sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

"NÃO! O MEU FILHO NÃO FAZ ISSO!"



Fico intrigada com essa frase, melhor com essa maneira de pensar: "NÃO. MEU FILHO NÃO FAZ ISSO!".

 Vou tentar me explicar por três óticas minhas - vale a redundância:

1 - Quando eu era criança, no papel de filha: eu não era do tipo de aprontar. Era aquela criança inteligente e bonitinha que todo mundo gostava. Mesmo assim, tinha meu lado "sombrio". Por exemplo: lá em casa, era proibido xingar. Bom, eu não saía xingando pela rua, na ausência dos meus pais, mas adorava soltar uns belos palavrões nas rodinhas de amigos. Quando acontecia algo - e, me parece, que os adultos de hoje em dia têm essa dificuldade de entender e aceitar que, onde há mais de uma criança reunida, acontece algo... - "grave" ou "um problema", tenho a lembrança de ver minha mãe nem defendendo, nem acusando a gente. Geralmente, ela procurava saber o que havia acontecido com todos os possíveis envolvidos. Outras mães já chegavam nervosas e preocupadas em provar a inocência dos filhos, já dizendo: "Não. Meu filho não faz essas coisas...". Sabe essas cenas de filme, onde uma criança "atentadinha", sem limites, mimada e apimentada quebra uma vidraça e faz cara de vítima e os pais culpam qualquer outra pessoa, para defender o filho? Pois é, eu vi muito isso. Várias vezes, vi mães de amiguinhos "pagarem esse mico". Nós, as crianças, adorávamos ver aquelas cenas e nos "acabávamos" de rir "pelas costas" dessas mães iludidas. E o mais intrigante é que, justamente as mães dos que aprontavam na surdina eram as que mais se expunham e expunham a cegueira delas. Não digo que mãe tenha que desconfiar do filho, mas o benefício da dúvida ajuda... apurar antes de julgar e condenar é melhor do que alimentar no filho de que ele é um santo, ainda que mate gente. Enxergar ajuda a ajudar. Talvez esse tenha sido o problema daquelas mães, elas não queriam ter o trabalho de ajudar o filho, portanto, melhor nem ver quem ele é, além do que é em minha frente. Penso que a maneira como meus pais agiram comigo e com meus irmãos estreitou um vínculo sincero entre nós, onde a gente assumia o que fazia, mesmo sabendo que encararíamos uma punição merecida. Tanto que onde morávamos, éramos referência de "bons filhos", até pelas mães neuróticas. Mas, meus pais nos deram essa condição, a gente confiava neles. Mesmo "aprontando", a gente assumia que errou e encarava. Nós - eu meus irmãos - tínhamos/temos nossos pais como grandes amigos e com respeito que se deva aos pais.

