segunda-feira, 20 de agosto de 2012

SER DIFERENTE NÃO É DOENÇA

Hoje em dia, vejo que ser diferente pode ser um problema, ou, uma solução... depende de como agimos.

Pedro tem me ensinado muito a ser uma pessoa melhor. O desafio diário de lidar com ele pode cansar, muitas e muitas vezes, mas, vê-lo crescer e mudar me lembra que é para isso que estamos aqui, para nos tornarmos pessoas melhores, não igual a todo mundo, nem um diferente do tipo "perigoso", mas, diferente do tipo "autêntico", "feliz". Lógico que tenho que lidar com um comportamento desafiador full time. Não tem refresco. Mas, entendi uma coisa: não adianta falar qualquer coisa, tem que fazer sentido. 

Pedro me ensinou a vê-lo como é e entender que diferença não é doença. Engraçado que, como já falei outras vezes, me voltava muito para buscar um enquadramento patológico para ele, para, "achando" eu, saber lidar com ele. Para mim, essa agitação dele era doença e precisava de remédio. Existem problemas patológicos, sim, não estou aqui dizendo que essas doenças não existem e sei que identificá-las o quanto antes, melhor a eficácia do tratamento. O meu "não saber lidar com Peu" é que procurava um remédio para "normatizá-lo". 

O coloquei numa escola com metodologia diferenciada, o que entendi é que nada adianta uma boa proposta se na estrutura real pode se perder quando algumas partes da equipe não tiverem o perfil vocacional. Pode-se ter a melhor qualificação, se faltar alma, nem adianta, cai na mesmice das escolas "tradicionais". É como sempre cito a frase da Morgana Gazel: "fazer diferente exige muito mais que contradizer". O diferente requer vontade, dedicação e disposição - e isso só parte quando o profissional lembra que é pessoa, antes de tudo e mais nada, e essa pessoa sabe que tem essas características dentro dela. Todos nós temos, só que muitos nem sabemos... - além de uma visão holística - visão do todo. Ah, o mais importante: não dá para ficar no discurso e no "obrigada, pela parceria". Onde está a parceria? Não tem o que me agradecer por ser presente, aberta e participativa, eu sou assim e minha relação com meu filho é assim. Eu sei que escola alguma faz milagre e nenhuma tem a obrigação de saber lidar com o "diferente", mas, desde que não use em suas visões e missões, em sua cultura organizacional - sim, uma escola é uma organização e sim, é necessário capital para investir, sustentar e manter o diferente, porque é mais caro, não se produz em série... mas, a vocação não depende dessa verba, ela é nata - a afirmação do tipo: "aqui, temos uma proposta voltada para as características individuais" e agir pelas características grupais. Não estou aqui me isentando da minha responsabilidade de mãe, muito menos, delegando para a escola a educação do meu filho, mas, esperava na educação acadêmica mais parceira como tivemos no ano anterior, com Aninha a frente e sua competência magistral. Este ano, a equipe me parece estar desfalcada no quesito vocação e se a direção não estiver no comando, o barco fica a deriva... No último semestre, Pedro se mostrou estagnado no aprendizado, por conta do seu comportamento em sala, de não participar no mesmo ritmo que o grupo - e quando falo em problemas comportamentais dele, falo de atitudes agressivas e de só querer fazer  que quer. Cheguei a acreditar que ele fosse TDAH ou algo similar. Mas, a psi dele já entendeu o modus operandi dele, assim como eu já o havia visto, a diferença é que ela usa termos técnicos e tem um entendimento científico da situação. Ainda assim, ele se aproxima de hipóteses bem prováveis de distúrbio de ansiedade. Não se trata de um diagnóstico fechado, mas, de uma característica muito visível nele. Assim, adaptamos - eu, o pai e parte da família, bem como com o apoio da psi dele e da pró - um modus vivendi onde entramos no mundo dele e buscamos compreender como acessá-lo, desenvolvendo estratégias que não entrem em choque, mas, apazigúem, sem deixar de ser firme, para ele entender quem está no "comando", afinal, por mais que ele seja um indivíduo, ele é uma criança. Para nossa grata descoberta, o caminho é árduo, por ser cansativo, simples, é... porém, nada fácil: amor, firmeza, coerência e franqueza. Trata-se de uma educação a longo prazo. Só que, quem disse que para quem busca resultado imediato e um indicador de "ele já melhorou muito" serve? Há quem queira mágica e resultado imediato. Foi aí que vi que a proposta inicial da escola de "não produzir indivíduos em série" cai no sistema "normótico"... Ainda acredito na escola, mas, em parte da equipe, não. Dá para ver a diferença e onde está o "problema".

