Hoje, mais um dia comum e, nem por isso, precisa deixar de ter algo especial. Dias comuns também têm suas surpresas boas.
Peu, chegando da escola, como sempre, entra gritando: "Cadê meu chuchuuu? Maããeee?" e eu, respondo: "Aqui, meu amor!". Desde que o pai vai pegá-lo na escola, eu tenho o prazer de recebê-lo com os braços abertos. Engraçado que levar o filho para a escola, pegar, levar ao judô, levar à natação, levar ali e aculá entra na rotina que a gente nem sente que faz algo especial todo dia. Esse dias, uma babá aqui do prédio me disse: "a senhora faz tudo dentro de casa, né? Trabalha e cuida dele sem ajuda, né?" - o sem ajuda que ela se referia era sem babá, porque sem ajuda eu não iria a lugar algum... sempre tive o apoio da minha mãe, da minha irmã e de minhas tias, que aguentam a onda de cuidar de Peu, às vezes. Eu nem me tocava de que fazia tanta cosia e que isso era reparado pela vizinhança... Ela não falou em tom de fofoca, apenas um comentário como quem diz: "sorte a do seu filho, por ter uma mãe assim". Não pelo fato d´eu fazer tudo e estar sempre ao lado dele, mas, por ser e agir como eu ajo com ele, chamando sua atenção diante de uma atitude inadequada e desrespeitosa com algum amiguinho e sempre carinhosa. Em meio a tantos afazeres e rotina, raramente percebia que o "não pegá-lo na escola" e ter esse help do meu marido - que agora trabalha em casa - me fez ver, hoje, no meio de mais um dia comum, o quanto temos um carinho enorme um pelo outro e o quanto sou importante para ele, apenas, por ser a mãe dele. Quando ele corre e diz: "cadê meu chuchuuuu? Mããããeeee?" eu sou tomada por uma onda de sensação boa, sabe? Sabe quando a gente sente que algo bom vai acontecer e o estômago dá aquela esfriada e somos envoltos numa luz branca e suave e até somos capazes de ouvir uma musiquinha e sentir uma aroma de flores do campo? É, exatamente como uma cena de filme... Pois é, é um êxtase disso tudo que sinto, apenas por receber aquele abraço caloroso e aquele beijo amoroso do meu "chuchu"! Tudo isso, em dias comuns, sem festas, sem barganha, sem permuta... apenas, AMOR!
Eu só via o trabalho e o cansaço. Eu só vivia me queixando "Peu me dá um trabalho enorme... o menino não para um segundo. Mexe em tudo e tudo quer saber. Nunca se conteve com 'por quê', tinha que ter um 'e se...'..." e nessa onda de desgaste a gente vivia. Para mim era mais fácil condenar a família do meu marido, por todos serem inquietos e teimosos, capazes de ouvir apenas o que eles falam, do que entender que Peu puxou uma coisa boa que eles têm: essa energia inquieta e teimosa. Com muito trabalho e afinco, sabendo de como são os adultos com o DNA da agitação da família, estabeleço o direcionamento de como educá-lo, entendendo, por fim, que não temos como brigar com a natureza do ser, mas, podemos dar uma boa formação moral e de valores realmente na prática. Era mais fácil para mim querer que ele fosse uma criança hiperativa - no sentido da patologia - do que entender que ele é apenas uma criança hiiipppeeerrrr meeeggaaaaa ativa. Impossível não cansar perto dele. Eu já vi várias pessoas olhando ele ao mesmo tempo e todos cansavam em poucos minutos. Uma vez minha irmã me disse brincando e eu quero que seja verdade - risos: "Minha irmã, você vai para o céu, viu? Aguentar essa coisa linda da titia né brincadeira, não...". Quando o levei para fazer os exames "de cabeça" e o resultado deu negativo, fiquei aliviada por um lado e aflita por outro: "Meu Deus, e agora? Me dá energia e força para saber educar esse menino!". Bom, como dizem, "cuidado com o que pedes, podes receber" eu recebo essa força todo dia e nem em dava conta.
Educar Peu, como educar qualquer filho, requer mais do que levar a escola, buscar na escola, levar a atividade física... é entrar no mundo dele. Depois que Jo - a mãe do Gustavo Medeiros - ah, leiam o depoimento dele em "EXISTE (SIM) VIDA ALÉM DO AUTISMO" - relata "e consegui entrar de alguma forma em seu mundo e junto com ele emergir. Claro que sem ajuda seria impossivel..." mais outra ficha minha caiu: entrar no mundo do filho, seja uma criança neurotípica ou "especial", é fazer o que a Noemia Nocera me alertou, como sugestão de tema para um post, aqui no blog, sobre como educar um filho, dar limite e, ainda assim, respeitar o ser. Entrar no mundo da criança é entender que criança é criança e pais são pais. Temos uma responsabilidade imensa para com eles, entretanto, eles são mais do que apenas páginas em branco... Juntos, uma família compõe uma orquestra e, como toda orquestra, para alcançar uma boa sinfonia, sintonia e uma boa maestria. Ensaios são nosso dia a dia. As grandes apresentações são as provas da vida. O maestro dá o rumo, porque, do alto de sua experiência consegue escutar, sentir e com conhecimentos certos - não apenas teorias e teorias na teoria - aplicar a melhor solução. De retorno, um belo som: a harmonia das notas e dos diversos instrumentos diferentes e juntos, ao mesmo tempo. O mundo de Peu é cheio de arte - literalmente. Ele gosta de livros, de fantoches, de vozes artísticas, de imitações, de colas, de tintas, de papéis, de cores, de formas, de letras em formação... e mergulhar nesse mundo é preciso me premitir ser mais livre dessa normose, sem deixar de ser responsável; é ser mais autêntica, sem deixar de dar limite... é ser a mãe de uma criança chamada Pedro Henrique, eu me dá a honra de me reencontrar para ensiná-lo a ser quem ele é!
Minha sogra, em meio a uma conversa recente, me disse: "eu lia tanti para dar uma boa educação aos meus filhos e, hoje, vejo que errei tanto...". Mais uma ficha caiu. Sempre escrevo aqui sobre o fato de que pai e mãe sempre vão errar e acertar com os filhos, afinal, só podemos dar aquilo que temos, né verdade? Pois, naquele momento me vieram duas coisas a mente: o fato e a certeza de que todo pai e mãe acaba cometendo erros mesmo; e o fato de que muitos erros vêm da gente mesmo não ser capaz de fazer um pouco mais por nós mesmos, na prática, e, assim, ter mais dentro de nós para ser mais, natural e honestamente aos nossos filhos. Não a estou julgando. Pela primeira vez na vida, a vi desarmada de si, mas, mesmo assim, confusa. E vejo que muitas de nós acaba errando por essa confusão de não saber viver na prática aquilo que tanto conhecemos e sabemos, mas, na hora de viver, faz como nos fora ensinado pelo engessamento social. Sem querer, falei para ela: "é, minha amiga, na prática a teoria é outra... afinal, nem tudo depende da gente!" e é verdade. Nossos filhos são como nós, quando éramos apenas filhos, seres humanos em formação. E, me diga, como educar esse pequeno ser, dando limite e respeitando o ser? Bom, não vou responder o que penso sobre esse assunto agora, porque eu minha grande amiga Noemia Nocera, vamos escrever juntas... ela, não apenas como psicóloga e escritora, mas, como mãe de três filhos, avó e uma pessoa que já superou muito e entendeu, em sua vida, antes de tudo, o quanto era importante educar, dar limite e respeitar cada ser - cada filho. Eu, falarei do meu dilema de tentar entender isso na prática da minha vida.
