já escrevi aqui sobre a saga do ano passado com alguns profissionais deslocados e sem conseguir adentrar na proposta teórica de suas funções num desafio de ordem prática - fica o alerta, aprender é uma coisa, saber fazer o que aprendeu, na prática, num desafio real é outra... e se esse distanciamento for grande, pode prejudicar alguém, principalmente uma criança que, por mais esperta que seja, é inocente pela pouca experiência de vida.
Pois bem, este ano, Pedro começou com um comportamento melhor ainda. E com muita vontade de estar diante desse mundo maravilhoso de escrita e leitura. Na escola isso repercute, também. A professora já sinalizou esse dado novo.
O que me chama a atenção é que, chegamos a pedir a transferência dele, no final do ano passado, mas após conversa com a direção, voltamos atrás num processo bacana e aberto de ajustes. Bom, quais ajustes? Essa é a minha pergunta... Tivemos uma reunião na última quarta, dia 6 de março, apenas com a dupla de coordenação e em meia hora o que nada tinha a ser colocado se foi exposto e atos falhos que me levam a questionar: e aí, houve auto-avaliação da instituição? As profissionais envolvidas "no caso" fizeram a reflexão de "estou disposta a me debruçar sobre essas crianças, vê-las como são e ajudá-las no processo do desabrochar?" ou manteve-se a postura arrogante de quem acredita que tem todas as respostas dentro de um título acadêmico e que o comportamento deve ser nivelado? Compreendo perfeitamente que como Pedro estava, sem parar, batendo nos colegas e na professora e etc atrapalhava a ele, bem como aos outros. E o que foi feito? Como agiram?
Bom, na referida reunião, o primeiro comentário inquietante: "Pedro melhorou bastante. Como foi ele nas férias? (...) Mas, ele ainda não está como a gente quer!...", então, passei pinceladamente sobre as férias - elas têm a capacidade clara - e isso vem de relato de outros pais - em demonstrar que não estão te escutando, salvo quando se fala algo aterrorizante e suspeito... - e respondi: ... Lógico! Ele não iria se tornar um santo de uma hora para outra, nem é esse o nosso objetivo!" iria adiante, mas prometi não me estender... estamos começando o ano e não quero reviver toda a tensão e exaustão do ano passado... iria completar que quem canoniza é o Papa, não eu, nem elas. Bem, de verdade, um santo já nasce santo, independente de quem o afirme ser ou não... Peu, é gente!
Em seguida, me vem outro comentário: "Bom, a professora nos trouxe que ele está totalmente regular dentro da sala e de acordo com o que se espera. Mas, só temos 3 semanas e é muito pouco para avaliar..." - interessantíssimo! Ano passado, qualquer pouco tempo, 1 ou 2 dias eram suficientes para "provar" a culpa de um menino elétrico que é vítima de sua ansiedade excessiva e de uma inteligência acima da média e sua falta de controle sobre esses rompantes.
O terceiro comentário que me chamou a atenção é de dar risada: "Ele tem melhorado muito mas a coordenação motora fina dele precisa ser bem trabalhada... Ele precisa deixar de fazer o 8 com duas bolinhas e fazer o movimento do S..." ou seja, o que ele consegue fazer não vale, só vale o que ele não consegue: punam-no! Eu, antes de ter uma noção sobre "coach", falava - e falei todo o ano passado - que elas deveriam ver o que ele tem e adentrá-lo por ali até ajudá-lo a desenvolver o que ele "não consegue" - e não o que ele "não tem" como elas colocam - e, hoje, entendo que se trata de uma prática de peak performance, onde pela avaliação e levantamento de situações com desfeches positivos, se ajuda as com desfechos negativos. Será que profissionais tão bem qualificados academicamente estão dispostos a desenrolar isso, mesmo? Ainda que numa escola que prega "não trabalhar a inclusão porque não trabalha a exclusão", na prática isso acontece? Quando ele entrou na escola, afirmaram num discurso convincente e bonitinho, através de uma charge - que não encontro em lugar algum - de várias pessoas diferentes entrando numa máquina e saindo todas iguais, de que ali não se trabalhava daquele jeito, massificando e sim de acordo com as peculiaridades de cada um. Porém - sempre existe um porém como justificativa... - algumas questões poderiam ser levada em conta: 1 - os tempos são outros e as crianças, também; 2 - ninguém está preparado para toda demanda, mas pode se empenhar em tentar lidar com ela, considerando que o que "sabe" não basta...; 3 - a escola fica numa posição central, dentro do bairro onde se localiza e o bairro cresceu ao redor dela, ou seja, o público dela mudou... por uma questão de proximidade e por ser considerada uma escola muito boa, os pais matriculam os filhos lá e cobram atitudes de uma escola tradicional... Isso deixa de ser uma pressão sobre como conduzir e se ajustar à nov realidade?
