quinta-feira, 28 de julho de 2011

DIA DOS PAIS - para os pais que são Pais na Prática - Por Pedro Henrique

Pedro me disse hoje: "Vai ser dia dos pais, mãe, sabia? Eu vi na televisão. É para isso que eles são criados, para ter filhos, sabia? Você sabia, mãe, que ser pai é para o filho não ficar só com a mãe? Todo filho tem que ter um pai, senão, só vai ter a mãe, já pensou? Os pais aprendem com os filhos, mãe..." E depois não consegui mais memorizar o que falava. Muito lindo!

Imagino que ele tenha visto a propaganda de uma marca de cosméticos - que, por sinal, achei o conceito perfeito! Onde o pai troca experiências com o filhos, e tem tudo a ver com o nome do produto, fazendo referência aos dois lados de uma mesma relação: pai e filho e como um aprende com o outro. Nossa, apesar do apelo comercial, não deixa de ser uma mensagem profunda... ou, melhor, apesar de uma mensagem profunda, foi bem utilizada no apelo comercial... enfim, ficou muito boa! - onde "aparecem" os pensamentos do filho e do pai - que vêm a ser o mesmo, mas, cada um do seu ângulo, dentro do seu contexto... mas, aprendendo um com o outro: "Ele me ensinou tudo. Me ensinou a ter coragem. A insistir! Me ensinou que não precisa se falar nada para dizer muito. Ele me ensinou que tudo que é bom, pode ficar 'bonzão'."


E, esse pequeno texto é para os Pais na Prática, que se vêm e assumem a importância dessa troca. Afinal, como sempre levanto a bandeira, para se educar um filho, antes de tudo, nos educarmos como pessoas. Para ajudar a eduzir da pequeno indíviuo em formação, muita coerência e humildade para reconhecer que não há uma guia prático, nem manual de como ser pai ou mãe sem falha. Somos humanos e trazemos essa condição em nosso padrão comportamental para aprendizado - risos. E como saber  a melhor maneira de educar um filho se nem sabem quem é esse filho/indivíduo/pessoa? Aprendizado é via de mão dupla! O que aprendemos, podemos ensinar.

Saudações maternais,

Pat Lins.

domingo, 24 de julho de 2011

DR PEU E SUA MALETA DE MÉDICO

Peu tem melhorado e muito seu comportamento. Como venho aprendendo, não mudamos o temperamento da criança, mas, podemos contribuir na formação do bom caráter. Com isso, os temperamento acaba sendo "adestrado" pelo tempo e pelo grau de consciência e compromisso com as responsabilidades de cada ação. Ou seja, se eu faço algo, esse algo acarreta em um tipo de consequência. Daí, pergunto: "você acha certo esse comportamento? É correto isso que você fez?..." E assim, além de ocupar o tempo dele com atividades ainda mais produtivas como os jogos educativos - quebra-cabeça; cruza palavras; revistinhas de pintura -; mantenho nossas leituras; tomei a cautela de sair para lugares menos movimentados e/ou agitados e com pessoas que gostam e sabem lidar com criança - isso é muito impotante... deixei de ir a determinados lugares onde as pessoas vivem de maneira superficial e repletas de ansiedade... o ambiente fica agitado, as conversas são agitadas e sem foco... isso atrapalha muito lidar com Peu nesses lugares, porque ele é elétrico e nesses lugares ansiosos, as pessoas não param de falar e fico em saber como lidar com ele e essas pessoas que são incapazes de perceber como estão agindo... em meio a essa aceleração, fica uma falação, só, uma barulhada e ele fazendo de um tudo para chamar a atenção. Num desses episódios, para terem idéia, ele pediu água para uma determinada pessoa e ela respondeu: "aqui não tem refrigerante, não!". Por Deus, se a pessoa não sabe nem como está agindo, alguém acha que que terá a capacidade de saber lidar com uma criança questionadora e esperta ao extremo como Pedro?. Não é que não frequentemos diversos lugares, vamos a shoppings, cinema, piscina, parques... e na casa dessas pessoas ansiosas e agitadas, também - que nem percebem que ele puxou esse mesmo agito... mas, tudo bem... cai para mim, que sou mãe, lidar com meu filho como ele é...

Bom, um dos brinquedos favoritos dele é a maleta de médico. Ele "cuidou" de mim, no início do ano, antes d´eu perder o bebê e estava enjoando muito. Pegava a maletinha e ia cuidar da mamãe e do irmãozinho. Uma graça. Hoje, o pai se machucou e ele saiu correndo em direção ao quarto. Prontamente, volrou e abriu sua bendita maletinha de médico e se jogou por cima do pai, dizendo: "fique tranquilo, pai, vou cuidar de você!". Muito lindo! Ah, não, não acho que ele vá ser médico ou qualquer outra profissão, deixo-o brincar sem cobrar: "você vai querer ser isso quando crescer, filho?". Ele gosta de montar prédios, de pintar com tinta, tocar, cantar e dançar, de encenar, de dublar... Ele gosta e faz tanta coisa que é difícil dizer o que ele vai ser. Mas, a reação dele de cuidar demonstra a sensibilidade que ele tem e o zelo que tem conosco - eu e o pai. Está cada dia mais carinhoso. Bom, continua teimoso e desobediente - não como quem não quer acatar o que falam os adultos, mas, por achar que ele é capaz de fazer e esse é um grande desafio, fazê-lo compreender que ele é criança e, por mais esperta que seja, é criança, sem podá-lo, a ponto de frearmos sua proatividade. Infelizmente, estava canalizando as investidas de limite da professora com agressividade... Hoje, está melhor, afinal, o tempo vai passando e o fato de mantermos a postura dia após dia, mesmo que ele resmungue, mantemos a coerência. Creio que isso, associado ao fato de procurarmos uma psicóloga fantástica e a escola e todos falando a mesma língua - inclusive, algumas atividades que faço com ele em casa, seguem a linha da escola - está fazendo com que ele veja - ainda que a longo prazo - e sinta que estamos acima dele e aceita, aos poucos, que ele não está no topo da hierarquia. Mas, um fato foi/é primordial e, esse sim, foi uma ajuda importante, porque era por onde ele encontrava a brecha para se sentir poderoso: o pai. O pai está mais firme com ele, sabendo que precisa ser firme e sem se sentir culpado em ser firme, já que passa a maior parte do tempo longe dele... Agora, fechada a brecha que ele escapava, o cerco foi fechado - risos - e estamos conseguindo fazer um trabalho disciplinar mais eficiente e o peso não está mais só em minhas costas, de ter que enquadrar e implorar as pessoas mais próxima que não cedam às chantegens dele... Sim, precisei me afastar de algumas pessoas. Como são de importante referência para ele, visitamos essas pessoas com menos frequencia, porque a idéia não é afastar ninguém de ninguém, mas dar espaço mais saudável para a formação de caráter desse mesmo menino que pega a maleta de médico para cuidar dos pais, mas, que, em meio a essas pessoas, só quer correr e gritar. Vi que ele ficava acelerado pela aceleração local e precisei manter uma distância ultra saudável. Bom, não pude, nem posso, explicar a essas pessoas as razões de minha conduta, mas, acreditem, para bem educarmos nossos filhos, até os 7 anos precisamos - penso eu - dar uma base muito sólida e, em meio a turbulência não é um ambiente apropriado... Não sei se estou certa ou errada, mas, eu também não sei lidar nesses ambientes com tanta informação desencontrada e tanta hipocrisia... assim, não poderia passar uma postura coerente a meu filho. Mais um belo motivo para me afastar. Não, não me acho melhor do que ninguém, mas procuro ser muito coerente em meu caminho e se me deparo com esses ambientes, me canso mais rápido.