Pois bem, ter um filho dá um sentido enorme a minha vida! Não que o filho nasça com essa responsabilidade, isso além de injusto é desumano com a criança. Os pais que fazem isso - todos nós fazemos, em alguma proporção... - e em vez de nos refazermos como pessoas, tapamos os buracos e vamos ser "pais e mães" para dar ao que vem a chance de ser aquilo que não fomos... O sentido que, hoje, vejo que meu filho dá em minha vida é ver que é possível entender que só se é sendo e só podemos ser e dar uma boa base aos nossos filhos, sendo pessoas capazes de reconhecer nossas próprias limitações, adimití-las e entender que devemos cuidar delas. Ninguém vá saindo por aí e querendo ter filho para "ter sentido na vida", não, pelo amor de Deus! Eu quero dizer que Peu dá um sentido enorme em minha vida, no sentido de ver que todo meus esforço como pessoa e como mãe chegam até ele e como ele responde. Apesar de toda a agitação natural dele, ao entrar no mundo dele - o mundo de uma criança - entendi o que ele gosta e nos entendemos mais. Ele me fez exercitar na prática o que quer dizer respeito e compreensão e como o amor precisa dessa base para se estabelecer e se firmar. O AMOR, o de verdade, não o sentimento de posse que temos e chamamos de amor... Muita gente coloca filho no mundo, não muda como pessoa e ainda educa o filho aos seus padrões despadronados e moldados pela falsa moral e falsos bons costumes da nossa sociedade falsa e superficial.
Pedro continua cheio de energia e curioso que só. Tem seus defeitos, que, ao identificá-los e ver que meu filho é como é e tem seus "instintos ruins", como todo ser humano, posso ajudá-lo a ser diferente. Não é porque é criança que vamos acreditar que toda criança é um anjo... Anjo é anjo e não é humano... Criança é criança e é um pequeno ser humano. Ver o quanto Pedro cesce como pessoa, e ainda tem muito o que crescer, me dá o gás para estar ao lado dele. Como mãe coruja; como mãe leoa; como mãe macaca; como uma mãe onça; como uma mãe jumenta... como uma pessoa que é mãe. Tem uma lição que ele sempre me ensinou: ele sempre vê uma possibilidade. Para ele, as possibilidades são infinitas e inesgotáveis. Bom, como uma boa criança ativa e bem ativa, algumas muitas vezes isso me desgasta, porque, na verdade, ele não tem consciência de suas ações em um nível de capacidade de entendimento real... Ele entende que o que ele faz tem uma consequência, mas, numa dimensão infantil, pois, é criança.
Lembra que frisei mais acima de que sem ajuda ninguém sobrevive? Pois é, para cudiar de Peu eu tenho a ajuda da escola - que leva a sério e com muito valor humano, ético e profissional - a boa formação do indivíduo; da psicóloga, Suely Lôbo - uma figura ímpar e que me ajuda muito a lidar, entender Peu; de minha mãe, com o que ela fez comigo e meus irmãos e, mesmo assim, entende que educar um filho de hoje em dia é mais "complicado", mas, mesmo assim, me lembra que "mãe é mãe e todo filho deve entender isso"; de algumas mães que olho e digo: "meu Deus, eu também sou assim... Eu também faço isso... Tenho que mudar isso em mim!" - afinal, a gente aprende com aquilo que a gente quer ser e, também, com aquilo que a gente não quer mais ser. E, tenho a minha ajuda, porque se eu desistir, tudo para! Ver o quanto Pedro melhora em seu comportamento, como uma mínima mudança em seu comportamente é notório, me sinto recompensada. Sim, eu espero essa recompensa de ver que me dediquei em ser o meu melhor - mesmo sabendo que nunca serei perfeita como pessoa, muito menos como mãe - e essa verdade, através da minha vontade, do meu esforço e da minha busca de elevar a consicência, chega até ele, que, em formação, entende que ele é capaz de ser muito mais e melhor, não do que o outro, mas, o melhor que há em si!
E é por isso que hoje, uma dia comum, um dia em meio ao dia a dia, é especial, porque, hoje, muitas fichas caíram para essa mãe que, na prática, vive seus embates pessoais, seus dilemas e, nem por isso, deixo de ser uma pessoa em busca e essa busca é mais importante para mim do que o negar a realidade e viver um mundo de fantasia. Mundo de fantasia, somente, os das brincadeiras e historinhas minhas com Peu. Finalmente, pude ver que sou mais "mãe animada e brincalhona" do que "mãe chata". Isso tudo com limites estabelecidos.
Meu chuchuuuu, estou aqui! Sempre!
Saudações maternais,
Pat Lins.
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