Como de costume, preciso falar e repetir que a vida é um eterno aprendizado. Afinal, somos demandas demais para a vida inteira.
Pois bem, em meu processo de aprendiz como mãe e, ao mesmo tempo, de orientadora/educadora como mãe, na prática diária, entendo o que a máxima: "escute seu filho para depois falar", é verdadeira. Isso não quer dizer: acate o que ele diz, mas saiba qual a demanda dele, através de uma escuta ativa, para exercer bem o papel.
Olha a situação... ai, ai...
Pedro havia "aprontado" algo na escola - garças a Deus, este ano ele está se encontrando e com o apoio necessário retomado, haja vista que exceto ano passado, ele recebeu todo apoio nos anos anteriores... e ele está mais centrado ou centrando-se. Afinal, trata-se de um processo e não de passe de mágica. A professora - essa, sim, um Professora, vocacionada e dedicada, consciente do seu papel - chama meu marido e conta o que houve, na frente de Pedrinho, para que ele entenda que as atitudes dele geram consequências.
Enfim, para não ficar muito extenso, vou pular para a parte onde ele chega em casa e eu sou notificada:
- Pedro, você quer me contar tudo o que aconteceu? Por quê você arremessou o livro, gastou todo o sabão do banheiro, etc, etc, etc?
- Ah, porque eu quis!
- Então, tá! Vamos fazer um novo combinado, pode ser?
- Pode, sim!
- Você pode, então, ir tomando seu banho que eu te encontro no banheiro e vamos conversando.
Deixei-o lá, por alguns minutos. Normalmente, o shampoo, condicionador e sabonete dele ficam ao alcance. Nesse dia, em especial, coloquei no alto e lá deixei. Daí...
- Mãe, você pode, por favor, pegar meu shampoo? Está muito alto e não alcanço sozinho.
- Eu sei, filho! Muitas vezes, a gente não alcança sozinho o que quer e precisa pedir ajuda a alguém mais alto, mais experiente... alguém que saiba mais do que precisamos para poder nos ajudar. O que você QUER, agora, mesmo?
- Que você, POR FAVOR, pegue meu shampoo, porque você é maior e meus bracinhos não alcançam.
- Tem uma coisa... EU NÃO QUERO PEGAR... AGORA NÃO VOU, SÓ QUANDO EU QUISER!
- E eu vou ficar aqui, todo molhado e sujo, é? Você não quer ver seu filhinho limpo e cheiroso, não?
- Quero, sim. Mas, agora eu quero fazer só o que eu quero. E eu quero ficar aqui, parada, olhando para o teto, fazendo nada...
- Mas, mãe, eu não posso sair daqui assim...
- Eu sei. Eu também sei que posso te ajudar e, agora, está me dando vontade de te ajudar. - entreguei o shampoo.
- Obrigado, mãe!
- Por nada filho! Mas, pronto para nossa conversa, enquanto toma banho?
- Tá, vou te contar...
Contou tudo e deu sua versão, onde o "não sei o que me deu, eu estava enfurecido...", também adentrou a conversa. Apenas escutei. Quando ele se calou, falei:
- Agora, eu vou falar e preciso que escute até o final, bem como fiz com você, pode ser?
- Tá, mãe...
- Filho, você quer fazer apenas o que você quer, não quer? E você sabe que a gente, quando faz algo de ruim, machuca a gente e aos outros, não sabe? Já percebeu que sempre que você faz uma coisa ruim, vem outra ruim? É assim, meu bem... a gente escolhe o que quer para a gente. Eu me esforço e muito para não te bater, porque eu não acredito que resolva. Eu gosto de conversar com você, porque sempre deu certo. Mas, eu preciso que você me diga agora o que você está querendo voltando a fazer bobagens na escola. Outra coisa, nosso novo acordo é o seguinte: vou deixar você fazer TUDO O QUE VOCÊ QUER. Agora, mesmo, eu ia te levar para fazer a ginástica e, não vou fazer o que eu quero, que era terminar um material do trabalho. Tudo bem, eu escolhi fazer a sua rotina, porque você é criança. Como você está agindo feito um bobo e não merecendo que eu faça algo legal por você, vou fazer o que quero e você vai se vestir, descer e ir lá para o meio da rua e faz o que você quiser. Eu te peço que não machuque, nem maltrate ninguém, porque aí, será com você a polícia. A polícia prende pessoas que não respeitam o coletivo, aquilo que é do bem comum, aquilo que é para todo mundo e quem não respeita o espaço do outro. O meu espaço não aceita certas atitudes que você vem tendo... mas, como é VOCÊ QUE QUER, vai viver na rua, sozinho, porque os malucos, coitados, vivem assim, na rua, sozinhos, fazendo a maluquice que querem e ninguém chega perto, com medo. Olha, só, eu vou sair, mais tarde e só volto após as 22horas, aí, você, se quiser voltar para casa e não estivar preso ou num hospital machucado, eu te recebo para você tomar um banho e dormir. No dia seguinte, você não vai à escola, nem a lugar algum que eu se pai pagamos, porque a gente não quer mais pagar nada que você não queira ir e, mais legal, não vamos te pagar mais nada! Porque a gente não quer! Pois, pela manhã, abro a porta, você desce, vai lá para o meio da rua de novo e vai vivendo sua vida, como VOCÊ QUER! Porque eu e seu pai, vamos vivendo a nossa como a gente quer e como a gente consegue, porque nem tudo que a gente quer a gente pode ou deve fazer! ...