Enfim, para propriciar a boa formação de caráter de um filho, precisamos buscar a nossa, também. Para que o menino Dr Peu possa expandir e firmar suas virtudes, é preciso que ele as conheça de perto, sem confusão, com cuidado. Por isso, me cerco cada vez mais de pessoas que sigam a mesma linha e, com esse apoio real e fundamental, fazemos que dele emane aquilo que há de melhor. Infelizmente, nos lugares de agito e ansiedade , só se via a correria dele e nada mais... Se uma pessoa é incapaz de se chegar a uma criança, o que faremos lá? Questão de respeito para ambas as partes. Aos poucos, com a energia acelerada dele acentando, teremos mais liberdade de entrar e sair desses lugares sem efeitos desgastantes ou abalos consideráveis. 

Educar um filho, formar, de maneira positiva, seu caráter, é ter além do zelo e do cuidado a consciência - ou a busca para acessá-la - de que formamos um indivíduo e que não podemos fazê-lo se não nos conhecemos. Precisamos resgatar nosso bom caráter - ou, em alguns casos, desvelá-los - para passarmos com verdade para o pequeno indivíduo em formação, não passarmos nossas frustrações ou taparmos nossos buracos e carências através da manipulação. Educar um filho requer muito mais de nós: requer a nós mesmos.

Ver o resultado positivo de maneira clara no comportamento dele é um estímulo para continuar no caminho e vivendo mais feliz, ao obter pequenas vitórias.

Saudações maternais,

Pat Lins.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

DICA MÃES NA PRÁTICA - TEATRO: ANACLETO - O PORQUINHO POLITICAMENTE CORRETO

Para a criançada rir, se divertir e aprender!

"MÃE, COMO FOI VOCÊ, HOJE, EM CASA?"

Normalmente, eu perguntava a Peu, ao pegá-lo na escola: "e aí, filho, como foi na escola hoje?" E ele respondia o que fez. Parei um tempo de perguntar, seguindo o conselho da coordenadora pedagógica, que me disse que isso poderia causar uma certa ansiedade nele e ele se sentiria sempre na "obrigação" de fazer algo para ter o que falar. Não que seja errado, mas, deixar que ele manifestasse a vontade de falar. Bom, eu costumo perguntar, agora: "oi, filho! como foi sua manhã?", ou, quando o peo na casa da avó: "como foi o seu dia, meu bem?". 

Hoje, quando fui buscá-lo, viemos conversando no caminho, como sempre fazemos e, ao chegar na porta de casa, ele me perguntou: "e você, mãe, como foi você hoje em casa?". Foi tão lindo! Parece bobagem! Pode até ser, mas, a cada dia ver o quanto ele é sensível e atento por trás do agito todo é uma sensação que só eu sei... Vê-lo crescer e mudar - isso não quer dizer, em momento algum, menos trabalho... estamos nos referindo a um pequeno ser humano e sua educação é a longo prazo... por mais trabalhoso que seja, me trabalho muito para que ele aprenda com exemplo real... não perfeição, mas, busca constante. Sempre digo para ele, quando se comporta "mal": "eu sei que você pode fazer melhor, proque está dentro de você!" É como lido comigo mesma... sempre em busca - me toca tão profundamente que nem sei explicar.

Meu filho que você se torne, cada dia mais, um ser virtuoso! Que a serenidade seja seu estado de espírito constante - apesar de hoje ele ser agoniado e acelerado, aos poucos está diminuindo consideravelmente e se mostrando cada vez mais uma pessoinha linda e com bons sentimentos. PS - nunca falei perfeito... portanto, que fique claro que sim, Pedro, você apronta muito, mas, faz parte do caminho de aprendizagem, né não? Essa é a fase de fazer besteira e ser orientado.

Filho, aprendo muito com você mesmo, para te ensinar, viu?

Saudações maternais, 

Pat Lins.

terça-feira, 12 de julho de 2011

MEU FILHO, VOCÊ NÃO MERECE NADA - Por Eliane Brum



A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada
 
Eliane Brum - REVISTA ÉPOCA
 
   Divulgação
ELIANE BRUM
Jornalista, escritora e documentarista.
Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e 
internacionais de reportagem. 
É autora de  
Coluna Prestes – O Avesso da Lenda
  (Artes e Ofícios),
A Vida Que Ninguém Vê
  (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e 
O Olho da Rua (Globo).
E-mail: elianebrum@uol.com.br
Twitter: @brumelianebrum
Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

(Eliane Brum escreve às segundas-feiras, na Revista Época)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

INTERAGINDO COM O MUNDO DAS LETRAS


Peu, mais ou menos com 1 ano e pouco, nem falava tudo muito claro, mas, já conhecia o alfabeto todo, incluindo K, W e Y. Já citei, em alguns posts, um certo "preconceito", quando um casal de paulistas me perguntou, à época, se ele era baiano; se eu e meu marido éramos baianos... e exclamaram, diante de Peu tentando ler, com 1 ano e 5 meses, uma placa em frente ao restaurante onde estávamos: "eles são baianos? Inteligentes!" Foram tão espontâneos que nem tivemos como responder... Engraçado foi com dois anos, quando a avó bordou um livro lindo, de pano, com todas as letras e figuras que começavam com elas. Pois, ela havia deixado de colocar o K, W e Y e ele foi em cima: "cadê K, 'babiu' e 'ispion'?"

Não vou mentir que aquilo me assustava... Não o fato dele ter uma curiosidade aguçada, mas, pela exposição e a possível cobrança e expectativa em cima dele. Cada criança desenvolve uma parte da inteligência. Em compensação ele não tinha paciência para sentar e desenhar, só riscava; sabia quais eram as formas, mas, não queria desenhá-las, nem pintava dentro dos contornos... Ou seja, ele é um ser humano como outro qualquer: desenvolve umas coisas mais rápido e outras a desenvolver... Para mim, isso é natural. Ele tem uma sensibilidade aguçadíssima, parece um radarzinho ultrassônico - risos. Muito interessante como ele percebe as expressões das pessoas.

Enfim, quando entrou na escola - ano passado, com três anos -, ele se viu diante de muitas novidades e esqueceu de ligar as letrinhas, apenas as identificava, além dos números de 1 a 15. Parou por aí e não o estimulei a voltar. Como procuro fazer, sempre, respeitei o tempo dele, sem forçar nada. Também, não deixava de apresentá-lo as letras através das leituras de nossos livros. 

Era como se o mundo das letras fosse familiar e ele fica muito à vontade com elas. Este ano, com 4, ele voltou a querer ler. E parece que está com pressa - risos. Já não basta querer que eu apresente um zilhão de palavras para ele, e pergunta: "mãe, com que letra começa torneira? E vaso sanitário? E pia? E chão? E teto? E sandália?..." E por aí vai, o que ele vê, quer saber com que letra começa. Bom, o detalhe é que ele nunca se contenta com uma resposta dada... Sempre foi questionador e esta ainda mais... Haja paciência - mesmo sendo bonitinho, o excesso me cansa... risos. Sabe a fase do "por quê?", a dele foi antes de 2 anos e, logo depois, vinha um "e se...?". Só responder "porque..." para ele não dizia nada. E isso cresce junto: "mãe, e se sandália começasse com a letra de torneira?" Eu trocava as letras e dizia como seria. Uma prima me disse: "Por que você não deixa ele fazer a troca sozinho?" nem havia me tocado de que ele precisava de mais... não só das minhas respostas, mas, que ele fosse instigado. Pois, lancei de volta. Ele me pergunta: "mãe, se Pedro começasse com O seria como?" Eu devolvi e ele me disse: "OPedro" - kkkkkkkkkk foi muito engraçado! E, daí, ele desenvolve. 

