segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

APRENDENDO A ENTENDER QUE ESTAMOS DOS DOIS LADOS DE UMA MESMA MOEDA

Imagem: Google: Batata sem umbigo
Para quem pensa que educar filho é algo fácil, simples e que basta seguir à risca o que a ciência descobriu, é importante abrir mais a maneira de pensar... na prática tudo é REAL.

Acredito na ciência, sim, quando entendo que quem se dedicou à pesquisar e dividir essa pesquisa, estudou, observou, investigou e concluiu até ali, num tempo que passa a ser passado, posto que o tempo segue, enquanto se é investigado e observado o até aqui, ou até ali.

Desde que me tornei mãe e, mais especificamente, mãe de Pedro, venho aprendendo muita coisa até aqui - empiricamente, mas com apoio da ciência e da consciência. 

Antes, me recordo perfeitamente, mesmo não sendo eu uma pessoa cruel, me tornava uma, ao me apoiar na teoria de que tudo estava escrito e pronto. Via uma criança birrenta e dizia: "falta de pulso! Ai, se fosse meu!...". Pois é, paguei a língua. Pedro veio para mostrar que, na prática, criança é como ela é, pode melhorar com o ambiente, sim, como pode piorar, sim, mas ela também é genética, é herança genética de sabe Deus qual ente querido ou não... ela é resultado de combinação... é esse conjunto complexo biopsicosocioeconomicojuridicocultural, bem como SOMOS. 

Pois é, como exemplo, trago uma coisinha: dizem que crianças que não gostam de ler é porque não têm esse exemplo dentro de casa... SERÁÁÁÁÁ? Sim, isso pode influenciar. Mas, não pode determinar! Aqui em casa: eu leio. Não só leio, como escrevo. Não só leio, escrevo como ensino. Marido não gostava muito de ler, mas desde que casamos, ele despertou para o hábito - e olha que a mãe dele também gosta de ler. Pois bem, Pedrinho antes dos dois anos estava começando a soletrar, espontaneamente. Entrou na escola e estagnou - devido ao comportamento dele, ansioso e agitado, tanto que já fiz uma bateria de exames físicos e não deu nada patológico; já, emocionalmente, compromete. Ele conseguiu ser conquistado na escola, depois de um trabalho de parceria e esforço das partes, e começou a retomar esse interesse pelo aprendizado, diante do acolhimento em suas necessidades, ele estava já disposto, nitidamente, a se reabrir. Porém - como eu desejo, de alma, que os "poréns" deixassem de existir como algo "ruim que vem logo em seguida..." - , ao passar para o prédio maior dessa mesma escola, com 5 anos, todo o trabalho e progresso que tivemos foi jogado pelo ralo, diante de problemas com as profissionais que conduziram o processo - em vez de acolher e tentar entrar no "mundo" de Peu, debandaram em julgar e condenar... tanto que nós e mais três outros pais tiramos nossos filhos, para protegê-los e poupar a escola de ter que lidar com crianças com características diferentes e problemas, porque era assim que nos sentíamos: pais que deveriam ser dizimados... e, francamente, isso não é estimulante, muito menos positivo - e ele represou, regrediu e se fechou. Não foi fácil lidar com essa questão e, pior, ver que a escola é boa, apenas está com profissionais errado, nos lugares errados... Nem todo mundo tem perfil para lidar com criança - bem como honestidade e humildade para assumir as próprias limitações pessoais e/ou profissionais - e entender que são diferentes e algumas dão muito mais trabalho do que outras e sim, muitos desses problemas são de origem familiar, como podem ser individuais... , mas a questão é aceitar que é preciso saber como acessar a criança - nem preciso repetir que elas não sabiam... e, para piorar, descarregaram nas crianças "problema". Em vez de solução, acirraram e criaram outros problemas.

Tudo isso para dizer que somos muito mais do que empirismo ou ciência, ou herança genética , somos mais, muito mais do que apenas biopsicosocioeconomicojuridicocultural. Somos tudo isso junto e isoladamente. Somos demandas demais. Aceitar isso é o primeiro passo para a compreensão. ACEITAR É ACOLHER. Só assim é possível ajudar. Alertar não é criticar, é dizer: "aquilo que você não vê, não é por isso que deixa de existir, nem de ser como é!". 

Com todos os problemas que passamos, escolhas se fizeram necessárias e vitais. Mesmo tentando ser racional, "cabeça", administrando toda raiva e fúria que me fora despertada por aquela dupla de coordenação - isso ainda me dói... cada dia menos, claro - me ajudou. Sim, há males que vêm para bem. Nos mudamos: literalmente. Colocamos Peu em outra escola, com a mesma linha e ele voltou a se desbloquear. Aos poucos. Em seu ritmo. Em seu tempo, que já foi muito mexido e comprometido - e isso foi levantado numa avaliação psicopedagógica, como um dos fatores e de grande relevância... o que ele passou naquela sala de aula lhe deixou marcas profundas, porém, finalmente, um "porém" positivo, nada é tão profundo que com empenho e dedicação não comece a sublimar... 

Mudamos e valeu, vale a pena. Ficou tudo perfeito? Pedro virou um santo? Eu me tornei uma mãe perfeita? Marido se tornou um pai perfeito? Lógico que não. Estamos caminhando um caminho novo, que vem se abrindo à medida que temos ambiente LIMPO para refazer.

