sexta-feira, 6 de julho de 2012

MÃE: FADA E BRUXA

Imagem: Sonhos e Crochês
O maior dilema de "ser mãe" é aceitar que somos fadas e bruxas!

Em verdade, eu penso que esse dilema não seja apenas das "mães", mas, do ser humanos em geral. Nós temos uma imensa dificuldade em aceitarmos que somos uma dualidade e não devemos nos culpar, muito menos nos limitar e acomodarmos a essa característica. 

Conversando com uma amiga - que tem o filho da mesma idade de Peu - ela me disse que ia levá-lo ao psicólogo porque ela não sabia como agir com ele... Ela temia que o filho ficasse com raiva dela... Tanto que ela me disse que a maioria das vezes ela faz o que ele quer, para evitar atritos. 

Um psicólogo não é mágico, muito menos Deus. Seria ótimo ela fazer terapia. Em geral, a maternidade nos aflora muito mais dilemas e conflitos internos do que conseguimos identificar. Eu tenho muitos dilemas - como todo mundo - mas, nunca houve em mim, uma célula, um átomo que me fizesse entender que o filho não pode escutar um "não". Eu sei que sou muito rígida com Peu e estou aprendendo a flexibilizar aos poucos. Uma grande amiga me alertou para isso em mim; refleti e concordei. Quando comecei a ser mais flexível e entender que Pedro não é doente mas é diferente, tem uma inteligência aguçada e uma cognição elevada, vi que eu teria que ser mais criativa. Mesmo assim, deixar o "não" nunca entrou em questão. Noemia sempre me diz que os limites a gente dá com exemplo, no dia a dia e que o "não" bem colocado é de suma importância. Isso me faz ver o quanto a gente se ilude acreditando que a maternidade, o ato e fato de parir, de colocar um ser no mundo traz junto o juízo, o equilíbrio, a serenidade e a capacidade de acertar sempre. Se a gente não aceitar essa questão com consciência, seremos "amiguinhas" - no sentido de ser criança, da mesma idade - dos filhos. Mãe é autoridade e isso não é falta de amor, muito menos uma desculpa para o autoritarismo. Pai e mãe são as referências dos pequenos. Se a gente não sabe ouvir e receber um "não" como parte - só podemos escutar "sim" ou "não" -, como vamos saber dizer para os filhos? É bom fazer terapia, se conhecer e se permitir crescer como pessoa, sempre, principalmente, como mãe.

O filho dessa minha amiga ficou uma tarde comigo e Peu. Começou a chover e pedi que ele saísse da chuva e se protegesse na parte coberta. Ele me mirou com uma raiva e disse, com os bracinhos de pingo de gente - seria muito cômico, se não fosse a seriedade que ele deu... - abertos: "eu não posso fazer nada?". Fiquei perdida... "Como assim, 'não pode fazer nada'? Você quer brincar na chuva e ficar todo molhado? Aí, você é quem sabe... Eu prefiro brincar na parte coberta e, quando a chuva parar, eu vou para a parte aberta.". Ele me fitou com muita raiva. Fez um bico enorme e chegou perto de Peu e disse alguma coisa sobre mim e deram muita risada. No mínimo, me chamaram de bruxa ou algo parecido. Vi que, mesmo assim, Peu não ia na onda do colega, ele me via como autoridade. Lógico que resmungava, mas, acatava, mesmo o amiguinho dizendo: "você vai obedecer ela?". Eu sentei perto dos dois e perguntei: "Você não obedece a sua mãe? Peu, diga para ele, o que eu sou sua e a quem você deve obedecer e respeitar.". Pedro respondeu e o amigo não gostou. Disse que iria brincar com outros meninos. E saiu. Eu os deixei se resolverem com relação à brincarem um com o outro. E estavam juntos em menos de meio segundo. Ele queria era saber que alguém estava no comando, tanto que ele me tratou diferente depois, mais carinhoso e me perguntando mais as coisas. Eu penso que o fato de Peu falar: "peraí que vou perguntar a minha mãe, porque ela deve saber..." fez com que ele visse que a "mãe do amigo" era uma bruxa para o bem deles e uma fada, ali com eles. Vi que eles gostam da bruxa. Gostam de saber que é importante que a "mãe que diz não" esteja ali. Isso dá um limite saudável, assim eu penso e assim eles me fizeram entender.

