terça-feira, 22 de maio de 2012

NESSA TERRA DE GIGANTES...


Katia Lanto, uma grande amiga, atriz talentosa e mãe de Lanto - melhor amigo de Peu, mais velho do que este apenas alguns minutos - observou uma cosia muito bacana: "hoje em dia parece que não há espaço para as crianças serem crianças...".  Volta e meia eu desabafo aqui sobre esse questionamento, mas, quando vejo que outra mãe também vê e sente isso, acende a luzinha vermelha.

Lembrei do pai de um coleguinha de Peu, ano passado, os meninos recém completando 5 anos e ele questiona na roda de pais/mães: "Vocês estão satisfeitos com a escola? Eu fico preocupado com quando meu filho for fazer vestibular... Tô pensando em colocar na escola X porque já prepara o aluno desde pequeno...". Bom, o menino continua lá, graças a Deus. Na hora eu apenas disse: "Eu penso que o mundo já está tão acelerado que eu prefiro permitir meu filho ser criança e confio muito na escola. Fora que estão me ajudando a lidar com o comportamento de Peu e isso me ajuda a firmar a base de pessoa, que para mim é mais importante. Conheço um monte de gente que estudou aqui e em vez de dificuldade tiveram muita facilidade em estudar e fazer o vestibular. Fora que muitos são grandes profissinais. Depende de cada um, também.". E é verdade! Lógico que eu sei que a criança tem muito a aprender. E tem muito o que responder em avanços na escola, também. O que me preocupa é O QUE ESTAMOS FAZENDO PARA MELHORAR ESSE CAOS, ANTES QUE SE INSTALE UMA CRISE PIOR DE FALTA DE VALORES, DE FALTA DE CARÁTER, DE FALTA DE ÉTICA...? O vestibular é apenas uma parte da vida do ser humano, para ingresso na universidade e galgar a vida profissional. Infelizmente, a vida profissional vem tendo mais destaque, afinal, vivemos os estilo de vida do consumo e lembrar o quanto era bom brincar nas ruas fica apenas numa pseudo-saudade. 

Eu estava entrando numa de dar tudo o que Pedro pedisse. Me sentia culpada por ter ficado sem trabalhar por um tempo - por conta da DPP - e por termos ficado apertados por alguns anos e ouvia Peu dizer: "vou pedir ao meu pai que ele tem dinheiro..." que quando voltei ao mercado de trabalho, ele pedia, eu: "tome". Até oferecia: "quer filho?". De repente, ele começou a ver as propagandas na TV e tudo ele queria. Me dei conta de que eu caíra na teia do orgulho e estava era criando um problema maior. Pedro precisava era correr, brincar com outras crianças - coisa que eu estava sem tempo para fazer e sem condições de pagar uma babá - até hoje... pelo menos, aprendi a organizar o tempo que tenho -, para dar esse apoio logístico e de distribuição... (risos). Eu nunca acreditei que compras alegrasse uma mulher, mas bem sei que sair de um shopping cheia de sacola cheia de roupa, sapato, bolsa e etc faz a gente se sentir "uma linda mulher". Depois, chega em casa, guarda tudo, vai usando e pronto, o encanto termina... Ou seja: superficialidade. O bem estar momentâneo é momentâneo, passageiro, efêmero... volátil, fadado a terminar antes de começar. Parei. Ele reclama: "Você não quer comprar para mim, sua malvada!" e eu digo, com convicção, porque essa sou a EU de verdade: "Peu, nem tudo que a gente quer a gente precisa comprar..." e proponho algo legal para fazermos juntos. Lógico, não posso negar que vivemos a sociedade do consumo, porque não sou eu quem afirma isso, é a própria característica de nossas sociedade. Negando a realidade a gente não tem como transformá-la. Dei sorte de começar a me relacionar - ainda que virtualmente - com outras mães engajadas nessa causa de estabelecer valores universais e atemporais, e conheci algo que me deixou mais feliz: PROJETO CRIANÇA E CONSUMO. Bom, a gente precisa desconstruir muita cosia em nós, antes de tudo, aceitar e entender que vivemos na era do capitalismo, que precisamos pagar contas, mas, que dinheiro é para pagar conta e não comprar felicidade. Felicidade não vem embrulhada para presente, a gente faz o presente melhor, no dia a dia e com isso, plantamos, construímos o caminho para a felicidade. Trata-se de uma conquista, não um direito adquirido. Nem adianta entrar na justiça, juiz algum tem esse poder. 