Para Pedro, deve fazer sentido. Para ele parar, deve-se haver um entendimento. Para ele entender é fácil, firmeza, franqueza e coerência. Fora que ele tem o "time" - tempo - dele. Isso deve ou não ser respeitado numa escola que afirma lidar com as características diferentes e individuais? "Ah, mas, ele não produz junto com o grupo...". E, aí, queimar etapas? Eu penso que deveriam trabalhar, antes, essa questão individual e trazê-lo para a compreensão do social. Estamos pagando uma estagiária para fazer intervenções psicológicas nele, na sala. Ela é bastante comprometida, só que, quem está acima dela parece não dar o apoio necessário. Eu não sei... eu sinto que há algo muito falho aí. Não quero milagre e bem sei como cansa lidar com os questionamentos e a maneira de agir de Peu, ele tem uma inteligência acima da média e uma curiosidade elevadíssima, fora que uma agitação desgastantes para quem o acompanha. Isso nunca me fez cruzar os braços e dizer: "ele é assim, deixa aí". Pelo contrário, precisei ver que ele é assim para, justamente, lidar com ele. Tudo bem, é óbvio que com ele somos eu e ele, um para um. Na escola, a professora tem mais 24. Ainda assim, vejo que ela dá conta, só precisa de apoio. Com a estagiária, esse apoio in loco se faz presente, para "conter" o comportamento dele. Não é só isso... a parceria quebra quando sobe a hierarquia... E todo empenho desce ralo abaixo.

Morgana Gazel traz outra frase - em seu livro "Enseada do Segredo", pela Paco Editorial - que me faz entender onde a parte da equipe da escola ainda não consegue acessar o "Fabuloso Mundo de Peu", e a frase diz: Ignorar não é não saber; há um saber além do conhecimento obtido através da razão”. 

Pois é, o meu desafio agora é saber o que fazer com relação à escola... insistir, persistir ou desistir? Confio na professora, confio na diretora, confio na professora do grupo mais avançado, mas, não confio na dupla: coordenadora pedagógica e psicóloga da escola... O método construtivista, posta em prática, para mim, requer mais do que qualificação acadêmica e técnica, requer preparo de vida... Há um problema aí e a solução, para mim, não era desistir, e sim, persistir. Ano passado a gente firmou - era outra equipe - e deu certo. Com todo trabalho - que já era esperado - e funcionou em algumas coisas. Este ano, desde que começou, só vi piorar e Pedro melhora aqui fora... pensei: "se ele já melhorou seu comportamento aqui fora, na escola é questão de tempo". Não sei que tempo vem a ser esse, sei que o cronológico passou e muita gente ali comeu mosca por não saber como agir com o diferente que é o propósito da escola... o público dessa escola é esse público diferente, sem ser portador de deficiência - no sentido patológico. Eles alegam que não trabalham a inclusão por não trabalharem a exclusão. Há um limite para criança portadoras de deficiência... até aí, tudo bem, é a filosofia da escola e é algo que deve ser respeitado, afinal, requer uma estrutura mais bem preparada e que vai requerer mais investimento... E quanto ao diferente?

Não penso que exista uma escola que vá trabalhar o milagre, vou em busca de uma onde os profissionais saibam o seu papel e saibam que o seu papel está além do papel de um diploma, seja lá de qual titulação for. O papel real cansa, desgasta e a pessoa precisa refletir: para o bom funcionamento do meu profissional, tenho que ser uma pessoa preparada! Hoje em dia é muito fácil entrar num Mestrado e sair apenas com o título. E a vivência? E a experiência? E o pessoal?

Pois é, Peu, mexeu fundo em gente grande e com títulos maiores ainda... Gosto muito da escola, da professora, até do porteiro. Todos são comprometidos e competentes. Essa dupla nada dinâmica de coordenação pedagógica e psicóloga me deram a resposta que procurava: onde está o problema? É uma hipótese muito mais próxima do bem provável...

A escolha da escola ideal é saber ver o limite de ação dela, sem deixar de reconhecer todo o mérito que ela tem, sim. Entender que existem coisas que se baseiam em valores que não combinam com o da instituição é que confunde e fica a pergunta: o que faz lá? Se estão ali, estão ali. O que vejo é uma relação desgastada e ego ferido... como não sou perita no assunto, muito menos psicóloga, só suponho... Como pessoa, antes de tudo e como mãe, nesse meio tempo, preciso dosar razão e emoção para tomar minha mais sensata decisão. Nem pisquei quando pensei em matriculá-lo lá, mas, penso em tirá-lo... isso é bom. Consciência e abertura de visão fazem parte, afinal, não se trata de querer que me agrade ou supere minhas expectativas. Eu sei bem quem e como age o meu pequeno, portanto, não sou o tipo de mãe que acha que o filho é um santo... mas, sei que o meu também não é o demônio. E nem penso que só existam esses dois lados. Eu vejo o meu filho como um ser humano. E lido com essa realidade. Por isso, não esperava milagre da escola, nem obrigação em se comprometer... Deixei clara a minha postura e se eles estavam dispostos a dar continuidade, no que me garantiram que "sim!". Entretanto, se há uma política organizacional, onde está a prática dela? Onde está a coerência com as belas palavras? Na prática, a teoria é outra? Creio que essas novas profissionais - porque elas fazem parte do quadro há pouco tempo... creio que menos de 4 anos - não se deixaram atravessar pela missão, visão e valores da instituição... 

Em toda parceria existe a parte mais interessada - neste caso, eu - e esta parte precisa estar aberta e ligada, administrando tudo. Decidir faz parte. Mas, ser injusta, nunca!

Saudações maternais,

Pat Lins.

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