Nessa tarde pude observar muita coisa legal. A gente brincou de muita coisa e tivemos "problemas" para resolver juntos. Ele gostava de correr e olhar para trás e me ver olhando para eles de longe. Expliquei que eles poderíam correr e brincar à vontade, desde que eu pudesse vê-los. No início ele relutou e se abaixava em alguns lugares para me testar. Eu assobiava e Pedro respondia: "tô aqui, mãe...". Depois, ele mesmo chamava Peu para brincarem mais perto de mim, sem que eu precisasse chamá-los. Foi uma parte muito interessante naquela tarde. Eu vi como meu filho me vê e como o amiguinho se adaptou rapidamente à minha relação de "mãe e filho" com Peu. Melhor, como ele gostou daquilo. É certo que toda criança acha a mãe do amiguinho mais legal, mas, ali, eu fiquei feliz porque não me fiz de boazinha, eu me esforcei para ser flexível e justa, mesmo assim, mostrando quem estava no comando, sem pesar na mão, nem no tom. E deu muito certo. Vi que todo mundo tem problema de relacionamento. Vi que toda mãe tem seus medos. Vi que toda criança testa o limite do adulto. Detalhe: não é a primeira vez que fico com mais de uma criança, mas, foi um dia onde pude perceber um monte de coisa, depois do comentário da minha amiga em "ter medo de como dizer 'não' sem traumatizar ou podar o filho...". O que pude dizer é que toda mãe erra e sempre vai errar, mas, também acerta e sempre vai acertar... Nós somos humanas. Nós somos falhas e imperfeitas de natureza, fazer o quê? Se ajudar a cada dia.

A cada dia posso ver que ser bruxa é a hora que a gente não deixa eles se machucarem, mas, eles sabem que somos as fadas protegendo-os naquela hora. Quantas vezes eu, criança, ficava com raiva da minha mãe, mesmo sabendo que ela estava com razão... Nunca passou do momento, aquela raiva. Sempre amei e idolatrei minha mãe. Mesmo repetindo algumas vezes para magoar "que eu ainda ia sair de casa para fazer o que eu quisesse...". Qual filho nunca disse isso aos pais? Agora, minha vez de escutar e entender que faz parte. Minha mãe sempre nos deu uma "liberdade vigiada". Podíamos brincar e correr à vontade, desde que no permímetro de visão dela. Limite. E a gente nunca deixou de amar aquela mulher. Aliás, é nossa - minha, da minha irmã e do meu irmão - até hoje. Eu pude amar minha mãe com muito mais liberdade, quando a vi como gente, como ser humano e como pessoa imperfeita. Mãe, também é gente, minha gente! Me lembro que ela me dizia: "quando você tiver seu filho, você vai me entender...". E é verdade. Mesmo que eu não seja igual a ela, entendo o que ela quis dizer. Minha mãe foi taxada de bruxa, quando nos dizia "não" e, pelo mesmo motivo, sempre foi a nossa fada mais linda! Ela sempre se multiplicou entre os filhos. Nunca se dividiu entre a gente. Talvez por isso a gente não saiba o que é inveja, ciúme ou esses sentimentos pequenos. Ela sempre nos colocou como iguais. Era justa. Hoje, é a "avozona" querida dos netos e dos amigos dos netos - assim como era com a gente: era a preferida dos nossos amigos, também! Mãeeee, eu te amo! - amo repetir isso!

Com amor e coração aberto a gente abre caminho para muitos lugares. Mas, engana-se quem acredita que demonstrar amor é nunca dizer "não"... Eu gosto muito de se honesta com Peu. Deixo bem claro que não sei de tudo, mas, a gente pode se esforçar para aprender juntos. Nessas horas, a gente vê o reflexo do que a gente ensina. Quando deixo Peu com meus pais ou com minhas tias, ele sempre pergunta: "posso pegar?", "posso fazer?", "obrigado!", "por favor"... e isso é legal, sinal de que mesmo me achando uma bruxa por ensinar isso para ele, ele sabe que é útil e correto e que faz parte da educação básica. 

Pois é, mães de plantão, nós somos as fadas, mesmo quando pensamos ser bruxas! Eles devem nos ver como uma bruxinha do bem. Tudo o que eles querem é se lançarem ao desafio de entrar na floresta escura, se deparar com o medo e saber que podem contar com alguém.

Saudações maternais,

Pat Lins.

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