domingo, 10 de março de 2013

CRIANÇAS ATUAIS, SEUS PAIS/MÃES, COBRANÇAS SOCIAIS E DIAGNÓSTICOS APRESSADOS


Desde que meu filho nasceu, sempre foi muito elétrico e altamente "ligado". Muito sorridente, feliz e brincalhão.

Foi crescendo e, com 3 anos, eu estava exausta de tantos questionamentos. Ele sempre foi muito precoce. Começou a falar cedo e se expressava muito bem para a pouca idade. Não parava quieto. Na escola, então... Só que ele aprendia tudo muito rápido. A primeira professora dele sugeriu, por garantia, que o levássemos a uma neuro-pediatra, a fim de nos certificarmos se ele era TDAH. Segundo ela, a questão era o fato dele ser muito inteligente e isso não cabia no corpinho limitado de um menino de 3 anos. Procurei a pediatra dele e ela me afirmou que o fato dele ser agitado não queria dizer se hiperativo - TDAH - e que ele era muito inteligente e com uma capacidade cognitiva acima da idade dele. Mas, como eu queria, fui na APAE. Na consulta com a neuro, ele não só respondia o que ela perguntava como a indagava sobre cada pergunta. A fase do "por quê?", tão comum a todas as crianças, na dele era diferente: "Por quê? E se...". Uma resposta evasiva, para ele não, era resposta, tinha que ser consistente. Pois bem, ela me deu a requisição para o eletro. Me advertiu da possibilidade dele ter que tomar um remedinho para dormir, pois como ele era acelerado, isso comprometeria o resultado. Aí, eu questionei se não poderia tentar com ele sem medicamento e, apenas em extrema necessidade tomaria. Ela retrucou e me disse taxativamente: "Eu conheço um hiperativo quando ele pisa na soleira dessa porta... Se quiser, tente, mas já vou avisando, não vai dar certo!". Fui à sala do exame e a técnica começou o exame, sem o remédio, porque a primeira fase é acordado. Ela era tão jeitosa e paciente que ele ficou quietinho. Ela mesma me pediu para tentar continuar sem o remédio para dormir. E foi feito. Ele fez tudo que ela pediu, com 3 anos de idade. Colaborou como um adulto. Ela me disse que se surpreendeu desde a hora que ele deitou na maca, pelo fato dele ter colaborado numa boa e que "...crianças quietas davam muito trabalho para fazer aquele exame, imagina os agitados... E ele está ótimo! Parabéns, Peu!". Pois, depois, já com o resultado em mãos, levei para a neuro e ela me disse, meio contrariada, que estava tudo OK com ele. Me sugeriu psicoterapia porque ele poderia ser ansioso ou muito inteligente e, por isso, fosse tão agitado, mas que mesmo assim, se eu quisesse, ela passaria um medicamento, para ele ficar mais calmo. Eu perguntei se ele tinha algum problema e ela não queria me dizer e ela me afirmou que não, apenas me sugeriu o medicamento porque muitas mães não "aguentam o trampo" e pedem socorro... Eu disse que dispensava, exceto pelo fato de ser necessário. Ela insistiu até eu sair da sala e me perguntou: "Você vai aguentar o trampo?" e eu respondo: "Sei não. Mas medicamento para uma criança que não precisa eu me recuso a dar!". Fechei a porta e nunca mais pisei lá!