Vivemos tanto na cobrança de ter mais, para deixar para os nossos filhos - e na medida certa, é saudável, afinal, como falei antes, a gente não pode negar a realidade e o mundo parece estar a venda... até a ciência, hoje, só recebe investimento aquilo que é comercial... Deixemos isso para o AQUI E AGORA, porque lá é o espaço, meu desabafódromo para esses assuntos -  que nos tornamos hipócritas em potencial e na prática. Queremos que nossos filhos sejam crianças, mas, os privamos de serem crianças... Em vez de sentarmos e desenharmos com eles, a gente sai e compra logo um brinquedo que só falta levar a criança ao parque - olha, que se isso acontecer e virar moda... o estilo de consumo adere e passa a fazer parte da vida... 

A gente vive um mundo com rapidez nas informações, entretanto, com pouco critério e pouco tempo para aferir se é algo que procede ou um trote generalizado. Com a web, que veio com uma boa intenção, o inferno que está cheio de boas intenções descobriu a porta aberta e se instalou entre os homens e o trote passou a ser um vírus que destrói muito mais, que invade tudo e que desrespeita a tudo e a todos. Não vejo a internet como algo ruim, pelo contrário, sabendo usá-la ela é extremamente útil - "olha 'nós' aqui!" - o que preocupa é se sabemos dar o devido lugar a ela e se sabemos passar isso aos nossos filhos: o equilíbrio. O saber entrar e sair. Toda essa rapidez, essa acessibilidade - engraçado é que os custos, mesmo com todo avanço tecnológico, onde todo avanço tem a proposta de diminuir o esforço, o gasto e o custo... , continuam altos... -, toda essa dependência do Google - o atual "pai dos burros" ou "guru" ou "sabe tudo"... há quem diga: "se não tem no google, então, não existe..." - nos poda, nos limita. Imaginemos que há grupos que querem abolir a escrita manual... Imagine quando faltar energia, nossas crianças param de viver, é isso?! Para mim, falta equilíbrio aí. Os meninos nem precisam que os ensine a digitar, já fazem isso instintivamente. Eu utilizo o ambiente virtual e tecnológico com Pedrinho, mas, sento com ele e exercitamos a escrita - coisa que ele tem a maior preguiça para fazer e demonstra desinteresse... por isso, diminuí a permissão de acesso ao computador e aos jogos. Ele pode, como digo para ele, mas, tudo tem hora. 

Nessa terra de gigantes onde gigante deve ser a fortuna que os jovens devem fazer e cada vez mais jovens, a terra real, de terra, mesmo, onde podemos pisar, onde podemos interagir, onde podemos ser muda de cenário e cede espaço para as fazendinhas virtuais e os campos repletos de verdes e sem poluição, das telas e dos jogos virtuais. E o planeta reclama dos 7 bilhões de habitantes que não cuidam dele. Nossa mãe natureza quer nos educar, mas, a gente quer é destruí-la. Como ensinar nossas filhos a respeitar o espaço onde vivem? Qual a motivação que eles terão, se crescem em meio aos caos? E aí? A gente pode mudar o mundo? Não. Não de vez, mas, aos pouquinhos, sim. Se começarmos a mudar nossas condutas, passaremos com mais verdade aos nossos pequenos e eles poderão ser crianças e não "a salvação do planeta". Muita pressão para eles. É como um político que não faz nada durante seu mandato e quando o novo assume, recebe a "galinha pulando". 

