Quando repensei o blog, muitos temas importantes surgiram em minha mente e este era um em especial. Não caberia em palavras minhas, explicar se "existe vida lá fora", considerando a referência de "mundo próprio" que temos dos autistas. Foi quando tive a honra e o prazer de conhecer a história real e diária do Gustavo Medeiros. E essa lição é de vida, de superação reforça a minha idéia central de vida de que todos somos iguais, por sermos humanos e cada um carregar o seu próprio desafio, entretanto, a maneira como o Gustavo retrata sua vida, nos mostra o quanto ainda temos muito que entender sobre essa questão. E o quanto muitos de nós nem sabe que lidar com as diferenças é lidar, apenas, com o fato de cada um ter suas características próprias e merecem respeito, acima de qualquer coisa.
Não vou, não devo e nem tenho como me alongar aqui. Eis o texto/depoimento do Gustavo Medeiros, homem, adulto, jornalista e portador da síndrome de Asperger:
EXISTE (SIM) VIDA ALÉM DO AUTISMO
Por Gustavo Medeiros - Jornalista DRT BA 3890
Quando me propuseram a fazer um texto para comemorar o dia de conscientização do autismo, me senti desafiado a escrever sobre mim e provar que existe (sim) vida além do espectro autistico. Como portador da Síndrome de Asperger, me sinto não somente diferente dos outros que se dizem neurotipicos, mas capaz de realizar coisas que nem uma pessoa dita “normal” poderia fazer ou poderia não fazer.
Através das minhas superações, alcancei vitórias e hei de alcançar outras. Superei as expectativas daqueles que não davam muito por mim e surpreendi as falsas perspectivas de que não conseguiria ser o que hoje sou: Um ser (quase) realizado. Enfrentei, com muita dificuldade, as brincadeirinhas de mau gosto dos coleguinhas da escola regular e no “mundão” por aí afora. Nunca fui entendido pelo mundo, a não ser por meus pais, pois não é obrigação da sociedade aceitar, engolir um garoto autista como um problema a ser resolvido na base da pancada.
O que importa, no momento, é olhar para trás e entender que superei tudo na base da insistência, pois sempre acreditei nos meus sonhos. Sim!!! Para quem ainda não acredita (ou compreende), um autista como eu também tem sonhos e tenta alimentá-los a cada dia. Possui ideal de vida e luta por ele. È um cidadão comum, que vota e cumpre seus direitos. É assim que me sinto, no entanto o que me diferencia dos “iguais” (se é que igual existe) é a forma de sentir o mundo, de amar as pessoas e expressar os sentimentos.
Ainda tenho uma certa dificuldade em entender metáforas, malicias e sutilezas que norteiam os caminhos do NTs na sociedade. Me sinto frustrado, às vezes, mas entendo que não deve ser assim. Por incrível que pareça, essa nossa dificuldade tem lá o seu lado positivo: o da ética e o da honra, pois não sabemos mentir nem disfarçar as mentiras.
Somos explícitos na arte do sentir; expomos, a nossa maneira, o peso das decepções, e dos desamores. Aliás, autistas também amam e sofrem por amor e por não saber corresponder a esse sentimento. Talvez pelo fato de nos faltar a empatia, de tentar (ao menos) estar no lugar do outro, sentimos essa frustração. Sendo assim, ainda me falta o entendimento de que o outro precisa receber o feedback, o retorno da troca dos afetos em um relacionamento amoroso.
Mas, além da penumbra de todas as angustias, existem as alegrias de cada superação; o sucesso que está em cada vitória conquistada no dia a dia. É a certeza de que a nossa capacidade de “estar no mundo” vai além dos quartos escuros, dos movimentos estereotipados e repetitivos, dos grunhidos e barulhinhos incompreensíveis que fazemos durante a infância. Porém, isso não mostra nada, a não ser o fato de sermos especiais dentro das nossas particularidades. Somos diferentes, somos aparentemente normais. Sou a prova viva que existe sim vida além do autismo.
Parabéns Patrícia. Convivi com Gugu durante a infância e ele é (sim) prova viva de que existe vida além do autismo. Ele, graças principalmente aos seus fantásticos pais, tem realizado grandes façanhas Salvador a fora e tem feito outras tantas pessoas se orgulharem de tê-lo conhecido.
ResponderExcluirQuero muito conhecer ele e a mãe pessoalmente. Eles me fizeram sentir ainda mais que a vida é para ser vivida, mesmo! Obrigada por dividir conosco essa informação e que bom que ele tem amigos assim, que o adimiram por seus feitos!
ResponderExcluirPatricia, Gustavo, que boa notícia! Gostei muito de saber e gostaria de fazer contato com vocês. Pena que (ainda) estejamos tão longe, pois estou lutando aqui - sozinha - para reunir um grupo de aspergers adultos.
ResponderExcluirEstou em Campinas, meu email é villa.aspie@gmail.com
Também tenho um livro recém-publicado, o "TANGO PARA OS LOBOS - Cantos proibidos de uma Aspie", que, em menos de três meses de publicado, foi parar na livraria L´Harmattan de Paris - e no Inst. Iberoamericano de Berlim, como "boa literatura estrangeira".
O livro não está em livrarias, e sim, conosco, pelo email acima, se quiserem conhecê-lo.
Eu quero conhecer mais de perto o Gustavo, me escrevam!
abraço e parabéns
Ana Parreira
psicóloga - e Aspie
Parabéns pelo belo e coerente texto, Guga. Prova viva da competência e força de vontade de alguém que luta com tudo que têm pra ter seusobjetivos e sonhos realizados. Orgulho de vc!
ResponderExcluirDe Seu Amigo,quase irmão
Paulo Andrade.
Ana, obrigada pela participação e pelo trabalho! Vou encaminhar seu contato para o Gustavo!
ResponderExcluirPaulo, obrigada pelo comentário aqui, assim, a gente vê o quanto o Gustavo é querido e adimirado por mérito próprio, pelo ser humano que é!