terça-feira, 6 de julho de 2010

FALANDO UM POUCO SOBRE DPP - DEPRESSÃO PÓS PARTO

O depoimento abaixo escrevi para fazer parte da série "O Primeiro Ano de Maternidade Não é Um Carrossel" - ENQUANTO ESPERAMOS, um blog maravilhoso que a blogosfera me permitiu conhecer. Através do blog aliado ao universo materno, tenho conhecido pessoas lindas e fantásticas, sempre com algo de bom e edificante a acrescentar.

Foi com dor e prazer que escrevi o texto, para tentar levar a outras mães de primeira viagem a mensagem de que é difícil, sim, mas, a gente supera. Se a maternidade em si já é algo complexo, agravada por uma DPP é um buraco aparentemente sem fundo... Sei que muita gente não me compreendeu/compreende, mas, hoje, me esfoço para compreender que as pessoas são o que são e como podem ser, já sendo... afinal, se pudéssemos fazer/ser melhores, já o seríamos... podemos, sim, nos tornarmos melhores e, aí, seremos.

Enfim, vale a pena dar uma conferida no blog ENQUANTO ESPERAMOS e saciar-se um pouco com a sensibilidade e consciência da Carol - íntima, já - risos. E divulgar seu blog, que fala do quanto podemos aprender ENQUANTO ESPERAMOS.

Postei o depoimento aqui, porque devia isso ao "Mães na Prática", falar um pouco mais da minha prática em ser mãe e me aprender a cada dia, bem como do que foi para mim ter vivido a DPP. O depoimento é um resumo mínimo e com mais beleza do que a realidade foi...

Segue, agora, meu depoimento:

primeiro mês de Peu

Era uma vez um primeiro ano e, depois, apesar de tudo e muito mais, ainda somos felizes sempre!!!



Ao descobrir-se grávida, imediatamente, a mulher se apresenta a uma nova mulher, uma nova realidade, um novo ser. Realidade esta que nos é apresentada como o auge, plenitude e máxima realização de e para toda mulher. Isso lá tem suas verdades... como tal, apresentam vários ângulos, nuances e outras verdades coexistentes. Uma delas é que para curtir o amor pela cria, o ambiente não se transforma em algo tão fácil, bonitinho e sempre perfeito. Associado ao ajuste de vida do rebento, vem nosso desajuste e reajuste... Costumo descrever esse “primeiro” “encontro” entre nós, as mães com o(s) filho (s) como uma colisão entre mundos, onde, por melhor, mágico e mais bonito que seja, geram alguns abalos.

Se para toda mãe esse momento sublime já vem acompanhado de dificuldade e só a força do amor indescritível pode explicar como “sobreviver” a tantas ambigüidades, imagine para as mães, que, como eu, deparam-se com um fator surpresa, nada gratificante, que é a DPP – Depressão Pós Parto. Céu e “inferno” se encontram e nessa berlinda, o caos impera e o desespero se manifesta em escalas macro e microamibientais. Nesse momento, apesar de toda alegria que se sente e quer explodir, uma tristeza amarga, crônica e, aparentemente, infinita se instala e domina o ambiente. Ver seu filho chorar de fome, porque está de cocô ou com a fralda molhada de xixi são tormentos insuportáveis, mesmo sabendo-se ser natural. Enquanto razão grita que “é assim mesmo, a criança está se ajustando ao mundo aqui fora. Vai passar”, o buraco escuro e íngreme onde estamos caindo sem parar dispara o alarme de incêndio e desespero, abrindo fogo cerrado e a guerra começa. Isso, só considerando o “meu” mundo interno. Tudo vira dor, culpa, amargura, escuridão, queda... infinita ausência de expectativa e destruição de tudo que havia, de tudo que há e de tudo que haveria... Todo instante se torna eterno instante de vazio. Um buraco se abre, se abre e se abre... Me questionava: “em meio a tanto amor que recebo, tanto amor que tenho para dar e que explode em meu coração, porque a dor é tão maior e mais forte?” E isso me gerava culpa e culpa. Precisei parar de amamentar e a culpa aumentava. Cada fase daquele primeiro ano foi marcada por lutas, quedas e subidas. Só quando aceitei “A” verdade de que estava “doente” – seja lá qual fosse a origem – comecei a entrar no processo de voltar a enxergar. Com muito pouca lucidez, cuidava do meu filho diretamente. O amava e me sentia tão pequena perto dele. Cada fase em que ele “crescia”, eu crescia junto, debaixo de lágrimas e dor intensa em cada esforço. Permitir que aquela luzinha da inocência, chamada Pedro Henrique, me iluminasse com toda sua perseverança – todo bebê vem com imensa força e capacidade de superação... são desbravadores natos e guerreiros naturais – foi uma escalada sobre as feridas abertas em minh´alma, que sangrava e gritava a cada vontade de me erguer. Não podia perder o foco de recuperar e reconstruir toda ruína que era EU, transferindo para aquele pequeno ser essa carga e responsabilidade.

O primeiro ano é o mais difícil, porque nele cada dia equivale a meses ou anos. Cada dia uma mudança, um aprendizado intensivo, uma nova fase para a criança e para nós, mães. Vivemos a linha limítrofe entre dor e superação a todo instante e cada vitória vem regada a satisfação de ver nossa sementinha germinar e crescer. Passamos a sentir cólicas que não doem em nosso corpo; a engatinhar com eles; a sentar; a andar; a encarar o novo a cada novo segundo. A minha primeira grande batalha foi superar as dificuldades naturais com as “impostas”, pelo acaso, destino, hormônios, genéticas, distúrbios... naquele primeiro ano. Hoje, digo que aquele foi o primeiro ano do resto de nossas vidas. A DPP não interferiu e machucou apenas a mim, mas, a todos os envolvidos, principalmente, ao filho recém-chegado ao mundo. Se uma mãe se emociona com o primeiro: “mama”, eu me emocionei ainda mais, porque “acreditava” que ele não me reconheceria como “mãe”, porque eu não era a imagem perfeita da Santa Mãe que a tudo suporta, supera e compreende. Eu era a imagem de um ser humano destruído e me colocava como “desqualificada”. Olhar para mim, naquele primeiro ano – até meados do segundo... como interrompi o tratamento, durou mais do que se “esperava”. Uma depressão mal curada é pior do que uma recaída – era o mesmo que ver uma cidade destruída por um tornado. Para meu filho, noites e dias eram apenas instantes entre acordar e dormir no claro e no escuro... Para mim, era a perpetuação da dor interminável – me permitam a redundância.

As oscilações de humor doíam como facas apunhalando meu coração e minha mente disparava uma condenação perpétua por cada momento mal vivido... Mas, algo aconteceu naquele ano, que me tocou tanto e me ajudava muito, a alegria pura de Pedrinho. Parecia que ele não se deixava atingir pela angústia e reagia com a mais pura demonstração de leveza: seu sorriso e olhar brilhante. Então, vi que eu não era só lado ruim, eu ainda carregava em mim minha essência, a “Patricia” que sempre fui e que queria emergir nova e renovada. Essa “Patricia” precisou reaprender a engatinhar, andar, falar e, acima de tudo, SORRIR. Não foi a melhor aula que tive em minha vida, ao menos, não através da didática imposta pela dor, mas, com certeza, aquele primeiro ano foi a maior lição de toda a minha vida.

Se alguma mãe ou pessoa envolvida num processo similar estiver lendo este depoimento – não muito específico, porque ainda carrego muita dor... algumas feridas/seqüelas foram abertas e hoje, após 3 anos e 9 meses do parto, estão sendo devida e conscientemente bem tratadas – por favor, redobre a força do amor e compreensão – nada é exato e linear – e se esforce para “calar” a boca do orgulho, do julgamento, da razão sem razão... lembre-se de deixar passar, aceitar-se doente e, por isso, terapia – com profissional competente e humano - é um bom caminho, e, acima de tudo, repita para si: A DOR SÓ DÓI ENQUANTO ESTÁ DOENDO... DEPOIS, PASSA! E deixa a dor passar. Talvez nunca vá saber, exatamente, o ponto, a origem da DPP, mas, mesmo em busca constante para essa resposta, me entrego ao esforço diário de viver cada instante e aprender mais sobre mim, em busca de me libertar e redefinir como ser humano, resgatando os bons valores e levando-se a sério e como possíveis de viver, sim. Tudo passa! E o que a gente não deixa ir, vai passando e levando mais do que deveria.

Saudações maternais,



Pat Lins.

3 comentários:

  1. Pat,

    Vc é e sempre será especial, pois vc não é comum, é singular em tudo que faz!

    Um grande beijo!!!!!

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  2. Não sei o que dizer, parece que ao ler o texto estava diante do espelho dos meus sentimentos, um conforto saber que não estou tão sozinha quanto pareço estar.
    Um grande abraço pela coragem de relatar o que acontece com as mães pós parto.

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  3. A gente nunca está sozinha. Custei a entender e perceber isso. Mas, é verdade. Volte e sempre, ao menos minha fase de desconforto pôde levar conforto a alguém, porque, quando a gente se vê em outro, sei lá, a gente percebe que todos somos iguais, apesar de diferentes. Boa jornada e volte sempre!

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