terça-feira, 10 de julho de 2012

TER OU NÃO TER FILHO ÚNICO? EIS A QUESTÃO!


Estava subindo o elevador - no prédio da minha mãe - com Peu e um amiguinho, quando uma senhora - que nunca havia visto - me perguntou se eram meus filhos. Eu respondi que apenas um e ela ficou a observar. O amiguinho dele estava meio chateado, porque queria ir para casa - engraçado que na hora de ir para casa ele queria ficar... Peu também apronta dessas artes... - e estava meio sério e não queria papo. Ela, então, me perguntou se o menino era filho único. Afirmei que sim e ela disse:

- É por isso que ele está assim. Filho único não é bom, não... acaba ficando muito mimado e cheio de gosto.

Eu congelei. Tenho andado assim. Quando as pessoas manifestam esses pensamentos tacanhos e avaliam a situação pontual como geral, generalizando aquilo que viu como sendo de praxe, eu fico estarrecida. Eu expliquei que ele estava cansadinho, pois a mãe teve que resolver alguns problemas na rua e eu fiquei com eles e não tinha como levá-lo para a casa dele, mas, levei para o apartamento da minha mãe - onde estava naquele dia - e, por ser um lar, talvez ele pudesse ficar mais tranquilo. Enfim, enquanto lentamente o elevador subia, ela repetiu: "filho único é muito ruim, mesmo...". Pedro, por acaso, estava quieto, o que fez com que ela comparesse as crianças. E continuou: "o seu tem mais irmãos, não tem não?" e eu disse: "Não. Filho único.". Ela fez um "É? Que diferença...". Oxe! Tem gente que não se toca. Ela viu duas crianças subindo o elevador e criou um monte de coisa que não fiz questão de entender - por falta de tempo e por falta de saco, mesmo - colocando que para ser um bom filho, tem que ter irmão. Antes dela sair, eu soltei uma, porque não sou de ferro: "eu não sei a senhora, mas, eu conheço alguns filhos únicos que são pessoas fabulosas, sociáveis e não têm nada de mimados e chatos. Também conheço uns que são únicos e chatos. Também conheço uns que têm irmãos e são mimados e chatos. Também conheço uns que têm irmãos e são pessoas boníssimas. A senhora não conhece gente assim, não, de todo o tipo? Eu penso que vá muito do conjunto de educação que os pais receberam e como receberam; da educação que esses pais passam para os filhos; de como lidamos com a maternidade e a paternidade... com o ambiente maior; com as características de cada um...". Pronto, chegou o andar dela e foi "salva pelo gongo" e saiu tão rápido que deixou claro que não gostou do que eu disse. E olha que disse com a mesma naturalidade com que ela abriu o diálogo... Se é que era para ser um diálogo...

Fora quando a gente ouve coisas do tipo: "tem que dar um irmãozinho para Peu... melhor, uma irmãzinha..." e eu pergunto: "e quem vai falar direto com Deus e garantir o que vem uma menina é você? Aproveita e pede o pacote completo: a criança, com temperamento bom, equilibrada... ah, manda dinheiro, também, porque ele serve para a parte que o amor não paga...". Eu falo rindo, porque não entra em minha cabeça essa invasão e, pior, esses modelinhos mentais limitantes e irritantes da obrigação de ter filho, depois, da obrigação de ter um segundo filho... onde está o compromisso com a qualidade da pessoa que vai colocar e do que vai ser colocado no mundo?

Eu quero ter outro filho, sim, mas, se der, senão, não sofro, como várias vezes exponho aqui. Tentei ano passado e não era para ser. A cobrança veio em forma de "você aceitou a perda com muta facilidade...". É mole? Vou brigar com a natureza? Foi algo tão natural, que doeu, mas, arrastar um sofrimento? Fora que eu quero ter outro filho, não "dar um irmãozinho ou irmãzinha a Peu" isso é uma coisa meio óbvia: se eu tenho um filho e terei outro, eles, lógico, serão irmãos. É uma soma muito clara e direta. Não uma condição ou um presente para o mais velho.

O que me chateia não são as perguntas se vou ou não ter outro filho, mas, a visão dessas pessoas. Gente, eu tenho amigos que são filhos únicos e são pessoas de um caráter e de uma prestatividade impressionantes. E não são carentes, desses de grudar por não ter tido um irmão. Já, por outro lado, tem uma pessoa muito próxima a mim - coitada, serve de exemplo para tanta coisa... - que é o egocentrismo em pessoa. Nem para dizer que é filha mais velha, porque não é... nem essa desculpa ela tem. Ela é a caçula - na verdade, apenas ela e o irmão. E é um poço de ciúme, inveja, dificuldade de relacionamento social e etc. E aí? Chegou a hora de não nos permitirmos mais sermos conduzidos por esse tipo de pensamento. Um filho é algo muito maior do que isso. Essa de que a maternidade traz luz à vida da mulher não é assim tão bonitinha e fácil, assim. Traz luz? Traz. Mas, traz outras coisas, também, inclusive, as sombras que fugimos a vida inteira. 

Meu filho é meu tudo. Não consigo me ver voltar ao tempo e não tê-lo de novo. Isso porque ele FAZ SENTIDO em minha vida, não essa imagem de que o filho DÁ SENTIDO à minha vida. Quem tem que dar sentido a minha vida sou eu, e não jogar essa responsabilidade numa criança. E é isso que a maioria das mães acaba fazendo sem perceber: ter um filho para ver se encontra um sentido na vida. Francamente. Fora que nós alimentamos essa condição da obrigação de colocar filho no mundo para ser mulher. Poupe-me. Existem muitas mães que têm dezenas de filhos, juízo nenhum e valor para passar menos 10. Onde está a consciência do que é SER MÃE? 

Ter um filho é muita responsabilidade - e não me refiro, primordialmente, as questões financeiras e materiais, me refiro, primeiramente, em capacidade, em caráter, em valores a passar. Em compromisso consigo e responsável pela própria vida para entender que o filho que põe no mundo será um ser capaz de seguir o próprio rumo. Ter um filho não é um troféu de campeonato ou uma obra a ser exposta. É uma bela obra, sim, mas, para ser respeitado com o que traz para mostrar.

Através da maternidade eu tenho aprendido muita coisa. Mas, eu já me buscava como pessoa, como ser humano, antes mesmo de parir. Ainda assim, passei por tudo o que passei e superei, do jeito que superei. E, hoje, estou aqui, dividindo com outras mães essa questão de ser mãe na prática. Não é colocar e deixar, isso é muito comum: põe no mundo e deixa brotar sozinho, como semente lançada ao ermo e ninguém rega, ninguém zela, ninguém sabe para onde vai ou a quê veio. Isso, para mim, faz parte do processo de consciência de que ser mãe requer, em princípio, que abramos mãos de muitas coisas, sim, mas, não para sempre e que isso faz parte porque a criança nasce um ser indefeso e totalmente dependente de nós. Eu penso que muitas mães não saiam daí, da fase onde o cordão umbilical já foi cortado e elas não perceberam. Essas mães não deixam os filhos crescerem porque temem elas mesmas terem que crescer. Temem a solidão... Temem não ter mais o que fazer na vida... Temem ter que se deparar com o fato de que a criança nasce indefesa, mas, assim como nós, ela cresce e almejará seguir o próprio caminho. Filho não é propriedade. Muito menos, fundo de garantia. Tem mãe que põe filho no mundo já impondo a condição de que, quando for velha, terá alguém para cuidar dela... Para mim, isso será uma bela consequência da construção de uma relação bacana, honesta e com amor - o amor que é de verdade, que é livre e que deixa livre... assim, há união e não prisão -, fruto de algo que foi construído. 

Essa geração mais recente, que vem com os chips mentais avançadíssimos, em maioria, acabam sendo filhos únicos. Falei "em geral". Eu reconheço que minha limitação, hoje, para ter o segundo filho está totalmente atrelada à parte financeira material. Não tenho como bancar duas escolas, dois planos de saúde, dois isso, dois aquilo. Hoje, depois de tanto "perrengue", conseguimos manter uma situação onde conseguimos trabalhar e pagar as contas, usando uma escala de prioridade. O que dá, dá, o que não dá e não é NECESSÁRIO - portanto, não está inserido na escala de importância vital -, não dá. O que é necessário, dá-se um jeito. O que não, é supérfluo, não faz sentido, para mim, o endividamento. Me endividar para comprar aquele carro lindo, de controle remoto, enorme e que só falta ser de verdade... não entra. Comprar um notebook para meu filho de 5 anos... faz sentido isso? Para mim, não. Ele usa ou o meu ou o do pai. Pagar a escola em dia, o plano de saúde, isso não tem preço e não pago com credicard - nos organizamos. Tudo é uma questão de administração da verba. Só querer que dá. Eu tenho uma amiga que não tem filhos, mas, ajuda a família. Ganha pouco - professora do estado, é o mesmo que miséria, no que diz respeito a salário - e consegue fazer render. Como? Prioridade. Gente, a gente precisa saber onde estamos, onde queremos chegar e quanto estamos dispostos a pagar por isso. Pagar no sentido de entender que juntar por determinado tempo e usar X% do salário para lazer faz parte, porque nem tudo é só trabalho, mas, que, em alguns momentos, teremosn que optar por um lazer mais baratinho... Deixar de fazer uma coisinha, para faze outra... Agora, dentro de toda essa organização, eu sei que não dá para ter um segundo filho. Veja se eu vou entrar nessa onda de ficção de que a parte financeira não interfere? Lógico que interfere e limita muito o pensar e "calcular" um segundo filho. Não acho, nem penso, que essa parte seja a mais importante, ou seja, se eu fosse rica, milionária, mesmo sem caráter algum poderia colocar 10 filhos no mundo só porque poderia pagar?  

