sábado, 21 de setembro de 2013

APRENDENDO COM MARIA

Essa eu precisava compartilhar com todas nós!

Imagem: internet: http://giselefmaciel.blogspot.com.br/2011_09_18_archive.html

Uma colega da pós postou essa mensagem linda e que me tocou muito:

"Maria, 5 anos, gritou para mim em plenos pulmões: 'você não pode me testar (se referindo a minha tentativa frustrada de tentar faze-la comer o almoço todo) eu vou viver como eu quiser!' . Cinco minutos depois resolveu me dar novamente a flor que já tinha me dado e tomado de volta. Maria pergunta: 'Alana, você quer merecer a minha flor?'; Alana: 'Maria você já me deu, já tomou, o que é essa flor finamente?'; Maria responde: 'é uma especia de Amor! Alana!! Você tem que aceitar e cuidar dela!' ".

Daí, sabe, me tocou e acabei embarcando. Maria me lembra meu filho Pedro, em sua maneira firme e assertiva em questionar. As crianças de hoje em dia, são crianças, claro, precisam de limites, claro, mas acima de tudo, o que Pedro vem me ensinando - e, agora, Maria - é que eles são diferentes da nossa geração. Não temos como negar. Como é tudo novo, estamos tateando em como educá-los da melhor maneira. Porém, quais são as nossas referências? Os padrões anteriores. Como usar algo que está aí, que já estava aqui... em algo que "acabou" de surgir?

Nenhum de nós - pais, mães... família, amigos, educadores, psicólogos... - está firme e convicto de que damos conta dessa geração. Estamos?! Mas, com base no que temos, damos sequência. Eu "penei" muito até começar a entender uma coisa. Conversando com uma senhora que tinha um filho diferente, por ter uma "patologia" - se é que existe isso... mas, é como a ciência ainda consegue afirmar... - que é o autismo, ela me disse uma coisa que me marcou: "precisamos entrar no mundo deles e não trazê-los para o nosso!". Daí, pensei: É ISSO!

Essa nova geração vem sem patologia - em geral -, no que se refere aos laudos médicos, mas com uma inteligência acima da média, que mais parecem mini adultos. Isso, ao meu ver - não sei se estou certa ou errada, mas estou aprendendo nesse tempo - não os torna adultos e nós precisamos agir como adultos e deixar claro que eles são crianças e, por mais espertas e atentas, são crianças... 

O que me levou a refletir mais foi o fato de como TODOS  eles - me refiro com que conheço com essas características ímpares e alguns que algumas mães me enviam relatos - clamam o AMOR. É como se eles dissessem: esse é o caminho AMAR. E o que vem a ser amar? É aceitar o outro como é e conviver com as DIFERENÇAS. Não é trazer ninguém para o nosso mundo, é estar no mundo. O Universo é tão vasto, se bem observarmos, e representa o infinito, em sua plenitude e harmonia, da diversidade. Tememos tanto as diferenças que se alguém fala que viu um ET, a gente ri... 

Não aceitamos as diferenças porque elas exigem ação - reflexão - ação - reflexão - ação... As diferenças nos fazem andar e movimentar. Essa nova geração traz isso: movimento. A acomodação, as velhas crenças - que não estavam nem erradas, nem  certas, era o que tinha em cada época - tudo isso precisa ser derrubado. Derrubar de vez? Não. Percebamos que eles chegam aos poucos e vão aumentando. Inevitável essa comparação entre gerações, mas no que se refere a atual, ela rompe com tudo e com todas as anteriores! Creio que isso esteja assustando muito, em vez de nos fazer aceitar! Por conta deles? Não, por conta da nossa limitação.

Quando Maria afirma - assim como Peu - que sabe o que quer e, depois, vem nos lembrar que aquilo é passado, agindo dali para a frente, a gente pensa que eles estão brincando ou zoando... Pedro, hoje em dia, me pergunta: "Ué! E o que foi que eu fiz de errado dessa vez? Como é o certo para vocês?". Eles se sabem e se vêm diferentes... sentem o baque, sofrem, agindo de maneira agressiva, muitas vezes, mas lidam com uma libertação e ruptura com o que prende que impressiona. Eles não guardam rancor. Isso me impressiona.

Me recordo dos problemas que tivemos, ano passado, com relação a antiga escola e, ainda que compreenda que eram humanos, e faziam o que davam conta - me incomodou, confesso, a falta de humildade e se reconhecerem como tal, agindo como juízes supremos e sábios plenos, em vez de assumirem que estavam tão perdidos como qualquer outro mortal, humano e aprendiz da vida - eles atingiram Pedro, a ponto de desencadear alguns bloqueios que, hoje, estão sendo tratados e trabalhados. Porém, ele não traz raiva, rancor ou qualquer sentimento assim. Ele sente carinho, inclusive, e fala dessas pessoas, como se me dissesse: "Mãe, deixa para lá! Passou! Agora, limpamos o ambiente e recomeçamos!". 