Minha preocupação é que, como toda mãe, mesmo que tente manter o respeito ao tempo dele, eu "queria" que ele fizesse o que os coleguinhas fazem - e todos são muito espertos, na sala dele, também - como sentar e desenhar, treinando a coordenação motora. Eu "queria" que ele seguisse os outros, porque, para mim, ele não fazendo essa parte, ele estaria "para traz"... Me vi, hipocritamente, forçando a barra. Enquanto as mães mostravam orgulhosas as retas, os quadrados... os desenhos dos seus filhos, o meu fazia uns riscos... Muita bobagem de minha parte. A pró disse que ele já estava começando a sentar para escrever e já pedia o lápis... Aquilo me animou. Às vésperas de entrar de recesso junino, ele me pediu um quadro branco com piloto para escrever. Comprei um na hora - ele é pequeno, 25 X 35 cm - e ele amou! Tanto que a oralidade serviu de base para a escrita. Como já identificava seu nome, começou a pedir que escrevêssemos para ele copiar. E já escreve sozinho. Em dois dias ele, que não queria fazer um A, já escrevia PEDRO, lógico, sem controle dos tamanhos e algumas letras espelhadas. Vi que o melhor é deixar a criança seguir o próprio ritmo, mesmo, sem deixar de apresentar as novidades e estimular no que eles pedem e no que eles precisam, também. 


Detalhe que essa entrega o fez querer fazer coisas que ele não se interessava, como montar quebra-cabeça e montar os blocos. Normalmente, ele pegava os blocos, montava qualquer coisa e saia para correr ou brincar com algo que desse vazão a sua energia física. Aproveitei, comprei outro joguinho educativo, onde temos uma gravura com o nome correspondente embaixo e um mini tabuleiro, para que ele forme a palavra. Pois, está amando! E eu, também! Amando duplamente: por ele parar para se concentrar e por estar envolvido no mundo das letras, ávido para querer ler sozinho. É lindo como ele "viaja" nas historinhas. Ele interpreta, com direito a mudar a voz e tudo mais. Até a lembrancinha da amiguinha ele fez questão de escrever seu nome:


O mais importante de tudo isso é o quanto eu tenho aprendido com ele. O quanto percebo como nossa relação é importante e o quanto ele confia em mim. Essas coisas seguem para sempre. Lembra que sempre falo que a educação de Peu é a longo prazo? É isso, a gente "ensina" hoje, para ele apreender amanhã. Um exemplo clássico é como ele reproduz como ajo com ele e o que falo para ele, como não encher o copo, evitando derramar... Ele, em casa, reclama e pede o copo cheio. Na "rua", ele pede: "tia, por favor, você pode me dar um copo com água? Mas, não encha, não, viu, coloque aqui, ó - e marca o meio do copo - para não derramar, viu?". Se alguém quer avaliar como e quem é o seu filho, deixe-o em outros ambientes e observe. Mas, não tem só o lado bom, na escola, ele aprende muito, mas, estava batendo nos coleguinhas... Ou seja, ainda tem algo nele que o incomoda e ele não sabe como lidar... E esse é mais um trabalho juntos que estamos fazendo: eu, a escola, agora a psicóloga e o pai - ah, e Peu, lógico!

Tempo, tempo, tempo! Tudo ao seu tempo, no tempo certo.

E "tempo" começa com que letra? E se cmeçasse com L? "Lento!" E se começasse com "Rápido"? Acelerado demais! Tempo começa no tempo certo e segue no tempo certo, sempre! 

Ensinar não é só escrever num quadro branco, é trocar e aprender a cada nova lição. O mundo das letras é mais do que saber o alfabeto e ligar cada letrinha para formar palavras: trata-se de um mundo vasto com outros mundos a explorar. É interpretar, questionar, pesquisar, desenvolver... criar e recriar! É arte! Na prática, ser mãe é aprender mais e ensinar mais, ainda! Vamos ler o melhor da vida, ao lado dos nossos pequenos, porque essa troca é mais do que mágica, ela é REAL! Realmente, linda!

Saudações maternais,

Pat Lins.

terça-feira, 21 de junho de 2011

FESTEJOS JUNINOS E OS FOGOS - VAMOS ESTOURAR DE ALEGRIA, NÃO ESTOURAR A ALEGRIA!

As festas juninas são divertidas e deliciosas - as comidas típicas, então... huuummmm - para adultos e crianças.

Entretanto, precisamos tomar muito cuidado com os fogos. A gente sempre acha que não tem problema algum, que estamos "de olho", até acontecer e lamentarmos o "incidente" ou a imprudência...

Existe tempo e idade para tudo. Ontem, vi uma amiga chamar a criançada, em meio a uma festa de aniversário de criança, para "soltar" os traques - aqueles que parecem um palito de fóforo. Primeiro, tratava-se de um condomínio fechado e de apartamentos, ou seja, a área da festa era uma área de circulação - não só dos convidados, como dos moradores - e com muitas crianças de diversas idades. Todo cuidado é pouco. Não temos a menor capacidade de antever o que uma criança fará. E elas têm ações e reações muito rápidas, exceto para defesa dos fogos.

Vi crianças maiores aproveitando a presença de um adulto - essa amiga - para legitimarem suas ações de, também, soltarem os fogos inadequados. Uma situação delicada, porque se um adulto toma a iniciativa de fazer o "errado", as crianças começam a acreditar que podem fazer tudo, sim. É o que falo de limite: muitos adultos não têm. Muitos demoram a crescer - e não falo crescer no sentido de ser sisudo e sério... muita gente adulta séria são apenas pessoas sérias, mas, em muitos casos, imaturos, no sentido de que não têm consciência do que fazer com o que aprende e vive... 

Pois, por pouco, uma dessas brincadeiras "inocentes" de soltar fogos que explodem do tipo "o que é que tem demais?" quase atinge um menininho pequeno, com menos de dois anos, que passou correndo na hora que soltaram uma bombinha "inocente" dessas. Para ele, se a mãe não alcança, não seria nada inocente e sim, um acidente.

Existem maneiras de curtir sem abrir mão dos fogos: traques de massa, por exemplo. Faz barulho e anima a criançada do mesmo jeito. Criança se diverte com o que tem e o que não tem, eles inventam. Não podemos passar nossas falsas necessidades para eles. Diversão, - como ensino a Peu - brincadeira é algo que não machuque. O que machuca é cosia séria! Quando não chega a ser séria e complicada.

Portanto, papais, mamães, vovós, vovôs, titios, titias, amigos, primos... adultos em geral, criança é criança e, por mais espertas que sejam, são crianças. Observar os espaço ao redor, avaliar - com bom senso - o que pode e o que não deve ser feito. Criança quer fazer qualquer coisa e limitar a se fazer o cabe a idade de cada uma - respeitando a presença das menores - não é diminuir, nem desmerecer ninguém, é agir com responsabilidade. E, cá entre nós, falta responsabilidade em muitos adultos! Ou, falta uma capacidade de se saber o que vem a ser responsabilidade!

Dá para curtir sem exageros, afinal, todo exagero é sobra e, normalmente, sobra para os inocentes de verdade...

Bons festejos! Divirtam-se TODOS, com prudência - que não é chatice, é zelo e cuidado para evitar que se aconteça alguma besteira e a lamentação não faz o tempo voltar para se corrigir o problema causado!!! Responsabilidade é coisa séria, sim, mas, a falta dela é muito mais sério!!!