No ano seguinte, eu engravidei e perdi o bebê. Peu desencadeou uma agressividade anormal. Na escola ele batia em todos - inclusive na professora. Mesmo sem condição de pagar a psicoterapia, pedi a escola que me indicasse alguém e foi quando tive a oportunidade de conhecer a psi dele - com quem está até hoje! - e que não teve pressa em fechar diagnóstico, ela se ateve a conhecê-lo e conhecê-lo, não em tachá-lo ou enquadrá-lo em algo. O TDAH foi descartado no ano passado. O comportamento dele vem dando melhoras com a psicoterapia, atividade física especializada - inclusive, ele fez EQUOTERAPIA por 4 meses e, desde o primeiro mês, a melhora na diminuição da ansiedade foi notada... exceto na escola, local onde ele mantinha o padrão de "terror" e, hoje, faz FUN KIDS -, rotina da casa e muito empenho da gente, de algumas pessoas na escola, de amigos... posso afirmar que tenho um batalhão, ou uma companhia mult-pluri-interdisciplinar formada por amigos e conhecidos especialistas, como pedagogos, psicólogos e muito mais e muiittttoooo amor. Fora o fato dele estar crescendo e ficando mais consciente do seu papel.

O que me fez escrever este post - já havia manifestado minha preocupação em 2010, pouco depois da consulta com a neuro-pediatra: HIPERATIVIDADE OU HIPER ATIVIDADE?  - foi a matéria do "Fantástico" sobre TDAH e diagnósticos errados e como isso compromete o desempenho de uma criança e de uma adulto - afinal, toda criança é um futuro adulto. 

Drauzio explica o TDAH e mostra como superar as dificuldades do transtorno

O doutor Drauzio Varella explica por que tantas crianças estão recebendo um diagnóstico errado da doença.

Um alerta muito interessante é feito pelo piscanalista Chrsitian Dunker: 

"Não só no Brasil, é uma tendência mundial, a criança está sendo supermedicada. Essa idéia de diagnosticar rápido, tratar rápido, tratar o quanto antes... criar uma criança de alto desempenho... A gente precisa olhar com um pouco mais de cuidado em relação a isso.".

E isso me levou a um "papo" maravilhoso que tive, ontem, com Jaime Sodré - historiador e escritor, acima de tudo, uma pessoa brilhante, coerente, íntegro e de uma sabedoria natural impressionantes - onde ele falava sobre as "crianças de hoje em dia", por conta de algumas atitudes de Peu que eu, reclamando e ele me adverte: "Minha amiga, você percebeu que está repetindo aquilo que você aprendeu lá atrás...? Você poderia ter reparado, antes, que ele foi extremamente inteligente, sagaz e muito esperto! Veja a cognição dele: 1 - ele viu onde abria a porta do estúdio. 2 - Ele viu que ele não tinha altura. 3 - Ele viu que o braço dele não alcançava. 4 - Ele viu a alavanca debaixo e pensou rápido: subo ali, abaixo a de cima e, depois, desço e abro a debaixo... E fez. Ele é muito inteligente, esse menino! E você acha que educar uma criança dessa geração como nós, do século passado, vai funcionar? Perceba: elogie a capacidade que ele teve de pensar, ver um obstáculo e agir, sem se machucar, com tudo calculado e com segurança, depois, explique para ele que apesar dele ser capaz de fazer isso tudo, ele precisa entender que ali é um programa de rádio, que está sendo transmitido ao vivo e que não é lugar de brincadeira...". 

As crianças de hoje em dia demandam de nós uma ruptura. Se isso não é um bom motivo para ficarmos alerta em vez de "doentificar" a criança, o que é, então? Sei que diagnosticar é importantíssimo. Não é esse o ponto. O ponto é como esse diagnóstico é feito? Com cuidado? Com pressa? 

A cobrança de pessoas massificadas e "iguais" vem em contradição à demagogia instalada de que o estímulo às diferenças é que fará a diferença positiva... Será? Será que estamos preparados - ou dispostos a nos preparar - para lidar com as crianças de hoje em dia, com as cobranças exageradas e estressantes, a lidar com a pressa. Aceitar as diferenças é muito mais difícil do que nos damos conta. E aceitar que nem toda diferença peculiar é uma doença e precisa ser medicada, apenas bem acompanhada, é mais difícil ainda. 

Podemos começar a refletir sobre essas questões: se um mundo novo e melhor se faz necessário, qual o meu papel nesse processo de mudança?

Saudações maternais,

Pat Lins.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails