terça-feira, 18 de setembro de 2012

DICA DE FILMES: HAPPY FEET 1 e 2


 A gente pensa que basta se tornar adulto para os nossos "problemas" de infância ficarem no passado e que seremos os pais mais legais que já existiram! Será?


Eu dava aula de Sociologia e usava um filme chamado "A marcha dos pinguins", para reforçar o aprendizado. Pedro assistia esse documentário comigo, várias vezes. Foi quando decidi comprar "Happy Feet" para ver se ele gostava. Nós gostamos. A mensagem rica de como os diferentes "incomodam" e como os adultos têm dificuldade em lidar com o que foge do padrão é muito bem trabalhada e abordada nessa animação. Outro enfoque legal é o fato de cada um ser quem é e ter algo de bom a somar. No 1, os pais, que são destaque entre os pinguins imperadores, colocam no mundo um filhote peculiar. Seu talento era a dança. Enquanto o talento dos pinguins deveria ser o canto. Em meio a esse cenário, Mano, o pequeno pinguim imperador, encontra acolhimento entre os pinguins Adelie - outra espécie. Lá, sua dança não é mal vista. Lá, eles são mais livres, mais amistosos. Nessa ida em busca de si, de se aceitar, ele descobre que sua vida só tem sentido junto ao seu povo e decide voltar. Mais forte e consciente de si, ele volta para definir seu espaço e lutar pelo seu grande amor, Gloria - a pinguinha mais cobiçada, e com a voz mais linda. Juntos, eles formam uma dupla que canta e dança - características que nós, humanos conhecemos dos pinguins, onde eles dançam para gerar o ovo e cantam para se identificarem. Mano leva a alegria da dança ao seu povo e todos passam a admirá-lo como ele é. Foi assim que nos encantamos por esse filme. Muita coisa boa acontece. Quem não assistiu, vale a pena!

Locamos o "Happy Feet 2", para saborear a continuidade. A mensagem de que cada um é um e tem sua razão de ser continua, e mais forte e em quase todos os personagens. Desta vez, envolve toda a Antártida e a teoria do caos, onde tudo está interligado e a gente nem percebe.

Mano - o pinguim sapateador do primeiro - e Gloria têm um filho, Erik, que ainda não sabe o seu talento. Desta vez, os talentos não se resumem a apenas cantar, ou dançar, mas, cada um identificar o seu, em si.

Quem pensa que para um pai que enfrentou os desafios que enfrentou para ser aceito e respeitado como "indivíduo" consegue dar conta de (re)viver a situação com o filho, se engana... a gente acaba, sem querer, repetindo alguns padrões internalizados socialmente em nosso ser individual. Vejo isso em mim, com Peu... não gostava de que me vissem apenas como "criança inteligente" e é o que mais enalteço nele... Bem a tempo de me redimir de mim mesma e fortalecer a base moral e de bons valores que tanto acredito e dedico viver. Enfim, Mano não sabe como "chegar" no filho. Ele não sabe lidar com o tempo do pequeno e o expõe à muita cobrança.

Envergonhado de si, por acreditar que não tem nada a acrescentar, o pequeno Erik, após uma conversa com "Tio Ramon", decide ir para a terra dos Adelie, onde ele poderá ser ele, sem cobrança de que deve se enquadrar em algum modelo, ou criar o seu próprio, desde que tivesse um modelo.  No caminho, nós, telespectadores, conhecemos os krill - um cardume de invertebrados tipo camarão - Will e Bill. Em meio àquele aglomerado de iguais rumando na mesma direção, eles se encontram. Bill, para se certificar, pergunta a Will se ele é ele mesmo, no que recebe como resposta: "Claro que sou eu!" e Bill: "É que somos todos iguais...". No que Will grita: "Eu sou único!". Ali, entra o questionamento da importância da individualidade, ainda que em meio ao coletivo. Will decide mudar. Tomar um novo rumo. Ele diz que quer ser "livre" e seguir um caminho novo, onde ele vai criar tudo, inclusive quem ele será e do que se alimentará. Muito engraçado e profundo. Ele nada rumo ao final do cardume e sugere a Bill que, talvez, ali seja o "fim do mundo" e se ele vai morrer sendo comida de qualquer outro animal, que ao menos ele morra vivendo de uma maneira diferente e que ele escolheu seguir. O "fim do mundo krill" é o início do mundo Will - com Bill na cola, sem saber o que está fazendo, mas, vai em solidariedade ao amigo precursor e desbravador! É muito bacana o desenrolar da história, principalmente quando esse krill se separam e Will segue sozinho, em meio à sua revolta de ser tido como igual. O querer ser diferente para ele é vital, mas, o que o motivava e a falta de direcionamento eram os seus maiores empecilhos. Mesmo assim, ele ia. Nada o impedia de ir. Conseguir se ver como único o fortaleceu a ponto de nada mais o frear. Lutava pela vida com toda a força que tinha e mais um pouquinho. Por fim, depois de um tempo, ele sente falta do grupo, de sua "identidade" espelhada naquele grupo. Sente-se só. Volta para o mar, por "acaso" e, ali, trava um monólogo onde expressa o quanto Bill lhe era importante e ele nem sabia e o quanto o cardume lhe fazia falta. Tudo que viveu ele reconhece como importante, mas, sem sentido maior... Os contatos, os desafios, o conhecer o mundo do outro, o valor de uma amizade, o valor e a capacidade de quebrar uma parede gigantesca que um grupo unido é capaz de promover... tudo isso é abordado no filme. Toda ajuda é bem vinda, quando se há boa vontade de conhecimento do que deve ser feito. Cada personagem tem uma riqueza e uma magnitude. Todos cometem "erros" e todos entendem a importância de reconhecer que errou para acertar. Não vou falar muito do filme, senão, perde a graça do contato e das próprias conclusões. 