VAMOS ESTOURAR DE ALEGRIA, NÃO ESTOURAR A ALEGRIA!

Saudações maternais, "sô" e "êta São João, bão da gota!" "vamo se diverti nesse arraiá"!!!

Pat Lins.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

COISAS QUE NUNCA SAEM DE MODA - Barquinho de Papel


Gentem, vocês já perceberam que existem maneiras de distrair nossos filhos, tão simples e que nunca saem de moda?

Pedro vive pedindo para que eu faça barquinho de papel. Eu havia me esquecido e passava a bola para outras pessoas. Pois, fui em busca do "paidosburrosdainternet" e coloquei: COMO FAZER BARQUINHOS DE PAPEL  e eis que fizemos juntos! Estamos com uma frota sem fim e muita diversão!


Olha, diversão não tem preço - ou, pode custar bem pouquinho... risos.

Quem tiver mais dicas, só enviar. Volta e meia eu vou aos KIDS INDOORS que sempre tem dicas legais para aqueles dias que precisamos ficar em casa com os pequenos.

Divirtam-se!

Beijos e saudações maternais,

Pat Lins.

domingo, 5 de junho de 2011

FILHOS EM FÉRIAS - dicas de Maria Irene Maluf


 Estamos próximo as férias de meio de ano - também conhecidas como férias juninas. Além dos cuidados com os fogos de artifício - para regiões onde se comemora o São João - e os acidentes que o uso indevido e irresponsável deles pode causar, as férias requerem muitos outros cuidados; precisamos estar atentos, também, a lembrança de que férias não é só programar uma viagem e vamos "esquecer" as "chatices" e os "problemas do dia-a-dia". Os bons valores precisam ir junto a qualquer lugar que se vá. A educação dos nossos filhos não precisam entrar de férias.


Acima de tudo, vem a explicação da importância em se entrar de férias nessa fase escolar - haja visto muitos pais e/ou responsáveis questionam: "não fazem nada e ainda tiram férias..." - Muitos adultos acreditam que "coisa séria" é só trabalhar e "ganhar" dinheiro. Leiam e aproveitem a leitura.

Segue abaixo a dica da Maria Irene Maluf - que é Especialista em Psicopedagogia e Educação Especial, Editora da revista Psicopedagogia da ABPp e Coordenadora/SP do Curso de Especialização em Neuroaprendizagem do Instituto Saber/FACEPD. 

Obrigada a Mariana Carneiro e Denise Monteiro pelo texto da Maria Irene Maluf.

 Filhos em Férias
- Por Maria Irene Maluf -

As férias escolares trazem às famílias muitas dúvidas em relação ao que proporcionar às suas crianças nesse período. A primeira idéia é quase sempre planejar uma viagem, mas a realidade é que, hoje, com pai e mãe trabalhando fora, tornou-se difícil fazer coincidir o período de férias do casal junto com o dos seus filhos.

Além disso, o ônus financeiro que viajar em família representa para o orçamento doméstico já é um impeditivo importante para muitos e há também outro fator a ponderar: quando nossos filhos são pequenos, é muito fácil escolher o local onde passaremos as férias, porém cada vez mais cedo as crianças demonstram a sua vontade de experimentar como é ficar longe dos irmãos e dos pais por alguns dias, seja em um acampamento ou na casa de coleguinhas. Conforme vão crescendo, começam a querer cada vez mais viajar com os amigos, ir para a casa de parentes onde há outros jovens e até descobrirem sozinhos novos percursos.

De toda forma, acompanhados ou não, crianças e adolescentes, assim como os adultos, terão que se hospedar em algum lugar, seja um hotel, seja a casa de amigos ou de parentes. Nessa hora é que devemos nos lembrar que muitas coisas devem ir na mochila e na mala de nossos filhos, além das roupas apropriadas ao clima e aos programas, os brinquedos preferidos, os joguinhos eletrônicos, os tênis, os remédios, o celular... 

É preciso ir junto com eles, ainda, a conduta, os valores e a educação que lhes transmitimos ao longo da vida, não só para representarem bem toda a família, mas até para serem bem recebidos e convidados para voltarem mais vezes! Há necessidade de preparar nossas crianças que seguem em passeio ou viagem com ou sem a nossa presença, para o que significa esse novo desafio em suas vidas, que é o de ser hóspede de alguém. 

Por melhor que seja o local e o acolhimento das pessoas, elas têm que ter consciência de que não estão na sua casa e que devem cuidar sozinhos de si, de suas coisas e manter com as demais pessoas um relacionamento respeitoso e cordial: é para dar "bom dia", pedir licença, dizer "obrigada", se oferecer para ajudar no que for possível... 

Ensinar tudo isso exige a atenção constante dos pais e uma supervisão permanente da prática diária desses costumes ao longo dos anos, pois só assim é possível criar filhos autônomos, capazes de respeitar pessoas e costumes diferentes, hábitos e limites familiares novos e de aproveitar as possibilidades da sua nova experiência.

Crianças que em sua casa são excessivamente barulhentas, que não estão acostumadas a separar sua roupa usada em um cesto especial para isso, que desmontam um armário inteiro em busca de uma camiseta, que atiram pelo chão as meias, os tênis, que não conseguem manter o banheiro em ordem depois do uso, que não guardam suas coisas depois de utilizá-las, que não ajudam nas tarefas do dia a dia, como colocar e tirar a mesa das refeições, arrumar sua cama de manhã, etc , com certeza não conseguirão adquirir esses hábitos na véspera de uma viagem e muito menos será durante esse período que aprenderão novos costumes, sem passarem e nos fazerem passar por muitos momentos constrangedores.

Tudo que diz respeito à criação de nossos filhos é, sim, nosso problema e somos responsáveis por eles e por seu comportamento até que atinjam a maioridade: está até na lei! Orientá-los diariamente nas tarefas mais corriqueiras, dando-lhes responsabilidades, exigindo que se comportem adequadamente em todas as situações, não é uma questão de "etiqueta", mas sim de respeito ao próximo, às normas sociais e de civilidade.

Para termos confiança no comportamento que nossas crianças terão nesta ou naquela situação, é imprescindível ensiná-las desde cedo que, para poderem gozar de um privilégio, antes devem aprender muitas normas e limites e demonstrarem sua capacidade de se sair bem em sua própria casa!

Nossos filhos podem e devem viajar vez ou outra sem a família, desde que bem acompanhados, para um local conhecido e seguro. Podem gradualmente ir dispensando nossa vigilância, mas não prescindem nunca de nossa orientação e de uma educação responsável desde muito cedo.

Algumas regrinhas podem ajudar todos, sejam crianças ou jovens, a serem hóspedes muito queridos: 

- Procurar não falar alto demais, assim como respeitar o sono dos outros não fazendo barulho à noite;
- Jamais interromper a conversa de adultos;
- Procurar conhecer e seguir as normas da casa onde estiver hospedado, ainda que estas sejam mais rígidas do que as de seus pais;
- Lembrar de ser cordial e respeitoso com todos os membros da casa, com os outros hóspedes, funcionários, animais de estimação etc;
- Discussões: devem ser evitadas a todo custo na casa dos outros. As conversas devem ser cordiais e é obrigatório seguir aquelas regrinhas básicas como pedir licença para levantar, respeitar os horários etc;
- Na mesa: não falar com a boca cheia de comida, usar devidamente o guardanapo, lembrar de que talheres não são armas, sentar-se corretamente nas cadeiras e conservar os cotovelos fora da mesa;
- Mostrar respeito pelo gosto e escolhas dos seus anfitriões, aceitando com carinho a presença de pessoas idosas e crianças pequenas: críticas jamais!;
- Ao se despedir, deixar uma boa lembrança, agradecendo sinceramente a hospitalidade e já se preparando para um novo convite! 

