sábado, 21 de maio de 2011

E AGORA, O QUE PASSOU É PASSADO - PERDI O BEBÊ

Enquanto uma situação não termina, um ciclo não é fechado, ainda é presente - ainda que passando, como tudo na vida. Mas, quando encerra, passa-se. É passado. 


Preciso desabafar sobre esse passado recentíssimo de perder meu segundo filho, quando seu coração parou de bater, ainda em meu ventre, por volta de 9 semanas de gestação. 

Levei duas semanas para ter certeza e confirmar o óbito fetal. Assim, tomei minha decisão - explico isso em DECISÕES EM MOMENTOS DIFÍCEIS, no "Mães na Prática" - e fui ao hospital, fazer a tal "curetagem".



Estou horrorizada com o atendimento da emergência do Jorge Valente. O detalhe: Fui atendida por volta de 9:30 de ontem – dia 19 -  me deram a medicação para dilatar o colo do útero às 10:10 a.m. Nesse meio tempo, um rapaz da recepção chamou minha prima  e disse que o hospital estava cheio e eu precisava ser transferida. Segundos depois, a enfermeira entrou em meu leito e perguntou porquê eu havia pedido transferência. Informei que não pedi, apenas autorizei diante da orientação da recepção deles de que não haveria disponibilidade de continuar o procedimento lá, pois o hospital estava muito cheio. Isso já era perto das 11h. Ela não voltou mais lá. Sequer dava orientação. Ao ser perguntada se eu precisava trocar de roupa, apenas me disse: "pergunte na recepção". Próximo a meio dia, já estava sentindo as contrações. Elas me disseram que não poderiam fazer nada, porque "eu" havia pedido para ser transferida e não cabia mais a elas darem atendimento. Uma única se prontificou e me disse que não poderiam dar mais medicamento, inclusive, porque o colo do útero precisava contrair, mas, que não era para eu começar a sentir dor, já que o procedimento da curetagem entra um sedativo logo após 3 horas da inrodução do citoteque - que no hospital tem outro nome. Eu já estava beirando as tres horas e sentia fortes dores, como um trabalho de parto, sem bebê para sair, haja vista que carregava um embrião sem vida. Nada de ambulância. Por volta das 14:30, as dores e contrações eram violentas e perdi o controle, com tanta dor e comecei a gritar - um vexame - e foi quando a ambulância imediatamente apareceu. Nenhuma enfermeira ou auxiliar veio junto, nem para abrir a porta para a maca sair. Foi preciso pedir ajuda a uma acompanhante de outro paciente, junto com minha acompanhante, para abrir a bendita porta. Na ambulância, eu perguntei ao maqueiro porque não me levaram para o centro cirúrgico e ele me disse: "mas, como, se a senhora pediu transferência para não fazer com a gente?" Gritando de dor e de raiva, disse que foi a "porcaria" da recepção que nos orientou a optar pela transferência por falta de vaga no Jorge Valente. Ele então, passou a ser mais solidário. Ficamos sabendo que a ambulância estava a minha disposição desde às 11h e que a demora foi a burocracia. Imagine, mais de 4 horas de burocracia, sabendo que foi começado o procedimento para uma curetagem... Já não me bastava a dor de saber que havia perdido um filho(a), ainda precisei passar por tudo isso? 

Chegando ao Hospital Sagrada Família – tem uma unidade dentro do Hospital Salvador, na Federação e faz jus ao nome -, aí sim, fui bem atendida. A enfermeira e a médica me perguntaram o porquê d´eu ter demorado tanto, sabendo do tempo para os procedimentos... Eu já não suportava mais ser cobrada por algo que fui vítma e disse que eu estava esperando lá, deitada no leito, sentindo as dores e sem ter acesso a qualquer informação. Elas me perguntaram o horário da introdução do tal citoteque e falei 10:10h. Me levaram na mesma hora para o centro cirúrgico, antes mesmo de finalizar o processo burocrático, porque já eram quase 15h e elas compreendiam que a dor que sentia era desumana. Numa dor de parto, o próprio bebê ajuda para sair e, num aborto? 