Muitos paradigmas são questionados ao longo da historinha. A relação conturbada de pais e filhos; as amizades fortalecidas pela união sincera; como em grupo a gente pode ser a gente e saber nosso papel individual e coletivo. O quanto cada ação nossa repercute numa consequência além da nossa compreensão. Muito bonitinha a cena onde todos juntos se ajudam para salvar os pinguins imperadores - que, de início, eram arrogantes e presunçosos pela sua "nobreza imperadora" - e até os krill, tão levinhos, ajudam a quebrar o iceberg que prendia toda uma nação dos pinguins imperadores. Como as crianças têm essa capacidade de ver a solução além do problema e como se entregam de corpo e alma na missão de resolver. e como nós, adultos, nos tonamos seres medrosos - reconheço nossa prudência adquirida com a experiência de dia após dia de vida, mas, o excesso dessa "prudência" extrapola e vai para o medo, o pavor aprisionante e a incapacidade de enxergarmos mais além, e de enxergarmos o óbvio, o mais próximo, as soluções mais simples - e como passamos isso para os nossos pequenos, alimentando essa cadeia sucessiva de desaprendizado ao longo da vida. Passamos a vida inteira esquecendo o que vem a ser: viver e usufruir da Vida. Passamos a vida inteira com tanto medo da morte que nem nos damos conta de que matamos um pouco de nós a cada dia, em cada medo.


Tem um momento em que Will, no reencontro com o cardume, pergunta a Bill: "Como você os encontrou?", afinal, no momento de sua fuga, seu cardume havia sido comido por uma baleia e ele fala: "É para isso que existimos, para ser alimento de outros animais". Nesse reencontro, Bill responde: "Eles é que me encontraram.". Quando a gente sente que faz parte daquele grupo, daquele povo, o patriotismo, o amor àquela pátria amada, faz sentido, ainda que seja uma ave pintada de pinguim, como o papagaio Sven, que nos ensina muito, quando se assume e como encontra seu lugar no grupo, mesmo sendo de outra raça. Temos um algo maior, temos uma imagem de um todo formado por cada pequena parte. Assim, Bill pede a Will que o ensine a sair da base da cadeia alimentar, que somente encarando os desafios da vida afora e se adaptando aos novos mundos explorados é que se abre a porta para a evolução. Will, embebido por sabedoria de vida, após retirar-se e lançar-se em busca do novo, aprende o caminho de encontro consigo e a humildade lhe é despertada, fala: "Eu não tenho o que ensinar para ele. Cada um é que deve seguir o seu caminho...". 


Todos nós temos a capacidade de nos tornarmos pessoas melhores e aprendermos diante de cada erro. Como pais, mães, família, amigos, temos a responsabilidade por nossas ações. Tudo que fazemos reverbera e repercute em algum lugar. Que cada ação nossa tenha um objetivo nobre e que nobre sejam nossos valores morais, com base nas virtudes. Talvez nunca sejamos perfeitos, mas, nos lançar no caminho crescente é melhor do que viver estagnado e sem saber o que mais podemos desenvolver!

Se a gente conseguir mudar na gente, seremos capazes de sair dessa base humana pequena que estamos e podemos dar aos nossos filhos a crença de que eles podem fazer melhor e, daí, melhorar cada dia deles e cada um melhorando seu cada dia, quem sabe o mundo se torne um lugar mais aprazível e melhor! 


Super indico esses filmes. Tenho rascunhos aqui de lições que tiro cada vez que assisto e re-assisto os filmes com Peu. Um dia publico mais. Quase todos nos lembram a importância do lidar com as diferenças e o respeito como base, o amor como propulsor e mantenedor. Além de nos permitirmos momentos de lazer e descontração, aproveitamos da companhia dos nossos pequenos em momentos de chamego únicos, de aprendizado com as lições e oportunidade de crescimento pessoal e coletivo! 

O desabrochar com nossos filhos nos ensina mais do que todas as lições na Vida! 

Saudações maternais,

Pat Lins.

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