2 - O estigma na escola, como mãe de um aluno "problema": na escola de Peu, no início, tínhamos uma parceria bem bacana. Eu contava com a equipe e a equipe sabia que podia contar comigo. No prédio maior, a equipe era outra e de certa forma, recentes na escola. Bom, depois de inúmeros trabalhos - psicoterapia, equoterapia, natação, eu em terapia, marido em terapia, rotina da casa desenvolvida em cima de dar limite a Peu sem estressá-lo com sobrecarga de atividade... enfim, ele começou a responder de maneira positiva. Pedro tem uma combinação explosiva, onde podemos resumir em ansiedade e inteligência elevada. Ou seja, estabelecer limite é tarefa árdua e de todo mundo falar a mesma língua para evitar brechas, pois ele é é muito sagaz e consegue argumentar de maneira que justifique cada atitude dele. Bom, aconteceu que na escola, ele piorou o comportamento no ano passado, para a surpresa minha, da psicóloga dele e do pessoal da equoterapia. Então, a escola me expõe o Pedro em sala de aula. Afirmo que reconheço aquele Pedro e digo: "é questão de tempo, agora, porque eu sei quem é esse Pedro que vocês me trazem e vejo ele melhorar seu comportamento aqui fora. Ele não se tornou santo, mas já melhorou. Precisamos entender o que está acontecendo aqui na escola...". Pronto! Assinei a sentença de mãe que deixa a mão queimar no fogo e, para eles, eu estava dizendo "Não. Meu filho não faz isso.". Pelo contrário,  o que eu estava dizendo era "Sim. Eu sei que meu filho é capaz de fazer isso, mas existe solução.". Percebi que estava sendo estigmatizada e incompreendida por conta do retorno em forma de um sorriso mudo de ironia como quem diz: "Mãe...". Compreendo o porquê da escola agir assim... vi mães e pais de coleguinhas de Peu afirmando categoricamente: "Não. Meu filho não faz isso!". Inclusive, houve um incidente entre Peu - e, dessa vez, ele foi vítima dele mesmo - e um coleguinha dele do tipo "sonso" - é, gente, criança sonsa existe, sim - onde o coleguinha grudava em Peu, quase uma sombra. Eles foram ao mesmo brinquedo, no parque, ao mesmo tempo, só que um de frente para o outro e colidiram. Os colegas foram testemunhas oculares - cômico, se não fosse trágico. O coleguinha levou aos pais que Pedro o empurrou. Como Pedro era "famoso" pelo que aprontava - hoje, essas mesmas crianças que levavam para casa as "artes" de Peu, levam um feedback diferente para casa e a escola nem se deu o trabalho de escutar e ver o que os coleguinhas estavam vendo... - os pais foram á escola. A professora explicou o que houve. Os pais, ignoraram as informações e perguntaram se "os pais desse menino estão sabendo quem é o filho deles?". A escola afirma que sim e que já estávamos empenhados no trabalho com Peu e sugeriram que eles observassem mais o próprio filho, pois ele seguia muito Peu, muito perto, quase colado e que essas colisões seriam mais frequentes. Os pais não gostaram. Burburinho entre pais, me chegou que ela - a mãe do coleguinha - iria pedir "a cabeça" da professora... Essa professora era tão bacana que a filha era aluna dela e ela sempre soube estabelecer os papéis de maneira muito sensata e sem comprometer a qualidade da sua aula. De tamanho modo que a filha dela, certa vez se mordeu e veio me dizer que havia sido Peu - pois ele batia muito nos colegas, na época - e ela viu a cena, interveio e explicou que ela havia se mordido. Ou seja, ela estava atenta a tudo, mesmo Peu dando o maior trabalho. Ser mãe de filho em fase escolar já é trabalhoso, imagine ser mãe e professora da própria filha? Mas ela deu conta e deu show! Dora, você é minha ídola! Essa confiança e abertura deu o tom ainda mais forte na parceria com a escola em prol de esforços para permitir e descobrir como agir com Peu a ponto de ajudá-lo. Esse era o foco. Por isso, essa de "meu filho não faz isso" é papo de pai e mãe cegos.