Filho único não é sofredor, nem anti-social como muitos dizem. Eu sou a mais velha de três e não me vejo sem meus irmãos. Meus pais tiveram estrutura emocional para terem 3 filhos. Eles se multiplicaram. Nunca tive a sensação de que eles estivessem se dividindo entre os filhos. Era como se nós 5 fôssemos 1 corpo único com várias cabeças pensantes e diferentes. Eu não tenho a mesma estrutura que a minha mãe tem. Ela deu conta. Meu pai fez acontecer. Ele, literalmente, tirou leite de pedra. Nunca nos faltou nada de necessário. Nunca vi meu pai se endividar por algo supérfluo. Isso é bacana de ter como exemplo, porque não éramos ricos, mas, tínhamos comida em casa, teto para morar, um carro e combustível - muita gente acaba se endividando para comprar um carro e esquece que precisa sustentar um carro - mas, meu pai sempre calculava tudo. Menos o amor deles por nós. Isso, meu Deus! e Deus é testemunha, nunca nos faltou e até hoje, jorra. Me lembro que meu pai trabalhava de turno e, nas horas vagas e de férias, chegou a rodar de taxi alugado para complementar a renda e sempre esteve ali, ao lado de minha mãe, como pai presente. E o trabalho dele era pesado. Cresceu na profissão, fruto de empenho. Eu, meu Deus, não consigo ser assim. E sei que muitos pais e mães de amigos e pessoas próximas não eram assim. Mesmo com toda essa bela referência dentro de casa, outro filho, para mim, agora, não dá. Me culpo por isso? Sou uma bruxa? Que nada. Já me esquentei muito, por me preocupar com a opinião dos outros. Fora que Pedrinho vale por 10 filhos "encapetados" - risos. Hoje, reconheço meus limites para não criar situações-problema para mim.

Tudo isso é para refletirmos. Ser ou não ser filho único não é a questão. Ter ou não ter filho único, eis a questão. É importante olharmos a realidade. Cada geração tem suas características e não adianta lamentar é para encarar, é a ordem da vida que criamos. Existem coisas que dependem de nós, outras não. Como no marketing: variáveis controláveis, incontroláveis, micro e macro ambiente, análise de potencialidades, fragilidades, oportunidades e ameaças. Tudo tem que ser levado em consideração. O cálculo, na Vida, não é algo tão preciso, porque, admitamos, nem tudo que pensamos ser ou queremos que seja é o que deve ser, ou é o que é... Eu penso que a gente dever refletir e entender que tudo tem seu ônus e seu bônus. Que precisamos saber lidar com o aqui e agora e, assim, projetar um futuro melhor. Não adianta querer mudar o amanhã, somente amanhã. É hoje, agora, que começa. Ter um filho é ter um filho. Ter dois filhos é ter dois filhos... e por aí vai. Saber onde está e buscar fazer acontecer mais. Tipo um risco calculado. Se sabe que não dá para ir mais, que é pesado, para quê forçar agora? Devemos nos questionar mais. Nem limitar, nem agir impulsivamente.


Espero que comecemos a refletir sobre isso para não entrarmos numa de dar continuidade a esse processo instalado aí e alimentarmos essa loucura que já vigora. Se queremos mudar algo para melhor, comecemos melhorando nossa maneira de pensar e agir. Vamos nos permitir questionar mais, respeitar mais... ir mais. Julgar menos, Condenar menos. Esperar menos. Fazer mais! Isso sim fará diferença para nossos filhos. Isso sim, fará diferença para nós e consequentemente, para os nossos filhos. Isso será coerente.

Há uma enorme diferença entre QUANTIDADE e QUALIDADE... É possível ter as duas. Como, ter uma e não a outra...

E, para finalizar, o questionamento não é bem a quantidade de filhos que se quer ter, mas, o que queremos de fato? Para identificar se queremos mesmo engravidar ou estamos grávidas de algo em nós que precisa ser parido? Isso pode confundir... 

Eu penso que ser feliz é saber ser e fazer a felicidade acontecer!

Saudações maternais,

Pat Lins.




2 comentários:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails