Gente, geralmente, levo Pedrinho para assistir a filmes da sua faixa etária - o que é super natural... - só que, dessa vez não tinha filme para a dele - além de "Detona Ralph" e ele já viu - e estávamos num grupo com os primos maiores dele. Bom, "Uma família em apuros" foi o escolhido para esse programa em família. Fomos sem grandes expectativas... O que foi ótimo! o filme surpreendeu!!!
Uma crítica leve e engraçada sobre as diferenças entre as gerações. Diferenças essas que não foram tão gritantes anteriormente e, na última década vem se revelando cada dia mais desafiador ser pai, mãe, filho, avô e avó. Ser tio e tia sempre foi legal e continua sendo, né verdade?! Mas, ser responsável direto por um serzinho em desenvolvimento é tarefa para mais de um, é tarefa para um mundo!
Pois bem, o lembrete maior que o filme - com idéia original e muito bem pensada por Billy Crystal, um ator completo ao meu ver, que se inspirou em uma semana onde precisou ficar com suas duas netas pela primeira vez e a filha lhe deu uma "bíblia" de instruções do tipo "fale isso; faça aquilo..." - traz é o que esta geração em específico vem deixando para segundo, terceiro, quarto... plano: O AMOR. O amor não tem geração. Hoje em dia, bem como foi colocado na postagem anterior, com o vídeo do Dr Martins, as crianças estão sendo terceirizadas.
O que eu, Patricia, penso e vejo disso - independente de se consigo dar conta ou não... até porque, muito vejo, muito sei que deveria fazer diferente mas acabo não fazendo, seja pelo motivo que for... - é que nossa geração atual de pais e mães busca uma ma/paternidade consciente, porém, ainda em dilema e muitos conflitos. Por isso que volta e meia nos coloco como precursores de um processo novo, de uma época de divisão de águas. E levanto a bandeira da importância de nos buscarmos mais e mais, já que temos uma missão desafiadoramente pesada, apesar de ser possível. A questão é que AINDA não encontramos o tom, o ritmo, o caminho... a maneira mais assertiva nesse processo. E, muitos de nós, convenhamos, nem se importa com isso. Nem se dá conta disso. Para piorar, encontramos a resistência e o medo dessa mudança radical e expressiva dos dias atuais, onde o consumismo dita modas e regras a cada estação, antecipando, inclusive essas estações... onde comprar antes para já entrar pronto e na moda. Comprar, ter, competir virou palavra de ordem. Um parêntese: tem um shopping aqui na cidade que está com uma pracinha para as crianças com a chamada "GASTAR ENERGIA SEM GASTAR ENERGIA", com brinquedos que demandam de criatividade e de muito mais de esforço físico para funcionar do que de pilha, bateria ou energia elétrica, como brinquedos da década de 70 e 80... até carrinho de rolimã tem. Nada contra os brinquedos tecnológicos, porém, urge o estabelecimento de limite para seu uso, até mesmo por uma questão de consciência de que criança, seja de qual geração for, quer mesmo é ser criança e viver essa fase como ela pede: com liberdade e limite - limite este que ensine que toda liberdade tem um ponto de até onde ir.
Voltando ao filme, "Uma família em apuros", o título já sugere o que o filme nos alerta: estamos em apuros! Ninguém se entende de verdade e vive uma clausura do saber demais e não saber o que fazer com tanto conhecimento e informação. Bom, considerando que toda família sempre vive lá seus apuros, não penso que este seja bem o pilar do roteiro. O lembrete de "amar" o filhos e deixar que criança seja criança é o que vi como mais importante. Não tem nada de surpresa ou grandes novidades tecnicamente falando: diálogos previsíveis, roteiro previsível, etc, mas o filme não perde a graça, pelo contrário, nos arranca boas gargalhadas - ainda que eu tenha tido que assistir a versão dublada com as crianças... - e nos faz realmente parar para refletir sobre os exageros e radicalismos, bem como ver e ouvir da geração de avós que sabem que não estão certos e não vão acertar sempre, mas precisam tentar. Fora a questão de que os avós do filme - bastante caricatos, sim, mas não tão surreais - trazem a dificuldade dos avós em entenderem que os netos são uma possível segunda chance que a vida lhes dá, porém, não são seus filhos, são seus netos! E quem nos diz isso é a personagem da brilhante Bette Midler, na pele da vovó inexperiente, Diane.
Legal é ver que os pais, sejam de qual geração forem, sempre ficam perdidos, haja vista que uma criança NUNCA nasceu com manual de instruções. Portanto, toda geração teve seu quê de desafio. Natural que quem colhe planta e nossa geração colhe,hoje, frutos de mudanças que vêm sendo plantadas a cada mudança de geração, começando pela X , pós Guerra, em plena ditadura militar, em se tratando de Brasil... e, da necessidade de se romper com tantas perdas, dores e opressões, surge o desejo de libertação - da qual faço parte - e seguindo pela Y - décadas de 80 e 90 - agora culminando na Z, que são os filhos dos filhos da "libertação da opressão". Lógico que aquilo que começou desgovernado, tende a aumentar, como uma gigantesca bola de neve morro abaixo. No afã de algo que começou errado, em vez de subir, desceu... numa necessidade de se ter tudo após privações de posses, natural que o natural tenha sido esquecido: primeiro pela opressão, depois, pela necessidade de se livrar de tudo e qualquer coisa que remeta e castigo, punição e etc. Hoje, vivemos o ápice dessa fase conturbada mas que também traz muita coisa boa, só que mal aproveitada, explorada ou conduzida.