Queremos que as crianças façam silêncio sepulcral - não precisa ser como Pedrinho, que fala pelos cotovelos, pelos calcanhares e por um monte de lugar, porque além de não calar a boca, não para os pés, seu repertório de perguntas e questionamentos são inesgotáveis, seu extinto de explorador extrapola... é bonitinho, eu sei, mas, tudo em excesso é sobra, né verdade? E eu e meu marido também temos que nos ajustar nessa terra de gigantes e de contas a pagar no final do mês... - e ajam como adultos. Uma coisa é educação, cordialidade, outra coisa é querer que a criança vire estátua. Evito estar com Peu em meio a adultos que esqueceram que já foram crianças e que gritavam, corriam e faziam muito mais estripulias, até porquê tinham mais espaço... Parece que depois de adulto a gente tem que ser "chato". Como uma criança vai crescer e ser adulto? Outro chato. Repetimos a chatice... Me lembro quando eu era criança... era doida para ser adulta e achava que adulto sabia tudo, afinal era sempre a mesma coisa: "isso é coisa de adulto", "isso é assunto de adulto"... e de fato procede, mas, todo excesso é sobra... Quando entrei no mundo adulto, ninguém veio abrir a porta e dizer: "seja bem vida!". Nossa, eu vi que os adultos gostam de ser CHATOS, porque, são adultos. Que correlação é essa, eu não sei. E nunca encontrei adulto e chatice como sinônimos - antes fossem antônimos... seria mais legal. Um adulto legal é doido ou irresponsável - esclarecendo, existem adultos irresponsáveis, eu sei. Vi que os adultos não se entendem e se criticam. As crianças sabem brincar, discutir, brigar e se perdoam. Criança não quer ser melhor do que a outra - até um adulto colocar isso na cabeça delas e falar: "viu, fulano faz, você não...". Criança fica à vontade para discordar. Podem sair no tapa, mas, após a explosão, se entendem. O desentendimento faz parte do processo. O "reentendimento" é a consequência. Não falo dos exageros... Pedrinho, por exemplo, quando contrariado, explode como um leão... A gente vai ensinando que existem outras maneiras mais legais de resolver um problema e um dia ele entenderá, com fé em Deus e em nossos esforços.

Nessa terra de gigantes, onde os pequenos podem ser eles mesmos? Nos playgrounds cheios de restrições? Aqui, por exemplo, pelo regimento interno, nem velotrol é permitido. Tem o parquinho minúsculo, a mini-quadra e a piscina, mas, nem um taquinho de área verde. Preocupados com segurança, nem nos demos conta da falta de espaço. Nos inserimos na selva de pedra, entre os pés de prédio - e, de certa forma, com razão... afinal, ainda não temos condições de morar numa casa em um condomínio "fechado". Aí, me pergunto: é ou não uma tentação esse mundo virtual? Nele você nem lembra da vida que passa. Nele, você pode ser quem quiser, que nem vontade de ser quem é se faz necessária... e é aí que mora o perigo. Pedro quer correr dentro de casa e eu fico no pé: "Peu, mora gente aqui embaixo...". As vizinhas de cima só faltam derrubar o meu teto. Eu entendo que são pré-adolescentes, mas, nem à noite temos trégua. Não reclamo. A única vez que interfonei e com toda educação foi ano passado, quando estava grávida e enjoando muito. Houve um momento que o remédio fez efeito e o enjôo deu uma leve parada. Olha o arrastar de cama... Pedi que somente naquele momento, tomassem cuidados, porque eu estava muito mal e a vizinha não gostou... Eu sei que quando a gente reclama do barulho que o filho faz é depois de já ter feito... Fora que em edifícios, o barulho ecoa de um lado ao outro... Certa vez, num outro lugar que moramos, raramente parava em casa - Peu ficava mais com minha mãe - e só conhecemos uma vizinha de porta... eramos todos vizinhos e estranhos... Era tarde da noite e um barulho na casa da bomba parecia um móvel pesado sendo arrastado, a vizinha que morava logo abaixo, que nunca me dera um "bom dia", interfonou para a portaria que me interfonou e pediu que eu pedisse a meu filho que parasse de fazer barulho... Detalhe: Pedro fazia barulho era na casa de minha mãe, pois passava o dia inteiro lá; só chegava em casa dormindo. Eu disse: "Impossível, meu amigo! Meu filho está dormindo. E eu já estava deitada. O barulho é lá em cima, na casa da bomba.". A vizinha não quis me ouvir. Nunca me deu um retorno, nem para se desculpar ou esclarecer. E é nesse mundo de gigantes que vivemos: de intolerância de de falta de informação, ironicamente, em meio a era da informação... Com minha vizinha aqui de cima eu fiz questão de deixar claro para ela que sei que criança faz barulho e isso não me incomodava - e é de verdade - mas, que só naquele momento eu precisava de compreensão. Ela não gostou. Eu compreendi a vizinha que morou embaixo de mim, porque apesar de não saber quem ela é, ela sabia que eu tinha um filho pequeno e julgou por ela mesma, que ele estava fazendo barulho... - na época ele nem tinha 2 anos... - e, também, não quis escutar nada além do que ela queria ver e que era, então, "a verdade!". Eu que nem parava em casa devia ter a fama de barulhenta, porque aquela casa de máquina fazia um barulho horrível e não sei o que era, mas, parecia um barulho de mesa pesada sendo arrastada... A criatura nem para imaginar que um menino de menos de 2 anos nem teria como arrastar algo que fizesse aquele barulhão. Hoje, eu reclamo muito, porque ele corre, pula, saltita e vive a infância que, se fosse na rua, não teria problema algum. Mas, chamo a atenção dele. Sorte da vizinha que quando ela chega, ele já desacelerou... Mas, vejamos o que somos e como agimos em nossas relações, imagine o que passamos aos nossos pequenos, nessa terra de gigantes fechados em si?