Boa viagem!





 * Maria Irene Maluf é Especialista em Psicopedagogia e Educação Especial, Editora da revista Psicopedagogia da ABPp e Coordenadora/SP do Curso de Especialização em Neuroaprendizagem do Instituto Saber/FACEPD
Site:
www.irenemaluf.com.br  


 Saudações maternais e boas férias!

Pat Lins.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

LIDANDO COM A PERDA E COM A PERDA PARA PEDRO


Lidar com a perda de um filho - ainda que seja um embriãozinho de 9 semanas - é doído, mas, saber que se tratou de um processo natural e que não podemos lutar contra a natureza e sim aceitar, afinal, os rumos naturais são sábios e inquestionáveis.

Mas, existe o que fica - onde vão parar as expectativas? Como lidar com o sonho desfeito? E toda alegria que estava sentindo, mesmo cansada de tanto enjoar? ... - e é preciso saber lidar. Encarei tudo de frente, afinal, não era imaginação, é o que é. Mas, para Pedrinho foi um baque maior. Não temos noção do qunato uma criança de 4 anos é capaz de sentir uma perda - mesmo de um irmão(ã) que nem havia nascido. Pedro chora e ficou muito triste. Chegou a dizer que não ia mais beijar minha barriga, porque não tinha nada mais "lá dentro". Fora que ainda continuava com um pouco de enjôo e ele chateado - ele chorava quando me via vomitar, queria ajudar e ficava preocupado. É uma característica dele, é cuidadoso e preocupado com os outros. - me dizia: "mas, como se não tem mais irmãozinho aí?".

O que mais me chamou a atenção e me fez redobrar os cuidados com ele foi: "pai, vou jogar uma corda para o céu, para bisa Eurides - minha avó que tem 11 anos de falecida e Peu, tem 4 anos de idade...-  segurar e me puxar para lá, para eu ver meu irmãozinho". Precicamos explicar para ele que ele não pode fazer isso, senão cai e morre, mas, não vai ver o irmãozinho, porque onde o irmãozinho dele está, só vai neném que estava na barriga da mamãe e "Papai do céu" lembrou que não era a hora de nascer e levou para guardar com Ele, num lugar separado... Ufa! Foi o que o fez parar de repetir que "queria ir para o céu". Toda noite ele chora, quietinho, em seu quarto. Depois, chama a gente e pede abraço. Fica abraçadinho conosco - eu e o pai - e diz: "meu coração tá pedindo para eu chorar, mãe, eu quero parar e não consigo...". O abraçamos firme, com carinho e muito amor  e dizemos: "então chore, filho, alivie seu coraçãozinho, para ele ficar vazio da dorzinha. Bote para fora e saiba que estamos aqui com você e seu irmãozinho está bem."

Bom, ao menos ele está vendo que os pais sentem a perda do irmãozinho, como ele fala, mas, estão tendo força para seguir. E estamos num movimento sincero, não estamos fingindo para ajudá-lo, estamos conscientes, mesmo. Só esse movimento sincero pode fazer base para Pedro. Fingir que se está bem não surte efeito real. Ele sabe que pode contar e confiar na gente e, cada vez que ele pede um abraço e recebe, ele sente que estamos ali, abertos. 

Não digo que é fácil, porque, de fato, não é, mas, o que precisa ser feito, deve ser feito e estamos fazendo: nos esforçando a cada dia, sem nos fazermos de vítmas ou culpando algo ou alguém. Como comecei falando, o que acontece naturalmente não deve ser algo ruim, e sim, algo que precisava acontecer. Oque nos cabe? Mesmo sem entender o verdadeiro motivo, aceitar - não há outra opção, mesmo - e seguir em frente. Sentir a dor e deixar passar, não eternizá-la. Existe o momento onde me isolo um pouco, choro minha dor e repito: "Deus sabe o que faz". Faço uma oração e alivio o peso que a dor traz. Esse é o meu caminho e minha maneira de caminhar. E o caminho do amor é, com certeza, o melhor: reunimos forças para seguir e temos um ao outro, não como posse, mas, como verdadeiros companheiros.

Saudações maternais,

Pat Lins.

sábado, 21 de maio de 2011

E AGORA, O QUE PASSOU É PASSADO - PERDI O BEBÊ

Enquanto uma situação não termina, um ciclo não é fechado, ainda é presente - ainda que passando, como tudo na vida. Mas, quando encerra, passa-se. É passado. 


Preciso desabafar sobre esse passado recentíssimo de perder meu segundo filho, quando seu coração parou de bater, ainda em meu ventre, por volta de 9 semanas de gestação. 

Levei duas semanas para ter certeza e confirmar o óbito fetal. Assim, tomei minha decisão - explico isso em DECISÕES EM MOMENTOS DIFÍCEIS, no "Mães na Prática" - e fui ao hospital, fazer a tal "curetagem".



Estou horrorizada com o atendimento da emergência do Jorge Valente. O detalhe: Fui atendida por volta de 9:30 de ontem – dia 19 -  me deram a medicação para dilatar o colo do útero às 10:10 a.m. Nesse meio tempo, um rapaz da recepção chamou minha prima  e disse que o hospital estava cheio e eu precisava ser transferida. Segundos depois, a enfermeira entrou em meu leito e perguntou porquê eu havia pedido transferência. Informei que não pedi, apenas autorizei diante da orientação da recepção deles de que não haveria disponibilidade de continuar o procedimento lá, pois o hospital estava muito cheio. Isso já era perto das 11h. Ela não voltou mais lá. Sequer dava orientação. Ao ser perguntada se eu precisava trocar de roupa, apenas me disse: "pergunte na recepção". Próximo a meio dia, já estava sentindo as contrações. Elas me disseram que não poderiam fazer nada, porque "eu" havia pedido para ser transferida e não cabia mais a elas darem atendimento. Uma única se prontificou e me disse que não poderiam dar mais medicamento, inclusive, porque o colo do útero precisava contrair, mas, que não era para eu começar a sentir dor, já que o procedimento da curetagem entra um sedativo logo após 3 horas da inrodução do citoteque - que no hospital tem outro nome. Eu já estava beirando as tres horas e sentia fortes dores, como um trabalho de parto, sem bebê para sair, haja vista que carregava um embrião sem vida. Nada de ambulância. Por volta das 14:30, as dores e contrações eram violentas e perdi o controle, com tanta dor e comecei a gritar - um vexame - e foi quando a ambulância imediatamente apareceu. Nenhuma enfermeira ou auxiliar veio junto, nem para abrir a porta para a maca sair. Foi preciso pedir ajuda a uma acompanhante de outro paciente, junto com minha acompanhante, para abrir a bendita porta. Na ambulância, eu perguntei ao maqueiro porque não me levaram para o centro cirúrgico e ele me disse: "mas, como, se a senhora pediu transferência para não fazer com a gente?" Gritando de dor e de raiva, disse que foi a "porcaria" da recepção que nos orientou a optar pela transferência por falta de vaga no Jorge Valente. Ele então, passou a ser mais solidário. Ficamos sabendo que a ambulância estava a minha disposição desde às 11h e que a demora foi a burocracia. Imagine, mais de 4 horas de burocracia, sabendo que foi começado o procedimento para uma curetagem... Já não me bastava a dor de saber que havia perdido um filho(a), ainda precisei passar por tudo isso? 