Oxe, em compensação, já no centro obstétrico, me sedaram e, adeus dor. De repente, eu nem sabia mais onde estava... só me via entrando pelas tirinhas do teto. Voava. Ria... kkkkkkkkkkkkkkk Olha, fiquei “doidona”. Sem noção de tempo, espaço ou qualquer coisa, ia voltando, aos poucos. Escutava as risadas e não identificava minha voz. Me peguei respondendo perguntas básica como meu nome, idade e, até tipo sanguíneo. O que me perguntavam eu respondia, certinho. Mas, sempre dando risadas sem noção. Me recordo de uma cosia ou outra. Tipo: “Dra, a senhora está aqui, comigo? Como a senhora entrou aqui?”  - estava em meio a imagens psicodélicas e acreditava que ela havia entrado naquele mundo, que nem eu sabia onde era... E, quando conseguia abrir os olhos, via as toucas da equipe e via bem de perto o anestesista se acabando de rir. Eles me diziam que eu era hilária e que os fiz dar muitas risadas com minhas histórias... Sabe Deus o que saiu de minha boca. Parecia que tinha um buraco na testa que, o que eu pensasse, saía – kkkkkkkk. Eu falei assim: “noossssaaa! Agora entendo o que um drogado passa...” E me perguntaram: “e você usa drogas?” Eu disse: “eu? Kkkkkkkk eu não. Acho que já nasci drogada”. E tome-lhe risada. Só depois soube que fiquei uns 40 minutos delirando. Eles me disseram que se desse tempo desceriam para me contar as coisas que falei. Imagine? Teve um momento que me escutei dizer: “minha perna? Esta esticada? Eu não estava naquela posição horrorosa? – as pernas ficam elevadas e amarram meus pés no alto. E agora? Eu quero espirrar...” Me responderam: “pode espirrar”. E aí, foi onda: “E como é que eu espirro? Kkkkkkkkk Não sei espirrar”. Mas, foi uma galhofada. A médica me disse que eu estava muito tensa e depois de tanta dor – cheguei a desmaiar na ambulância, segundo minha prima – a sedação tem um efeito mais forte e delirante. Ela me disse que meu útero era muito difícil para curetar e perguntou a razão de minha cesariana - com relação ao meu prinmeiro filho, cuja gravidez foi normal. Aquela história, que não é história, é fato: só é aquilo que veio para ser, senão, não é. Afinal, o que tem que ser, será. O que não, não.  Expliquei que foi o colo do útero mesmo, pois levou quase 48 h com Peu encaixado e eu não sentia nada, e o colo do útero não afinava. Ela disse que deveria ter sido isso... provavelmente, nunca consiga ter um parto normal com o útero bem fechado daquele jeito. Ela me disse que pelo que viu, não sabe como suportei tanta dor.

O importante é que deu tudo certo. Sinto umas cólicas incômodas, mas, nada grave.E, agora, agradecer a Deus; pedir que meu embriãozinho chegue aos céus e que, na hora dele vir, estou aqui.

Não foi fácil, prazeroso ou legal passar por tanta coisa, para variar, em tão pouco tempo. Descobri que estava grávida. Fiquei feliz da vida. Todo mundo curtindo. Planos - natural, né? Enjôos fortíssimos. Desanimo, sem gás para nada, apenas para dizer: "vai passar e, já, já, p bebê estará aqui fora..." E, de repente, num exame de rotina, não se detecta batimentos cardíacos. Tudo mudou de cenário. A mesma coisa passou a ser outra coisa, oposta, triste e desgastante. Encarei os fatos. Estou bem. Mas, precisei passar por umas coisinhas chatas para, mais uma vez, testar quem sou eu.

Por outro lado, venho recebendo muito carinho. Preciso agradecer a médica do Hospital Sagrada Família, não me lembro o nome, mas, me recordo do rosto, da voz e da postura firme, profissional e humana. Agradecer a toda equipe, que esteve lá e me ajudou, muito, no dia 19 de maio de 2011 - dia em que virei mais uma página de minha vida. Agradeço a meu querido médico, Dr. Giordano Matos, que é excepcional, bem como suas atendentes. Agradecer a minha mãe, meu pai, minha família todaaaaa, meu marido, meus amigos. Nessas horas, o que deve importar é saber tirar proveito do que acontece de bom. Não é fácil, mas, se esforçando, dá. Isso não me impede de ver a crise no sistema de saúde, educação, segurança e etc do nosso país. Mas, isso fica para outro post. A ambição desmedida está destruindo a vida e, quem destrói nem se dá conta. Se cada atitude fosse isolada e só atingisse a quem pratica, mas, antes, outras pessoas inocentes, "pagam o pato". 

Estou bem, de verdade. Agora, é deixar passar a raiva do Hospital Jorge Valente e de toda loucura que impera lá. Deus me livre!

Mais uma vez, eu vi que  A DOR SÓ DÓI ENQUANTO ESTÁ DOENDO, DEPOIS... PASSA! Ela precisa passar! Tudo passa! O tempo, passa. Só a vida segue. E nós podemos DEIXAR UM MUNDO MELHOR PARA OS NOSSOS FILHOS E FILHOS MELHORES NESTE MUNDO!!! Sempre começando por nós mesmos!

Beijos,

Pat Lins.


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