quinta-feira, 26 de maio de 2011

LIDANDO COM A PERDA E COM A PERDA PARA PEDRO


Lidar com a perda de um filho - ainda que seja um embriãozinho de 9 semanas - é doído, mas, saber que se tratou de um processo natural e que não podemos lutar contra a natureza e sim aceitar, afinal, os rumos naturais são sábios e inquestionáveis.

Mas, existe o que fica - onde vão parar as expectativas? Como lidar com o sonho desfeito? E toda alegria que estava sentindo, mesmo cansada de tanto enjoar? ... - e é preciso saber lidar. Encarei tudo de frente, afinal, não era imaginação, é o que é. Mas, para Pedrinho foi um baque maior. Não temos noção do qunato uma criança de 4 anos é capaz de sentir uma perda - mesmo de um irmão(ã) que nem havia nascido. Pedro chora e ficou muito triste. Chegou a dizer que não ia mais beijar minha barriga, porque não tinha nada mais "lá dentro". Fora que ainda continuava com um pouco de enjôo e ele chateado - ele chorava quando me via vomitar, queria ajudar e ficava preocupado. É uma característica dele, é cuidadoso e preocupado com os outros. - me dizia: "mas, como se não tem mais irmãozinho aí?".

O que mais me chamou a atenção e me fez redobrar os cuidados com ele foi: "pai, vou jogar uma corda para o céu, para bisa Eurides - minha avó que tem 11 anos de falecida e Peu, tem 4 anos de idade...-  segurar e me puxar para lá, para eu ver meu irmãozinho". Precicamos explicar para ele que ele não pode fazer isso, senão cai e morre, mas, não vai ver o irmãozinho, porque onde o irmãozinho dele está, só vai neném que estava na barriga da mamãe e "Papai do céu" lembrou que não era a hora de nascer e levou para guardar com Ele, num lugar separado... Ufa! Foi o que o fez parar de repetir que "queria ir para o céu". Toda noite ele chora, quietinho, em seu quarto. Depois, chama a gente e pede abraço. Fica abraçadinho conosco - eu e o pai - e diz: "meu coração tá pedindo para eu chorar, mãe, eu quero parar e não consigo...". O abraçamos firme, com carinho e muito amor  e dizemos: "então chore, filho, alivie seu coraçãozinho, para ele ficar vazio da dorzinha. Bote para fora e saiba que estamos aqui com você e seu irmãozinho está bem."

Bom, ao menos ele está vendo que os pais sentem a perda do irmãozinho, como ele fala, mas, estão tendo força para seguir. E estamos num movimento sincero, não estamos fingindo para ajudá-lo, estamos conscientes, mesmo. Só esse movimento sincero pode fazer base para Pedro. Fingir que se está bem não surte efeito real. Ele sabe que pode contar e confiar na gente e, cada vez que ele pede um abraço e recebe, ele sente que estamos ali, abertos. 

Não digo que é fácil, porque, de fato, não é, mas, o que precisa ser feito, deve ser feito e estamos fazendo: nos esforçando a cada dia, sem nos fazermos de vítmas ou culpando algo ou alguém. Como comecei falando, o que acontece naturalmente não deve ser algo ruim, e sim, algo que precisava acontecer. Oque nos cabe? Mesmo sem entender o verdadeiro motivo, aceitar - não há outra opção, mesmo - e seguir em frente. Sentir a dor e deixar passar, não eternizá-la. Existe o momento onde me isolo um pouco, choro minha dor e repito: "Deus sabe o que faz". Faço uma oração e alivio o peso que a dor traz. Esse é o meu caminho e minha maneira de caminhar. E o caminho do amor é, com certeza, o melhor: reunimos forças para seguir e temos um ao outro, não como posse, mas, como verdadeiros companheiros.

Saudações maternais,

Pat Lins.

2 comentários:

  1. sabe por mais q ele esteja sofrendo pelo menos vcs foram sinceros e abriram o jogo.
    Parabens!!!
    Muita gente no seu lugar ia inventar historias. Pouca gente neste mundo tem coragem de ser sincero e dizer a verdade as crianças.
    Bjs mil sou sua fã

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  2. Oi, Dea! Obrigada! Bom, de alguma maneira tive que criar uma história... dizer que o irmãozinho morreu não dizia muito para ele... na verdade, ele estava na sala da ultra, quando a médica informou que o coração do bebê havia parado... ele entendeu e saiu da sala, nas mesma hora. Precisei complementar que o bebê não morreu e sumiu, tive que amenizar o peso de perda para "ele foi para o céu". Foi só uma maneira de informar pelo lado lúdico. É engraçado como as crianças enxergam a morte de outra maneira... como se eles soubessem que não se morre de verdade. Ele está encarando melhor e no tempo dele cicatrizará. Para mim, sinceridade é a bsae de tudo. Pedro já nesceu em meio a turbulência: eu com DPP e ele bebezinho. Muita coisa que ele supera desde que chegou ao mundo, devo a ele o mínimo de honestidade. Obrigada, mais uma vez pela participação e comentário aqui. E, pelo visto, somos fãs uma da outra - rs. Beijos.

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