Por exemplo, Pedro entrava na casa de cada vizinho - inclusive escondido...; diante da novidade, ficou eufórico e a ansiedade triplicou. Mas, ao mesmo tempo, algo bom aconteceu: ele começou a ter mais consciência do que faz. Para, escuta e reflete. A sogra de minha nova vizinha me deu umas dicas profissionais e de mãe, também, que vêm ajudando, como entender que ele não tem noção de que ele é apenas uma parte do mundo. Ele se vê como o mundo e o mundo inteiro é ele... Aos poucos, estamos começando a fazê-lo entender essa questão. Os vizinhos, cada um ao seu modo, dentro da sua realidade e temperamento, tem se esforçado em ajudar - lógico que têm os que falam por trás... mas, me apoio nos que falam pela frente e com honestidade, sem intenção de condenar a criança ou os pais, afinal, do mesmo jeito que Peu é diferente em seu comportamento, existem pessoas que envelhecem sendo problemas e se tornam pessoas solitárias, que não sabem ser felizes e nem sabem ser cooperativas. Hoje, por exemplo, o pai de um amiguinho - que faz as mesmas artes que ele - veio nos alertar sobre atitudes de Peu. Ele sabe que o dele também faz as mesmas artes e veio nos alertar, claro, para tomarmos providência - e isso cabe aos pais, mesmo. Bastou sair e virar as costas, o dele veio e entrou escondido aqui em casa... como já tenho carinho pelo menino e já estou acostumada com essa arte dele, conversei com ele e pedi que fosse para casa e Peu não iria sair para brincar para pensar no que ele fez e que ele também precisa aprender a parar de entrar na casa das pessoas, principalmente quando a porta está fechada - como não estava trancada, ele abriu e entrou se esgueirando - e ele se foi. Aos poucos eles vão aprendendo. Como eles são muito próximos, se sentem à vontade para entrar na casa um do outro. Gostei do pai dele ter vindo falar conosco e perguntar se ele faz igual. Na hora eu neguei... bobagem minha, fiquei com receio dele pensar que era orgulho ferido e vaidade, preferi, no momento, não falar. Mas, repensei: do mesmo jeito que eu não sabia e gostei dele ter vindo me falar, me ajudou a ver o que meus olhos não conseguem ver - e não por cegueira, apenas por limitação ocular natural - será que ele aceitaria essa troca? Será? Penso que sim. Mas, tem o outro lado, por mais que o pequeno deles entre escondido aqui em casa, eu vou pedindo que ele não faça mais isso. Me vi sem saber como agir. Essas situações que envolvem crianças danadas são delicadas... ainda mais com "chumbo trocado", pode parecer ataque em legítima defesa... Não queria isso, assim, diante do fato d´eu ter que lidar com Peu, me fez ter que pensar rápido e só dava conta de segurar a raiva e o orgulho que emerge, mesmo, para compreender Peu e estabelecer contato, obrigando-o a refletir e que ele não iria mais sair para brincar, por conta disso. 

A questão é que nós sempre estamos dos dois lados. As crianças aprontam. Por isso os ambientes sociais precisam ser mais acolhedores. Como essa semi-troca que tivemos com o pai do amiguinho de Peu. Honestidade acima de tudo! Ele não veio brigar, apenas conversar. Claro que sei que é incômodo, você estar sem sua casa e uma criança entrar/invadir. O dele, enquanto eles dormem após o almoço, volta e meia escapole e vem aqui para casa. Menino tem arte. Ele, quando vê, conversa com o menino. Ou seja, ele sabe quem é o filho e tenta ajudá-lo, compreendendo que é criança, dando limite com amorosidade e respeito às limitações. E os dois estão aprendendo, com os erros em comum, vendo através do outro. 

Falta isso no mundo atual - se é que já houve isso de verdade, algum dia -, O ACOLHER a criança. O permitir que a criança seja criança, sendo criança. Que pais e mães não devem brigar ou alimentar estresse por conta das atitudes das crianças que, por mais inteligente e espertas, nos lembram que criança é criança e pensa como criança, sem ter noção da dimensão do que fazem... vão aprendendo aos poucos, à medida que são orientadas, dentro das próprias limitações. Deixei claro a Peu que o que ele fez está feito. O conserto é daqui para frente. Agora, redobrar a vigilância, em forma de atenção, no sentido de zelo, para dar base á educação; daí, abrir espaço para a transformação.

Ser mãe é isso: nada de tomar dor ou fazer tempestade em copo d´água. Se a gente quer ensinar aos filhos, vou me apegar ao que diz a ciência, devemos nós aprendermos antes. Ah, e isso requer respeito ao tempo e manter acesa a chama da esperança. 

Primeiro passo é aceitarmos que não somos perfeitas e pronto!

Saudações maternais,

Pat Lins.

Um comentário:

  1. Pat,

    Acho que Peu é uma grande luz, um grande desafio para todos. Mas é um desafio voltado para o crescimento, aprendizado e para o amor. Infelizmente nem todos enxergam esse maravilhoso desafio que Peu é. Humildemente, acredito que voce está no caminho certo, acertando e errando é que a gente aprende. Bjs.

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