Pois bem, o quarto e último comentário também me fez arrepiar: "A rotina dele é muito importante. É importante desenvolver essa rotina...". Tá, pergunto: "Que rotina? Porque ele tem uma rotina muito bem definida e seguida, bem como flexibilizada quando necessário, porque não é exercito..." e como resposta? Silêncio e troca de olhares gritantes entre elas. Não vou entrar nesse jogo bobo. Francamente, duas profissionais pelas quais a direção coloca a mão no fogo agindo assim... O que me deixa tranquila é que a professora deste ano não está abalada emocionalmente como a do ano anterior - que era uma excelente professora, mas com problemas pessoais notórios em seu jeito estressado de falar e acirrado pelo desafio Pedro Henrique - e tem uma postura muito firme. O trabalho que ELA desenvolve o envolve e ele se desenvolve. Isso seria ou não um "algo" a ser verificado, observado de longe e de perto - de nada adianta se observar apenas de longe, é preciso comprovar e esclarecer de perto... senão compromete a imparcialidade da observação - e refletir mesmo sobre as falhas do ano passado que foram exclusivas da relação dessa parte da equipe com alguns alunos-problema.
Pois é... quando nos esbarramos nessa questão da posição unilateral da escola em abrir um inquérito de "prove que ele melhorou o comportamento" e quer condenar o pequeno ser em vez de conhecê-lo, dá nisso, na repetição do mesmo problema em um novo contexto: a melhora no comportamento de Pedro é inquestionável, PÚBLICO e notório. Isso é campanha de "veja meu filho" ou alerta do "veja que é possível, unam-se a nós e vamos ajudá-lo em parceria?". Eu vejo como a união, elas ainda enxergam pelo viés do estigma e set criado por elas mesmas: "Isso é coisa de mãe...". E a criança? Está protegida , dentro daquela instituição, por ela mesma, que demostrou grandeza e pediu para continuar na escola, pela professora deste ano e pela equipe de apoio. E protegida de quem? Dessa coordenação que está no meio e sem saber como ajudar, nem admitindo que precisam de ajuda... Na verdade, para elas, cegos somos TODOS nós - eu, o pai, a psi dele, o pessoal da equoterapia que viu o progresso dele e colaboraram muito, a família, os amigos, os vizinhos... e a professora - que não vêem o que elas estão vendo.
Eu, acredito no que estou vendo dele, seja com 8 em forma de um bolinha em cima e outra embaixo ou em forma de S... desde que ele saiba o que é um 8.
E 8 é o símbolo do infinito, né? Que sejam infinitas as possibilidades de aprendizado e ensinamento que ele nos traz. Eu estou ao lado, como parceira firme e mãe zelosa, fazendo o que for preciso para ele se desenvolver e ter autonomia para lidar com os desafios. Eu? Vejo um despertar de novos desejos nele e com isso a vontade de apreender e fazer. Isso deve ou não ser valorizado, incentivado?
O importante é ter um objetivo e se dedicar a saber como fazê-lo real!
Pat Lins.
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