Fui interrompida com um:
- Licença, mãe, posso falar?
- Pode sim, por favor!
- Eu já entendi o que você quer dizer. Pode parar de falar. Eu quero ir para a ginástica e fazer o que precisa ser feito e quero ir para a escola amanhã, porque eu quero aprender a ler e escrever. Você pode me levar?
- Claro, filho! Mas, que fique claro: você está ESCOLHENDO FICAR AQUI, COMIGO E COM SEU PAI. E escolher isso quer dizer entender que nós somos um grupo, como sua escola, sua ginástica, seus amigos no play... E isso quer dizer que o que você faz, nos atinge também. E te atinge, também. Se você quer ficar, a gente vai ficar feliz, porque eu te amo muito e acima de tudo o que você faz, eu sei que tem muita coisa boa aí, também que você sabe e quer fazer. Por isso, ficar aqui tem um custo...
- Qual é?
- Respeitar os limites do que pode e deve do que não pode e não deve, e como sempre, sempre te explicarei as razões. Você topa fazer parte desse grupo?
- Sim, mãe! Mas, você vai ter que me ajudar!
- Peu, isso é tudo o que eu mais QUERO!
E, pronto. Ele não virou um santo. Mas, em cada momentos especiais como esses, mesmo que após ele ter aprontado com seu gêniozinho, ele se abre mais e se revela mais sensível ao perceber o que faz. Nem sempre ele tem real noção dos seus atos... O fato dele querer muito algo é tão importante que, entender que não é bacana conseguir algo passando por cima do outro não é o melhor caminho. Como ele tem dado saltos em progresso, como pessoa, acredito que ele se apaziguar na escola será o próximo. Tudo é uma questão de tempo e de tempo bem monitorado com amor e com apoio, porque eu não conseguiria isso sozinha. Como gosto de agradecer, tenho uma equipe maravilhosa de família, marido, amigos, psicóloga dele, minha terapeuta, outras mães na prática e de Deus - como chamo essa força superior e de equilíbrio de forças, esse Ser supremo e criador - acima de tudo!
É a cada dia! É a cada momento em que respiro fundo e digo: "filho, não é fácil segurar a onda, mas por amor a você e como quero o seu bem, precisamos conversar e sério!". E, nesse movimento sincero e verdadeiro, ele entende. Quando eu apenas bradava e ordenava, exigindo dele um comportamento exemplar... só acirrava a sua ira e não o tocava. Precisei aprender ao escutá-lo mais. Ao observá-lo mais. Ao sentí-lo mais e mais. Ao me aproximar de coração e alma, deixando de lado o que a sociedade espera e vendo o que ele tem de bom para contribuir com esse social carente de mudança e revolução. E, nesse ínterim, a gente aprende juntos a como viver nessa mesma sociedade fechada e tacanha, nada acolhedora e super manipuladora, superficial e hipócrita, na demagogia de que "todos somos um"e ninguém respeita as diferenças... todo mundo julga e condena, em vez de colaborar. Foi esse entrave que vivemos na escola, ano passado, onde ninguém via ou ouvia os apelos das crianças que pediam: "me oriente com amor. Escute o que tenho para falar, porque não sei como me expressar.".
Não é fácil ser diferente. Mas, isso não é desculpa para incentivar a irresponsabilidade nos atos e não dar limites com amor!
Tenho aprendido muito nessa caminhada com Peu e ele, também.
É isso, ensinar é escutar a demanda e agir em cima dela.
Saudações maternais,
Pat Lins.
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