No filme esses embates de pais da década de 70 e avós no novo milênio com os pais atuais são bem interessantes. Gosto da maneira como Billy Crystal levanta críticas e reflexões em tom de comédia, para nos lembrar que rir ainda é a melhor maneira de recuperarmos as forças vitais de maneira produtiva. Casa que fala e faz tudo, menos dar conta de permitir que uma criança saiba o que vem a ser infância sem consumo. Proibições exageradas e cientificamente comprovadas são questionadas pelo outro lado da questão - permitam-me a redundância - que também é cientificamente comprovado de que crianças felizes e amadas serão adultos mais próximos do equilíbrio emocional. A segurança de um lar está além do vigia, da polícia ou do porteiro de um edifício com forte esquema de segurança, está na força do amor que envolve esse lar, está no ambiente de conforto em saber que se pode fazer muita coisa e que muita coisa será feita mais frente após cumprida essa etapa; está no ar limpo de se poder falar e escutar, de se trocar idéias livres de preconceitos, de orgulho, de vaidade ou de manipulação, é o ar do respeito. Um lar saudável é um lar onde a gente recarrega as forças em vez de sair esgotado dele.
O estressa da vida atual - que nem é mais moderna... pois até o moderno está ultrapassado - é desencadeado por cada um de nós. Só que essa mesma geração que sofre com essas consequências danosas, também traz em si a capacidade de transformar essa realidade. Eis o grande desafio: aceitar o fato de que é possível frear com pequenas atitudes individuais de despertar de consciência. Pesado? Você acha? O que pesa mais, um quilo de algodão ou um quilo de chumbo? Pesa mais levar essa realidade desordenada a frente ou começar a ver que pequenos passos postos em prática e com verdadeira boa vontade é possível estabelecer pequenos percentuais de avanços? Pois é, colocar filho no mundo vem de geração em geração. Como estar ao lado deles e como educá-los melhor sempre foi um ponto de tensão e questionamento. Não penso que as gerações anteriores estão certas, também não penso que estejam erradas. O filme aborda isso com leveza, quando pai e filha se afastaram na fase adulta e ela quis ser tudo o oposto do que ele era. Ela se negou e se tornou uma pessoa obcecada por trabalho e determinar regras de boa convivência no lar, sem limites edificantes - os meninos eram mimadíssimos e não podíam ouvir um "não" - e sem emanação de sentimentos livres, além de "bom dia" cordial emitido pela voz tecnológica que soava pela casa do RLife. "Life" é vida e eles não tinha vida. Tinham um emaranhado de rotinas e afazeres estressantes que lhes garantiriam um futuro financeiramente promissor. Talento é algo que só é válido se render dinheiro, senão, é sonho utópico.
Criança gosta de se molhar na chuva, de pisar na lama, de chutar lata! Criança gosta de se divertir. A gente, na condição de pai e mãe, não precisa carregar tanto no novo papel e negar que gostávamos de diversão e reclamávamos horrores das negativas que escutávamos. E quantas vezes escutamos: "quando você tiver seus filhos vai me entender..." e tivemos, não entendemos, negamos e repetimos alguns dos mesmos erros que tanto condenamos em nossos pais? "Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais", já dizia Belchior, magnificamente interpretado e imortalizado por Elis. Como diz Morgana Gazel: "fazer diferente exige muito mais que contradizer!" - tem um post que menciono esse pensamento da Morgana Gazel, do seu livro "Enseada do Segredo".
O filme é ótimo para program em família. Ver a questão do amigo imaginário, de como lidar e como ele precisa "partir". Ver que nada demanda de crítica, mas de solução posta em prática e que exageros e omissões nunca foram as melhores soluções. Ver que expressar em palavras nem sempre é possível. Ver que canalizar a agitação e agressividade de uma criança está além de frases prontas. Ver que jogos competitivos e ganhar/perder é uma dicotomia do jogo da vida e que de maneira lúdica a criança precisa lidar com essas questões e jogos que sempre terminam em empate não condizem com a realidade, entretanto, jogos competitivos demais também não ajudam... Ou seja, vamos buscar o ponto de equilíbrio mais abertos, mais leves e com determinação.
O barato do filme é sentí-lo. É considerar rindo à toa que para tudo tem solução, desde que haja amor, um diálogo franco e de coração aberto, com cada parte identificando, reconhecendo e se colocando disposto a, mesmo sem saber como, descobrir juntos. Isso é o que consigo fazer em minha vida familiar: mesmo errando, continuamos tentando e mudando. Nos avaliando, sem o peso duro e áspero das críticas severas. Nos refazendo numa fase eterna ou não - mas, eterna enquanto dura - de reconstrução. Vivendo cada dia, não como o último, mas como o primeiro!
Gostei muito, independente das críticas e do filme ser "água com açúcar" - aliás, açúcar é algo proibido para as crianças no filme, numa crítica aos exageros em busca de uma alimentação balanceada... e exagero não é bom para nada - é uma água com açúcar que vale a pena dar uma bebidinha e saborear, sabendo que não é nada para surpreender pelos efeitos especiais e por histórias distantes da realidade... é um filme do cotidiano, simples porém bem feito, com atores que dão conta do recado e abrilhantam as cenas. Enfim, é um filme para todas as idades - até Peu assistiu, com seus 6 intempestivos anos de idade e agitação e questionou muita coisa; "viu" o amigo imaginário do menino no filme, coisa que ele já teve e eram muitos...; questionou o porquê de quando as pessoas morrem terem que ser enterradas... - e todos os gostos. É um filme leve e despretensioso, que apenas quer nos fazer refletir e rir de uma situação que o Billy Crystal viveu na prática, em sua realidade pessoal. É uma comédia previsivelmente boa de se ver, para rir sem receios.
Saudações maternais,
Pat Lins.
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