3 - No condomínio, como observadora: gente, não tem laboratório de observação de relacionamento melhor do que condomínio, viu?! Já morei em vários e de diversos níveis sociais. E é tudo igual: haja pai e mãe barraqueiro! "Onde houver mais de uma criança reunida, ali estarei", falou a voz do problema. E penso que essa voz nunca tenha falado tão sério! Pois bem, atualmente, vejo é coisa. Houve um incidente onde a mãe de um menino processou o outro, por conta de briga na quadra. O argumento que ela usou, nossa, mostrou o motivo do porquê o menino não evolui como ser humano e continua sendo sonso e conhecido nosso, dos pais que frequentam o play. Ela alegou que o filho havia sido espancado. E foi, mesmo. Só que, no dia anterior, eu mesma vi o filho dela batendo em outro menino - e menor do que ele - e xingando horrores; fora que esse menino, sem saber que eu estava por perto, estava ensinando Peu a xingar e dizendo que eram palavras bonitas, por exemplo, ele disse: "Peu, diga aí: po**a, car****, 'eu sou v**do' que você vai estar dizendo que é cara legal...", quando ele viu a minha sombra, saiu correndo e se escondeu, pensando, inocentemente - sim, eles têm esse lado inocente de que ninguém vê o que fazem... talvez isso seja reforçado pelas atitudes dos pais - que estava invisível. Ensinou a outro garotinho - que já anda com ele - a dizer "porra", porque no Aurélio, segundo ele, o mais novo, mostra que isso quer dizer "cara legal" e que o pai dele o ensinou. Lógico que o pai não ensinou para ele, mas ele sabia que daria mais credibilidade usar esse argumento. Mais aqui do condomínio - daria um livro de "vamos abrir os olhos e a mente para plantar boas sementes, em vez de sem mente (vi essa brincadeira com sementes e sem mentes no facebook e adorei!) : alguns meninos estavam arremessando pedras na casa do vizinho e, ao chamarem os pais, qual o argumento? "Não. Meu filho não faz isso porque não é a educação que dou para ele!". Pergunto: isso ajuda a resolver ou criar um problema maior? Em outro condomínio que morei, a câmera de segurança no elevador social estava com defeito, todos sabíam, até que um menino/vizinho, resolvei fazer xixi lá dentro, bem ao lado do síndico da época. O síndico, primeiro como pessoa, questiona aquela atitude e o menino responde que "meu pai paga condomínio para quê?". Pois, como ser humano transtornado e como síndico em sua função, acompanha o menino até em casa. Pede para conversar com o pai e relata o ocorrido. O pai: "prove que meu filho fez isso!". Aqui no condomínio: meninos sobem no teto na guarita de segurança ; escalam a lateral do edifício; brincam destruindo o parque infantil... molham todo o play ao sairem da piscina e correrem pela área que deveria estar seca... afrontam os porteiros, para mostrar "poder", monoploziam a quadra... O que eu penso: natural para um prédio com pouca área de lazer e tanto menino - do gênero masculino, mesmo - junto e sem orientação, educação e vínculo com os pais.  Sabe o que geralmente acontece? Os pais ficam brigados, fica um clima terrível no condomínio - porque, sim, influencia no coletivo - e os filhos dão a lição que ninguém aprende: eles mantêm a amizade! Eles brigam e se perdoam. Com uma boa influência do adulto, eles podem diminuir os índices de agressividade, o que não acontece. Aqui no condomínio tem muito "menino", imagina essa testosterona toda num espaço pequeno? Sem apoio e uma relação saudável entre pais e filhos - eu sei que existe a índole de cada filho, não ignoro essa interferência, mas a socialização estabelece um limite de ação, não de transformação, que permeia a pode colaborar - os condomínios continuarão sendo vítimas de si mesmos e da falta de educação moral e ética. Conviver passa a ser um desgaste, em vez de um prazer.


Como crescem as crianças que "não fazem isso!"? O que leva a nós pais e mães deixarmos a mão no fogo até queimar, em vez de ajudar o processo de transformação?

Não estou dizendo que a ma/paternidade seja tarefa fácil. Mas, facilitar para o vazio e superficial dessa maneira não ajuda. Aliás, ajuda a desconstruir.

A gente não precisa, por outro lado, estabelecer um tom de condenação, como eu fiz com Peu, de achar que ele estava envolvido em tudo de errado. É preciso estar aberto, disposto a compreender o que aconteceu e permitir que eles se resolvam. E nós, apenas mediadores - desde que sejamos justos de natureza e sensatos, não tendenciosos. 

Conviver é uma arte! Primeiro, aprendamos a conviver com nós mesmos. O demais, surge em consequência. É aquela história: "quem não sabe brincar, não desça para o play". 

Saudações maternais,

Pat Lins.

Para deixarmos um mundo melhor para os nossos filhos, deixemos filhos melhores neste mundo! Pat Lins.

2 comentários:

  1. Olá Patrícia!
    Gostei de seu texto!
    Educar os filhos não é nada fácil, é um trabalho prazeroso de realizar no dia a dia! O problema é que muitos pais ‘terceirizam’ essa educação.
    http://jefhcardoso.blogspot.com lhe convida e espera para ler e comentar “O Grande Circo Nonsesense – Vila Abranches”. Abraço e bom final de semana.

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    Respostas
    1. Obrigada, Jeferson! Realmente,é um trabalho prazeroso, viu?

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