Ele me perguntou: "O que são emoções, mãe? É só tristeza?". Porque ele sentiu uma dor na barriga e eu perguntei: "Tem algo te inquietando, filho? Você está muito agitado, pode ser emoção, por conta do seu aniversário que está perto..." - ele a-do-ra festas e o aniversário dele, então, ele AMA! 

Daí, expliquei para ele, do meu jeito, pega de surpresa, como sempre, e sem tempo de racionalizar para enrolar, apenas com tempo de raciocinar o que senti e elaborar uma maneira de explicar honesta: "Filho, emoções são essas coisas que a gente sente e não sabe explicar muito bem, como quando ficamos alegres demais; ou tristes demais; ou pensativos demais; ou querendo ficar sozinho, de vez em quando, sem saber o motivo... é quando a gente sente tocar no coração e na barriguinha, bem no estômago e a gente só sente, mas nem sabe o que sente, apenas reage!". E ele entendeu.

Desde que eu "entrei" mais no mundo dele, diminuindo julgamentos, me vendo, honestamente, mesmo, como pessoa que ama, mas que também cobra com base nos padrões sociais - e reafirmo: não entro, aqui, no mérito de certo ou errado - vigentes, e falando sempre às claras com ele, estabelecemos uma parceria mais vibrante, mais forte e mais livre, também. Imponho os limites, a rotina, me canso - porque preciso estar "sempre alerta!" - mas, me renovo com essa relação, e isso vem dando sinais mais positivos!

Hoje, ao ler o relato de Alana sobre sua pequena cunhada de apenas 5 anos, provar que amor é ir e vir várias vezes, sem reclamar, apenas aceitando e cuidando, recomeçando..., agindo e não reagindo, vi um filme em minha mente, desde o dia em que Peu nasceu, de como ele iluminou tudo a sua/nossa volta e de como foi/é difícil, para mim, entrar nessa frequência e isso sacudiu, para valer, e me fez querer ser uma pessoa melhor do que eu já vinha tentando ser minha vida inteira. Me senti num intensivão. Vi o quanto eu reagia, muito mais por medo de exposição ao social, de como as pessoas menos abertas e mais cruéis - hoje, entendo que são as mais presas e sofredoras - necessitam saber se ele é doente e, convivendo, apenas vêm que ele é "normal" - de acordo com os exames neurológicos e afins - porém, diferente. Como me disse uma vizinha querida e que me ajudou muito nesse processo de aceitação da realidade - Sandra Márcia - ele é "diferenciado, nitidamente!". 

Pedro se ofendeu, esta semana, porque foi chamado de criança e disse: "Nunca fui tão ofendido em minha vida!". Mas, ele É criança. Por mais esperto que seja, é importante que ele se veja como tal. E é aí que porca torce o rabo, mesmo!

Hoje, entendo de que não precisamos temer essa geração... devemos temer a nossa geração, quando fica presa aos velhos padrões.

Que muitas Marias e Pedros e outros nomes - coisas que eles exigem que seja proferido, seus nomes, Pedro não gosta muito que outras pessoas o chamem por apelidos ou nome trocado... e faz questão de chamar as pessoas pelo nome... até os tios... - espalhem essas flores de amor, com firmeza e determinação; ensinando e aprendendo, sempre! Eles estão trazendo um novo "paradigma" - sem rotulações, apenas por ser a palavra mais próxima, dentre as que conheço até aqui, do que pretendo dizer - para nossas vidas. Aceitemos e entremos em nossos mundos, nos aceitemos para, depois, adentrar e aceitar o mundo do outro! Se não houver essa honestidade - ou auto honestidade, inclusive em reconhecer nossas limitações, até para superá-las - essa fase atual será de lamentos e sofrimentos! 

Eu mudo a cada dia. Cresço e aprendo, e ensino para aprender ainda mais com ele. Isso, sim, me ajudou a tomar melhores decisões e ir em frente - e não, atrás - dos meus sonhos! De tanto ensinar a Peu que ele é capaz de ser e fazer mais, desde que pelo bem dele e de todos, estou eu aceitando isso em mim, também. Juntos, crescemos e aprendemos, e ensinamos e seguimos!

Então, aceitemos mais e cuidemos mais! Lógico que as flores irão murchar, um dia, assim é a vida tal qual conhecemos, mas isso, um dia, vai mudar: em vez de dor, entendimento e aceitação - não acomodação ou submissão, aceitar, como entender que é assim e pronto!

Saudações maternais,

Pat Lins.

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