Tudo isso é para lembrar que, se você achou esse texto denso, pesado, cansativo... imagine a realidade dos nossos filhos, reféns da realidade dessa sociedade do consumo e do medo e sem espaço entre os gigantes para serem crianças? Como podemos nos educar melhor, nos ajudarmos para, assim, ajudarmos nossos pequenos a terem uma oportunidade melhor e não o peso de "salvarem" o planeta do que fazemos com ele? Que gigante para uma criança seja a possibilidade de um futuro melhor, dentro de uma bela e gigantesca roda gigante!

Saudações e reflexões maternais,

Pat Lins.


Vale a pena ler:

2 comentários:

  1. eh Pati, agradeço a atenção e seu texto não está denso não, está ótimo, bastante questionador e sugestivo! frases marcantes: "Muita pressão para eles" acho que o mundo está assim para os adultos tb e como as crianças sentem tudo elas só recebem a pressão sem entender o que é, só sentem que é pra empurrar tb. Daí a nossa aprendizagem de como adquirir uma estrutura para darmos o salto segurar essa "bola de canhão" tornando o impacto nulo para nossos pequenos, se é que é possível. Descobri que a criança aprende a ter limites no cumprimento de uma rotina diária que preencham as necessidades de seu crescimento. No entanto, inserir isso diariamente, parece simples, mas é o meu grande desafio e vejo que o tempo passa rápido quando não conseguimos essa ordem tão natural para a vida e perdemos de plantar, cuidar e aguardar os bons frutos...
    bjs Katia Lanto

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  2. Pat, excelente reflexão e acho que a maternidade é isso aí: um exercício diário de paciência, reflexão e atitudes que sejam coerentes com os valores que queremos passar para os nossos filhos. Fico muito preocupada também com o consumismo exacerbado, e até tento proteger meus filhos disso, mas enfrento muita dificuldade, porque não é fácil concorrer com a TV, com as lojas de brinquedos, com as propagandas etc. Eu estou sempre correndo atrás de outras opções, procurando trazer pra eles um mundo mais alegre, menos esteriotipado, menos rotulado e promovendo o contato com as diferenças. Não é fácil, mas é o mínimo que posso fazer pra tentar consolidar tudo aquilo que acredito ser fundamental para uma infância saudável. Bjo grande!

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