Chegando ao Hospital Sagrada Família – tem uma unidade dentro do Hospital Salvador, na Federação e faz jus ao nome -, aí sim, fui bem atendida. A enfermeira e a médica me perguntaram o porquê d´eu ter demorado tanto, sabendo do tempo para os procedimentos... Eu já não suportava mais ser cobrada por algo que fui vítma e disse que eu estava esperando lá, deitada no leito, sentindo as dores e sem ter acesso a qualquer informação. Elas me perguntaram o horário da introdução do tal citoteque e falei 10:10h. Me levaram na mesma hora para o centro cirúrgico, antes mesmo de finalizar o processo burocrático, porque já eram quase 15h e elas compreendiam que a dor que sentia era desumana. Numa dor de parto, o próprio bebê ajuda para sair e, num aborto? 

Oxe, em compensação, já no centro obstétrico, me sedaram e, adeus dor. De repente, eu nem sabia mais onde estava... só me via entrando pelas tirinhas do teto. Voava. Ria... kkkkkkkkkkkkkkk Olha, fiquei “doidona”. Sem noção de tempo, espaço ou qualquer coisa, ia voltando, aos poucos. Escutava as risadas e não identificava minha voz. Me peguei respondendo perguntas básica como meu nome, idade e, até tipo sanguíneo. O que me perguntavam eu respondia, certinho. Mas, sempre dando risadas sem noção. Me recordo de uma cosia ou outra. Tipo: “Dra, a senhora está aqui, comigo? Como a senhora entrou aqui?”  - estava em meio a imagens psicodélicas e acreditava que ela havia entrado naquele mundo, que nem eu sabia onde era... E, quando conseguia abrir os olhos, via as toucas da equipe e via bem de perto o anestesista se acabando de rir. Eles me diziam que eu era hilária e que os fiz dar muitas risadas com minhas histórias... Sabe Deus o que saiu de minha boca. Parecia que tinha um buraco na testa que, o que eu pensasse, saía – kkkkkkkk. Eu falei assim: “noossssaaa! Agora entendo o que um drogado passa...” E me perguntaram: “e você usa drogas?” Eu disse: “eu? Kkkkkkkk eu não. Acho que já nasci drogada”. E tome-lhe risada. Só depois soube que fiquei uns 40 minutos delirando. Eles me disseram que se desse tempo desceriam para me contar as coisas que falei. Imagine? Teve um momento que me escutei dizer: “minha perna? Esta esticada? Eu não estava naquela posição horrorosa? – as pernas ficam elevadas e amarram meus pés no alto. E agora? Eu quero espirrar...” Me responderam: “pode espirrar”. E aí, foi onda: “E como é que eu espirro? Kkkkkkkkk Não sei espirrar”. Mas, foi uma galhofada. A médica me disse que eu estava muito tensa e depois de tanta dor – cheguei a desmaiar na ambulância, segundo minha prima – a sedação tem um efeito mais forte e delirante. Ela me disse que meu útero era muito difícil para curetar e perguntou a razão de minha cesariana - com relação ao meu prinmeiro filho, cuja gravidez foi normal. Aquela história, que não é história, é fato: só é aquilo que veio para ser, senão, não é. Afinal, o que tem que ser, será. O que não, não.  Expliquei que foi o colo do útero mesmo, pois levou quase 48 h com Peu encaixado e eu não sentia nada, e o colo do útero não afinava. Ela disse que deveria ter sido isso... provavelmente, nunca consiga ter um parto normal com o útero bem fechado daquele jeito. Ela me disse que pelo que viu, não sabe como suportei tanta dor.

O importante é que deu tudo certo. Sinto umas cólicas incômodas, mas, nada grave.E, agora, agradecer a Deus; pedir que meu embriãozinho chegue aos céus e que, na hora dele vir, estou aqui.

Não foi fácil, prazeroso ou legal passar por tanta coisa, para variar, em tão pouco tempo. Descobri que estava grávida. Fiquei feliz da vida. Todo mundo curtindo. Planos - natural, né? Enjôos fortíssimos. Desanimo, sem gás para nada, apenas para dizer: "vai passar e, já, já, p bebê estará aqui fora..." E, de repente, num exame de rotina, não se detecta batimentos cardíacos. Tudo mudou de cenário. A mesma coisa passou a ser outra coisa, oposta, triste e desgastante. Encarei os fatos. Estou bem. Mas, precisei passar por umas coisinhas chatas para, mais uma vez, testar quem sou eu.

Por outro lado, venho recebendo muito carinho. Preciso agradecer a médica do Hospital Sagrada Família, não me lembro o nome, mas, me recordo do rosto, da voz e da postura firme, profissional e humana. Agradecer a toda equipe, que esteve lá e me ajudou, muito, no dia 19 de maio de 2011 - dia em que virei mais uma página de minha vida. Agradeço a meu querido médico, Dr. Giordano Matos, que é excepcional, bem como suas atendentes. Agradecer a minha mãe, meu pai, minha família todaaaaa, meu marido, meus amigos. Nessas horas, o que deve importar é saber tirar proveito do que acontece de bom. Não é fácil, mas, se esforçando, dá. Isso não me impede de ver a crise no sistema de saúde, educação, segurança e etc do nosso país. Mas, isso fica para outro post. A ambição desmedida está destruindo a vida e, quem destrói nem se dá conta. Se cada atitude fosse isolada e só atingisse a quem pratica, mas, antes, outras pessoas inocentes, "pagam o pato". 

Estou bem, de verdade. Agora, é deixar passar a raiva do Hospital Jorge Valente e de toda loucura que impera lá. Deus me livre!

Mais uma vez, eu vi que  A DOR SÓ DÓI ENQUANTO ESTÁ DOENDO, DEPOIS... PASSA! Ela precisa passar! Tudo passa! O tempo, passa. Só a vida segue. E nós podemos DEIXAR UM MUNDO MELHOR PARA OS NOSSOS FILHOS E FILHOS MELHORES NESTE MUNDO!!! Sempre começando por nós mesmos!

Beijos,

Pat Lins.


sábado, 14 de maio de 2011

DECISÕES EM MOMENTOS DIFÍCEIS

O quê fazer? Como fazer? Qual a melhor opção?

Bom, já não basta a surpresa ruim de não encontrar batimentos cardíacos no bebê, vem o dilema de o quê fazer? Como agir? Esperar, leve o tempo que levar? Intervenção médica?

De acordo com a última ultra - fiz ontem, sexta-feira 13, em outro lugar, totalizando 4 ultras em 3 lugares diferentes - não há novidades com relação ao batimento, nem evolução de nada. Não há caminho de sangue. Olhamos por vários ângulos e instantes. Colo do útero bem fechado. Pela experiência da médica e, de acordo com o que o exame apresenta, pode levar mais 3 semanas para que o aborto aconteça. Bate com o que minha médica falou, que poderia levar 1 mês para que meu corpo "expulsasse" naturalmente o embrião. Trata-se de uma angústia terrível: não sinto nada  e fico esperando "o" momento da mudança de quadro. Isso dá margem para que escute de um tudo, desde pessoas que conhecem alguém que teve hemorragia e dores insuportáveis, a pessoas que optaram por apelar para a intervenção cirúrgica, não sentiram nada e engravidaram, logo depois, sem grandes problemas. 

