sábado, 24 de novembro de 2012

"...MÃE, AÍ, EU VIREI UMA ESTRELA CADENTE E VIM PARA A TERRA! ..."

Imagem: ALIBABA.COM

Olha, Peu tem umas artes que, quem dera, eu tivesse como registrar tudo.

Hoje, estávamos tomando nosso café da manhã juntos e ele com o pé na parte de vidro da mesa. Eu falo: 

- Peu, meu filho, se você se desequilibrar e empurrar esse pé da mesa, ela cai, o vidro quebra e... - ele me interrompe.

- A gente pode morrer, né, mãe? Aí, quando meu pai chegar onde a gente vai estar?

- Onde, meu filho? - perguntei eu, curiosa pela resposta. Já que ele tem essa inquietação com a morte, preferi deixá-lo colocar para fora.

- Quando ele chegar, teria uma parte nossa, o esqueleto, no mundo dos mortos - o "mundo dos mortos" que ele se refere é o cemitério, ele chama assim - e a outra parte, lá em cima, com Deus. E ele iria sofrer, mãe?

- Penso que sim, filhote, porque quando as pessoas que a gente ama partem, a gente sente tanta saudade   e acha que nunca mais vai ver, que acaba sofrendo, mas, depois, entende que é natural e um dia a gente vai se reencontrar.

- É, eu sei. Eu vim de uma estrela. Eu era um anjo.

- Como assim, Peu, se você veio de uma estrela, como pode ser um anjo? - brinquei com ele, até mesmo para ver o que sairia daquela cabecinha criativa.

- Entenda: - e usa os dedos para desenhar no ar - a estrela é como um ovo de tartaruga, só que sem ser circular, é em forma de estrela. Depois, o ovo se parte e o anjo sai voando. Depois, eu virei uma estrela cadente e vim para a Terra, para realizar desejos...

- Ah, filho, que coisa boa, então, eu posso fazer meu pedido? Eu desejo... - ele me interrompe.

- Não, mãe. Eu não posso mais realizar desejos. Eu não sou mais uma estrela cadente. Agora, eu sou apenas um menino. Quando passar uma estrela cadente eu vou fazer um pedido, sozinho, e sem ninguém ouvir. Vou pedir que eu possa fazer um raio laser para todo mundo viver e outro para ninguém ficar velhinho...

Uma figura rara! Interessante é que a gente aqui em casa pouco fala de morte e, quando fala, em geral, é com carinho aos que se foram. E ele, desde pequenininho tem essa coisa. Vai saber o que ele viu. Meu avô faleceu quando ele nasceu, ele tinha em torno de um mês quando meu avô veio a óbito. Será que todo aquele clima, minha DPP, minha família o rodeá-lo de atenção e carinho - coisa natural, quando se perde alguém e nasce uma criança, vê-se essa criança como uma bênção maior e uma mensagem de continuação de vida, assim foi o que eu pude perceber das nossas ações - será que isso o tocou de alguma forma? Impossível saber com certeza... A questão é que ele tem essa inquietação com a morte, com a dor da perda. Ele gosta de chegar, por exemplo, mas, não gosta de despedidas. Isso eu já venho observando a um certo tempo. Ele, geralmente, chega muito alegre nos lugares, ou, quando recebemos visitas, ele fica eufórico, mas, nas despedidas ele muda e fica triste, chateado e, algumas vezes, bastante resistente.

Teve um episódio, no dia de aniversário de morte do meu avô, minha família foi até a cidade onde ele está enterrado e levaram Peu, para visitar alguns parentes que moram lá. Lá, na cidade, próximo ao cemitério, tem uma fonte de água natural chamada "Milagres" e dizem que a água é milagrosa. Como estava quase vazia e o dia muito quente, Peu e minha sobrinha tomaram banho lá e brincaram muito - tem bastante espaço - e as pessoas que passavam achavam graça - ver criança feliz é muito bonito e essas pessoas mais velhas conseguem entender isso melhor do que a gente... Minha tia foi encher uma garrafa com a água para beber. Peu perguntou para quê e ela explicou que era a "água dos milagres", prontamente, ele perguntou: "E se a gente levar e derramar nos mortos, eles voltam a viver?". Essa questão é muito forte nele. Não forço, nem fico com apelos do tipo: "meu filho, deixa de falar disso...". Eu o permito esgotar. Digo que não tenho essas respostas, porque existem coisas que são como são desde sempre e, sabe Deus se um dia a gente vai entender. E vou conversando com ele, desse jeito assim, aparentemente solto. Aos poucos percebo que ele vem mudando o jeito de lidar. Antes, ele chegava a chorar ao tocar no assunto. Hoje, ele já fala, para para pensar um pouco e cria essas histórias. Hoje, ele já fala em Deus com carinho. Coisa que, desde que eu perdi o bebê, no ano passado, ele não falava mais, pelo contrário, ele dizia que "não quero mais esse papo de Deus. Ele levou meu irmãozinho e não devolveu nunca mais...". 

Pois é, esse é Pedro Henrique... ou, uma das partes dele. Filho, mais um registro para você, quando for grande poder se ler aqui.

Como não posso fazer um pedido para estrela cadente Peu, peço a alguma que esteja passando por aí: DEUS, PROTEGE ESSA E TODAS AS CRIANÇAS DE TODO MAL, AMÉM! E PROTEGE A NÓS, TAMBÉM. DÁ-NOS SABEDORIA PARA CONDUZIR PELO MELHOR CAMINHO ESSES PEQUENOS GRANDES SERES EM FORMAÇÃO, QUE, POR MAIS ESPERTOS E INTELIGENTES QUE SEJAM, SÃO CRIANÇAS E TÊM AS LIMITAÇÕES DA POUCA IDADE. 

Filhos nos fazem pensar, mesmo...

Saudações maternais,

Pat Lins.

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