quinta-feira, 31 de maio de 2012

"MÃE, VOCÊ FALOU QUE IA ME DAR UM IRMÃOZINHO, LEMBRA?"

Depois que perdi o bebê, ano passado, tive a oportunidade de repensar muitas coisas, inclusive a idéia de "dar" um irmão ao meu outro filho.

Eu não vou "dar" um irmão a ele. Eu iria ter outro filho e, consequentemente, irmão de Peu. 

O filho não é nosso, ele é um serzinho que nasce através de nós e tem vida própria, não se trata de uma coisa, um brinquedo.

Me peguei escutando outras pessoas me perguntarem ou, simplesmente afirmarem, coisas do tipo:

- "Você não vai querer tentar de novo, não? Dar um irmãozinho a Peu?"
- "Você não vai dar um irmão a Peu, não? É muito ruim ser filho único...."
- "Você tem que ter outro filho. Dar um irmão a Pedrinho. Olha, quem tem um, não tem nenhum... Vai que um morre... Você tem o outro...".

Bom, quem me conhece - principalmente essa eu que se resgatou, que se redescobriu, se recriou e surgiu - deve imaginar minha expressão e as respostas que segurei para não saírem. Ponderei. Compreendi essas pessoas que emitiram essas frases. Não tive raiva. Tive compaixão. Uma pessoa que pensa que um filho substitui outro é porque deve ter sido substituído por muitas coisas na vida... sei lá. O que me peguei refletindo mais foi o verbo DAR. 

Gente, mães amigas, mulheres, pais, homens... todo mundo... a gente não dá um irmão para o outro. Quem tem mais de um filho tem mais de um filho que, seguindo a ordem lógica, são irmãos. 

Isso me remete ao sentimento de posse que temos com relação aos nossos rebentos - em meu caso, ao meu rebento.

Eu tenho um grave problema pessoal: não sei deixar uma pergunta sem resposta, por mais bizarra que seja essa pergunta. E, hoje, respondo, diante das mesmas perguntas, a mesma resposta: "não sei se vou ter outro filho... Querer eu até quero, mas, para mim, há uma grande e enorme distância entre querer e  ser a hora de ter...".

Não posso deixar de observar as caras de espanto. Mas, isso eu já mudei em mim: já não me sinto na obrigação de responder a tudo, muito menos às perguntas não verbalizadas. Sabe, eu me dou o direito de não falar mais nada - nem me frente ao juíz... (risos). Pode parecer frieza, ou falta de educação minha, mas diante da falta de educação de quem pergunta o que não é da conta, nem me ocupo com isso, apenas, deixo a lacuna no ar. Somos muito invasivos e caras de pau, mesmo. Tento diminuir isso em mim para poder agir assim.

Enfim, quem quer ter outro filho, penso eu, que tenha, mas, com o pensamento certo: colocar mais um filho no mundo. Não "ter" um filho para si ou "dar" um irmão para o outro filho. Isso é se dividir. Mãe tem que saber se multiplicar, senão, cria filhos como concorrentes. Minha mãe se multiplicou em três, como mãe e em mil como pessoa - porque todo mundo quer um pedacinho dela, afinal, é uma fofa e gostosura de pessoa. E deu conta nas doses de amor a medida que cada um requeria e ela podia dar.

De uns tempos para cá, quando minha ficha caiu para esse pensamento, e Peu me pergunta: "mãe, você lembra que você ia me dar um irmãozinho? Eu quero um irmão!" eu, além de não me sentir cobrada e na obrigação de satisfazer esse pedido dele, coloco com calma e clareza: "filho, para mamãe ter outro filho, outras coisas precisam crescer (...) e, outra coisa, o bebê nasce pequenininho, como você nasceu e vai querer que a mamãe dê uma atenção maior, porque ele não vai saber andar, não vai saber falar... e ele não será um boneco, não. Ele é uma pessoinha como você, como seu priminho Gui - filho do meu irmão que é bebezinho (bebezão, na verdade, porque o trocinho é parrudo e gostoso que só) - e depois é que cresce..." . Essa desculpa de "querer dar um irmão" é onda. Se a mulher sente que quer ter um filho e que tem condições  de ter, que tenha, mas, com consciência, não por se sentir cobrada. 

Querer ter outro filho eu quero e muito, mas, vendo minha realidade como está, nem tenho como colocar isso em prática. E, por Deus, se eu não quiser mais ter, mesmo com essa vontade íntima, não me sinto a pior das criaturas. Pelo contrário, fico imensamente feliz por pensar assim e agir assim. Trabalho para minha situação financeira mudar, como qualquer pessoa, mas, plano de saúde, alimentos, escola, tempo para dedicar e estar perto... tudo isso eu pondero, sim. Se um dia, antes dos meus 38 anos a balança equilibrar, condição favorável. Senão, só se Deus quiser - risos.

Ah, tem outra coisa que, normalmente, vem associada a essa questão de querer "dar" essa presente ao irmão - primeiro filho - que é a idéia de que mais de um filho trabalha o "não egoismo". Gente, pelo amor de Deus! Isso impede nada? Nem vou citar exemplos aqui, para não parecer perseguição, mas, francamente, egoismo vai muito além de um filho ou uma dúzia de filhos... 

Sim, tem a questão do "tesouro". Antigamente, "macho que era macho" tinha que ter mais de um dezena de filhos, porque era sinal de que "dava no couro". Êta, "nóis", sô! E a mulher, lá, "embuxada" com um tesouro após o outro. Olha os resquícios, viu? Muda a maneira como expressamos, mas, a condição permanece sem a gente se dar conta... E as mulheres que acham que quanto mais filho maior o status... cuidado com nossa maneira de pensar. E essa de que vem pela vontade de Deus eu questiono. Deus nos criou com um propósito, certo? Mas, nos deu uma coisinha que mal sabemos utilizar: o livre arbítrio. A gente escolhe o caminho. E jogando um monte de semente e ver nascer um monte de pé de filho é descontrole e pode ser, até, fuga da responsabilidade com a própria vida... Fiquemos atentas a nós mesmas.

A gente precisa dar mais leveza a vida sem precisar fantasiar, né, não!? Um outro filho não é um presente para o anterior. Gente, em vez de fazermos promessas e promessas, devemos nos libertar e viver, sabendo o que quer fazer e fazendo o que precisa ser feito. Foco, meta, objetivo. Consciência. Entendimento.

Saudações maternais,

Pat Lins.

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