Aí, fico sem saber o que fazer. Como tomar a decisão certa se nenhuma é errada? Nenhuma decisão dessa será errada. Mas, de fato, conviver com a idéia de que meu bebê está morto, dentro de mim, não é agradável. Mas, pensar que pode ser algo que a medicina não saiba, também passa pela minha cabeça. Farei outra ultra semana que vem... é o que me cabe fazer... Mas, não nego que crio expectativas - lembre-se, eu também sou humana e sonho com milagre, quem não sonha?! - de que tenha sido qualquer coisa e se escute os batimentos. Se ele crescer, semana que vem estiver maior, pode ser uma prova de que tem algo estranho, mas, que ele esteja vivo... Esperar o movimento natural me dará essa certeza, de que estava morto, mesmo. Mas, esperar tanto tempo, vivendo dia-a-dia com receio do que possa acontecer, mesmo que esteja vivendo normalmente, esse receio fica martelando, sim. Como negar? A diferença é que não faço disso um entrave. Apenas, lógico, tomo algumas precauções: evito ficar sozinha em casa, com Peu, por exemplo. Meio óbvio, né? Mas, há quem acredite ser exagero meu. Paciência, faço o que penso que deva fazer. Falo do que algumas pessoas falam para que se saiba que minhas decisões e a maneira como me esforço para ser melhor não se trata de um caminho livre de obstáculos e dificuldades. Mesmo assim, sigo em paz.

Apesar de todo dilema natural, visto o contexto, meu coração está em paz, de verdade. Minha mente, sim, esta está em trabalho constante. Preciso refletir e neutralizar a agonia, em forma de pensamentos e audições... Minha mente está voltada para manter tudo em ordem. Não entro em acelerações, evito discussões... Escuto o que me falam e pondero assim: "é o que a pessoa sabe falar... será que agiria assim? muito mais fácil falar do que fazer..." e tento compreender. Não me exijo a obrigação da compreensão... tem gente que eu não faço a mínima idéia do porquê agem como agem, mas, sabe de uma? O problema não é meu. Assim, minha mente deixa de lado. Não deixa de ocupar meu tempo, onde poderia estar pensando em algo melhor. Mas, a vida é assim. Pessoas são como são e só cada um pode se ajudar e melhorar - caso queiram, né verdade? Mudar dói e requer muito mergulho em si, sem deixar de viver o tudo mais.

Enfim, manter o equilíbrio - ou se manter na busca dele, como é o meu caso... rs - requer muito equilíbrio.

Semana que vem, volto aqui para atualizar.

Saudações maternais e fiquemos bem,

Pat Lins.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

SELEÇÃO NATURAL

Toda mulher sabe que o primeiro trimestre da gravidez é um dos mais delicados e, também conhecido como período de SELEÇÃO NATURAL.

Na primeira gravidez, enjoava muito - menos do que esta... porque, nesta, tive refluxo - e fui parar no hospital, porque, na hora que agachei, para vomitar, saiu um pouco de sangue. Nossa, um susto. Foi só uma gotinha, mas, corri. Ao chegar na emergência, estava quase na hora da troca de plantão - da tarde para a noite - e a médica - minha xará-, me recebeu e informou que o aparelho de US - Ultrassonografia - estava quebrado. Conversou comigo e me "garantiu" que era um aborto e que era comum, visto que estava dentro do primeiro trimestre e que eu me acalmasse, porque tratava-se de uma seleção natural, etc. Sorte que ela não me deu nenhum medicamento, além do para enjôo. Pois, quando trocou o plantão, o médico que assumiu veio me ver e perguntou baseado em que eu acreditava ter abortado. Expliquei o parecer da colega dele e ele fez um exame de toque, me dizendo em seguida: "Só posso garantir com a US, mas, pelo que senti aqui, seu útero está fechado..." A suposição dele era que, como fica sangue de menstruação grudado no colo do útero, pode ter saído esse sangue, que fica na região externa, no momento do esforço para vomitar. Pois bem, me pediu para ficar lá, em observação, para evitar qualquer coisa. Dia seguinte, consertado o bendito aparelho, fizeram minha ultra. A primeira coisa que ouvi foi um batimento acelerado e uma bolinha linda, lá dentro e bem fixada em meu útero. Era Peu, vivinho da Silva e sem nada que demandasse risco. A hipótese do médico era a que mais se aproximava do que pode ter acontecido. Um susto, apenas. A gravidez foi normalíssima. Assim, eu fui apresentada a SELEÇÃO NATURAL e a uma coisa contrária a ela, que são médicos que não respeitam a seleção natural de cada um, em seguir sua verdadeira vocação e fazem medicina apenas porque estudaram bastante e passaram no vestibular, se formaram e se tornaram profissional de medicina, o que, para mim, é algo muito diferente de ser médico. SER médico, para mim, é um DOM. Nem todo mundo que se forma em medicina É médico. E, a depender da área que opte por trabalhar, além do dom, tem que ter JEITO... A imprudência da primeira médica poderia ter custado a vida de um embrião saudável e do meu filho.

Daí, voltei a condição de espera: espera do parto; de ver e pegar meu pequeno; de vê-lo crescer...

Hoje, vivo outra espera, a espera do sangue descer. Quando eu era menina - em minha época, 11, 12 anos era menina, ainda - eu era louca para menstruar. Vivia a espera do sangue descer. Aquele sangue mudaria minha vida, dentro de minha crença. Eu me tornaria: mocinha. Um passo para ser mulher. Romperia uma barreira e ascenderia: estava crescendo. Engraçado é que, depois que a gente menstrua, mês após mês, acha um incômodo, né? Mas, quando não vem, a gente se preocupa... risos. Ou, quando estamos querendo ter um filho, a espera dele não descer é que se instala. Pois é, os sinais em nossas vidas são tudo, já percebeu? Marcos em cada fase de nossa história. O movimento natural do nosso corpo, por mais que se tenha avanços tecnológicos, é ele quem determina as verdadeiras mudanças e transformações. Esse movimento natural que determina em que fase estamos e para a qual vamos... Por isso que, hoje, vivo um misto de cada fase dessas fases, com um agravante: a espera da perda. Nas fases anteriores, vivi a espera da mudanças alegres. As boas expectativas, dos sonhos e planos. Na fase atual, estava bem e tranquila: o embrião estava bem encaixado e crescendo. Cresceu até a 8a semana e seu coração parou de bater. 

Sábado passado, eu não tive sangramento, muito menos algo que me levasse a estar preocupada. Fui fazer uma ultra, já que, a primeira, fiz com menos de 5 semanas e não dava para escutar o coração. Minha médica pediu para que eu repetisse, para a época certa, já que, após a 7a semana é que se é possível escutar. Pois, fui fazer. Mas, o coração não batia. Ele estava bem desenvolvido. Parecia um bonequinho com cabeça, tronco e o que começavam a ser os membros. Vi tudinho e estava fácil de ver, porque estava bastante nítido. Mas, sem batimento. A hipótese é que o coração havia parado há uma semana. Fui, novamente apresentada a teoria da seleção natural, onde a natureza se incumbe de interromper uma gestação de uma criança com algum problema. Mas, o que me deixa intrigada é que:

1 - o embrião cresceu bastante e normal, da 5a para a 7/8a semana - apesar dele(a) estar com tamanho de 9 semanas;
2 - ele(a) estava bem encaixado, líquido normal...;
3 - uma semana antes, eu havia parado na emergência... por conta do refluxo. A médica da emergência, uma senhora com ar de deboche, me fez ficar de pouco mais de12:00h até quase 17h, tomando apenas remédio para enjôo e soro, sem escutar minha queixa real, que era do sufocamento pela acidez que subia do meu estômago, queimando tudo e com a sensação de que estava voltando tudo. Era como se nada descesse, apenas subisse... Só que eu já havia vomitado desde o dia anterior e o que saía era algo muito ruim, com um sabor amargo e ácido. Era abrir a boca e saía. Muito nojento. Ela veio me ver - isso num hospital bom e de nome forte, viu? - e perguntou como eu estava. Eu disse: "péssima! O negócio ácido e que queima ainda está forte e estou com a sensação de que vou sufocar." Ela, com riso debochado, me disse: "Patricia, Patricia, tenha paciência mulher. Gravidez é assim mesmo." Eu, sarcástica e desesperada, apenas disse: "Eu sei, já estive grávida antes e sei que passa. Acontece que estou me sentindo muito mal e esse líquido nojento não pára de subir me queimando e isso está me sugando as forças." Ela sorriu e saiu. Prescreveu alguma coisa e saiu. Ela prescreveu "ANTAK". Veja. eu cheguei lá por volta de 12:10h, fui atendida logo depois e só após as 17h ela foi me ver... Foi quando me passou esse remédio para o estômago, que me aliviou em menos de 15minutos. Acalmou tanto que senti fome. Me foi liberada uma refeição - pense, eu estava sentada o dia inteiro numa cadeira, na emergência - leve: sopa, inhame e suco. Nossa, comi como se fosse um banquete, naquela cadeira desconfortável e sem ter onde apoiar. Detalhe: não sou fã de sopa... Mas, tomei como se fosse a coisa mais gostosa da vida. Uma semana depois, fiz a ultra e disse que o coração do bebê parou... O que pensar?

Fui ler a bula do antak e a maioria fala que não é indicado na gravidez, principalmente, dentro do primeiro trimestre. Ele interefer nos batimentos cardíacos de quem o toma - um dos efeitos colaterais - e é capaz de passar pela placenta e, inclusive, passa na amamentação. Portanto, não recomendado a gestantes e mães amamentando... O pior: a acidez só passou naquele dia, na segunda, estava de novo... Só bebi água e voltava do mesmo jeito. Foi complicado. Eu sofria e estava desgastada, mas, repetia: vai passar! E me apegava a expectativa de que passaria e depois seria tudo melhor. Pensava no bebê. Alisava a barriga e dizia: "fica aí, viu? Mamãe tá reclamando do enjôo e dessa acidez insuportável, mas, tenho que aguentar!". 

Fiquei confusa e com uma pulga atrás da orelha: SELEÇÃO NATURAL ou FALHA MÉDICA?

Não sei se tem como comprovar... o fato é que, hoje, estou a espera do sangue descer. Não para entrar numa fase de boa mudança, mas, para uma fase de encerramento. Enquanto ele está aqui, ainda em meu ventre, tenho a sensação de que o coração vai bater... Como não sinto cólica, nem tenho perda de sangue ou sangramento, fico presa a uma falsa esperança. A realidade é que estou vivendo a espera da perda concreta. 

Estamos sempre a espera de algo... Por isso, que, apesar dessa espera, estou vivendo o aqui e agora, dando continuidade aos afazeres diários, com algumas restrições e sei que as coisas só acontecem quando têm e como têm que acontecer. Estou tendo que viver na prática o que me proponho: ter fé. Uma coisa é acreditar que Deus existe e que existe um propósito para cada coisa. Mas, a fé de que Ele sabe o que faz e ser grato é mais complicado. Então, falo: "Deus, apesar de não entender seus desígnios, sei que eles são reais. Não posso lutar contra os fatos. Mas, também, não poso agradecer de coração... Te peço perdão pela minha ignorância e peço que me capacite a entender. Um dia entendo e, nesse dia, posso te agradecer com consciência..." Sei lá, Deus é Deus e Ele deve entender meu lado humano, afinal, eu sou humana.

Bom, queria só compartilhar essa fase ruim e chata, pela qual passo. Mais uma fase ruim e delicada. Mais uma que vai passar, com certeza, porque eu quero deixar passar e estou deixando. Mas, mesmo dentro dessa fase ruim, muita coisa boa: Pedro tem me dado todo o apoio. Não falei claramente para ele, vou pedir ajuda a psicóloga. Mas, ele estava na sala da ultra, quando a médica falou que não havia batimento cardíaco e saiu. Depois, quando chegou em casa, ele se jogou na cama dele e ficou triste, abraçado ao travesseiro de anjinho dele. Perguntei se ele queria conversar com a mamãe e ele disse que não. Pedi meu beijo, que ele não havia me dado. Ele se recusou e me disse: "meu irmãozinho não está mais em sua barriga...". No dia seguinte, me abraçou e beijou muito, mas, no rosto, no braço, na perna... menos na barriga, como vinha fazendo nos últimos meses. Na segunda-feira passada - dia 09/05 - repeti a ultra e nada. Mas, antes de sair, ele estava pronto para ir a escola, me abraçou e disse: "minha princesa, eu te amo muito! Você vai para sua médica agora, é? Leve seu pijama, viu?" 

Fora Peu, meus pais, irmãos, minha sobrinha, meus tios e tias, meus primos, meus amigos - os que já estão sabendo... estou avisando aos poucos - e até meus alunos, todos estão me dando tanto apoio e carinho que não dá para se manter triste. Fora que eu sinto assim: dói, mas, opto por não sofrer, muito menos, eternizar a dor, deixo-a passar. Vejo como as pessoas estavam felizes com essa gravidez e como estão tristes, como se fosse com cada um. É bom saber que se é querida e amada. É bom saber que existem muito mais pessos que torcem por mim, do que as que me invejam e me enchem o saco. Muito bom saber que não estou sozinha! Não fujo do meu momento, mas, ele fica muito menos pesado por ser partilhado com a torcida das pessoas. Encaro de frente a realidade e não dá para sofrer pela verdade. Outra coisa, não me culpo... Sem essa de achar que falhei em alguma coisa. Com certeza, trata-se de uma cosia que não depende de mim. Se alguma amiga-mãe está passando por isso - a não ser que tome algo consciente - trate de jogar a culpa para as cucuias. Existe uma pressão de que "a mulher não soube segurar a criança...". Cai fora! Fora as besteiras que ouvi: lógico, os chatos de plantão não mudam, nem nessas horas. Uma jovem, no consultório de minha médica, veio logo falando: "tava fazendo estripulia, não foi não? Agora, vai emagrecer, dar umas caminhadas..." Ou seja, querendo me culpar ou, me fazer sentir culpada. Eu sei o que me fez engordar e o motivo da dificuldade de perder peso. Sei que minha saúde é muito boa, mesmo estando acima do peso, está tudo em ordem. Minha pressão é 9x6, por vida. E, mesmo que não fosse, não seria questão de culpa.  Então, tapem mesmo os ouvidos e deixem esse povinho falar. Porque, por mais que me suba uma raiva enorme, esse povinho nunca vai mudar... e me poupe, povinho é gentinha medíocre, com mente tacanha e pequena... isso merece crédito? Alguém que é incapaz de pensar, refeletir e ter bom senso? Se eu vou saber a causa ou não, é uma coisa. O fato é o que tenho: um embrião já sem vida que será expelido, naturalmente, a qualquer momento. Se é algo prazeroso? Lógico que não. Mas, é o que é e não preciso enfeitar nada, apenas precisei aceitar. Aceitar ajuda a curar a dor.

Aí, sim, agradeço a Deus por esse presente diário de ser amada e amar!

Boa sorte para todas as mães! Muita paz para todas nós! Eu continuo seguindo, respeitando o tempo das coisas. Respeitando meu momento e deixando que ela passe, naturalmente.

Saudações maternais,

Pat Lins.

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