domingo, 16 de setembro de 2012

"DIBS EM BUSCA DE SI MESMO"


Ainda estou emocionada! Por isso, decidi sentar e escrever!

Dentro de mim mexe-se algo, como uma lagarta andante. Meu coração dá-me umas alfinetadas boas, daquelas que sentimos depois de uma boa choradeira, do tipo "lava alma". Chorei em uma parte do livro, apenas. Não sinto mais essa vontade. Apesar da sensação de quando choramos muito, diante de forte emoção positiva.

Uma conhecida, vizinha e mãe de colega de Peu que me sugeriu, do nada, uma leitura bacana que, talvez, eu gostasse. Sim. Gostei! Aliás, amei!

O livro, após pesquisar nas maiores livrarias, está esgotado pelo fornecedor. Divulguei nas redes sociais como conseguir e um colega me sugeriu comprar pela internet, livros usados. Visitei um site - Estante Virtual - pois, já havia visto uma colega pesquisando por lá. Encontrei! Comprei! Recebi dia 13 de setembro, à noite. Dia 14 à noite li das 21h até as 23:30h, conduzida pela história real e envolvente. Me vi na metade de livro. Parei. Respirei. Fechei. Fui dormir. Abri mão de tudo, no sábado a tarde, para concluir a leitura. Tive, apenas, 3 horas, o que me fora suficiente para adiantar. Hoje, por volta das 01:10h, deleitei-me com o seu final! Meu livro é velhinho e, por isso, me trouxe um sabor especial. Gosto de sentir a vivência. A vida dos livros. A leitura, para mim, é um ato sagrado. Os bons escritores, para mim, são aqueles que escrevem seguindo um dom, uma habilidade natural, agregada ao desenvolvimento efetivo de técnicas de escrita para a transmissão de uma mensagem HONESTA. Não sei de quem foi este livro antes, mas, me veio cheio de força!

Assim conheci "Dibs" e assim, conheci o meu "EU Dibs", meu "EU mãe de Dibs", meu "EU avó de Dibs", meu "EU professora de Dibs"... me vi como suas empregadas, como Jake. Me vi em cada ser humano dessa história simples, como a vida é, através de sessões de "ludoterapia" de uma criança bombardeada desde a gestação, seu nascimento, seu primeiro suspiro de vida, seus primeiro passos... e sua força essencial, única e autêntica em busca de si que permitiu, diante de ajuda profissional e com afeto, seu reencontro consigo.

Vou começar do final, de onde senti a mensagem para nós, mães reais, mães na prática diária da arte de ser mãe, pessoa, imperfeita e, ainda assim, capazes de sermos mais e melhores a cada dia. Eis a mensagem que gostaria de partilhar:

"Uma criança, quando possibilitada a oportunidade, pode vivenciar a alegria de uma comunicação honesta e sem hipocrisias. Uma mãe, quando respeitada e aceita com dignidade, sabendo que não será criticada ou censurada, pode expressar-se com autenticidade sincera.". 
(Virgínia M. Axline)
Imaginemos um mundo novo e melhor. Onde as pessoas se respeitem e cobrem e exijam menos das outras porque estarão mais voltados para si e ocupados com seus reais deveres enquanto seres humanos. Esse é o meu sonho de mundo ideal. Onde RESPEITO seria base para toda e qualquer relação, em qualquer ordem, escala, gênero e etc.

Dibs é um menino. Uma criança. Um menino diferente, mas igual aos outros meninos. Era dotado de inteligência elevada. Foi subjugado e limitado a busca de conceitos, de modelos, de padrões... Seu lado afetivo-emocional havia sido forte e gravemente abalado. Portas foram fechadas em sua vida. Portas e paredes foram erguidas em suas relações familiares. Não por ele, mas, culminou nele e, em vez de consequência, era tratado como origem dos problemas daquela família. Na escola, ninguém sabia "diagnosticá-lo", muito menos acessá-lo. Não se sabia o que ele sabia. Muito menos, quem ele era, além do nome e sobrenome matriculados naquela instituição. Senti - sensação ao ler o livro... mesma explicação para os "sentir" que se seguem -  a vontade de Dibs, bem como sua confiança na psicóloga - uma pessoa nova em sua vida; vida esta que ele temia a aproximação e o contato com qualquer outro ser humano... Senti a angústia de sua mãe, ao descobrir-se co-responsável pelo fechar de tantas portas na vida daquele ser em crescimento, jogando neles suas frustrações pessoais e profissionais como "culpado máximo e cruel". Senti a angústia dela em resgatar esse encontro que não se permitiu com o filho em seu nascimento. Senti a sua vontade de fazer valer cada dia presente como um novo caminhar nesse novo caminho que se abria, sem portas ou janelas, mas na liberdade da vida e da nossa capacidade de se refazer, desde que haja vontade! Senti o que são barreiras que nos colocamos e a importância de não reclamarmos do ambiente em que vivemos, mas, sim de sabermos em nós lidar conosco e todo o resto se encaminhará, pela força resultante dessa busca de si e desse encontro constante. Senti o quão mais importante que tudo é o AMOR. Não essas partes de amor que nos debatemos em tentativas infundadas e teóricas de conceituar esse sentimento tão nobre e inexplicável, mas, "sentível". "Dibs em busca de si mesmo" nos ensina a amar. Nos reconhecermos como únicos e autênticos, porém, com algo a ser trabalhado e melhorado, sempre.

Não vou reproduzir minhas anotações aqui... reservo-me ao direito de permitir que essas boas lições me envolvam como o abraço que me dei ao ler esses relatos. Tenho o dever de não reproduzir em respeito a quem vai ler. Acabaria forçando um(a) amigo(a) leitor(a) a ir em busca dessas mensagens, em vez de irem em busca de si. 

O livro traz um universo psicológico desmistificante. O cuidado com que a psicóloga trata o "caso" nos remete ao seu objetivo de pesquisar para ajudar um encontro de respostas às suas perguntas e uma abertura de caminho para a vida de cada paciente, fortalecendo-os em si, para que não haja o apego ou a dependência de sua ajuda por toda a vida. 

Transcrevo, aqui, apenas um trecho que me tocou como peculiar - aliás, o livro inteiro. Existem alguns sites que disponibilizam em PDF, para quem tiver interesse em começar a leitura. E o trecho - que é longo... são quase três parágrafos - diz:

"...Nada se podia afirmar ou negar.

Sem os lampejos da evidência inequívoca, defrontava-me com o mistério daquele ser, numa atitude de respeito e humildade. Sabia que as trevas da ignorância proporcionam um espaço crescente para julgamentos incoerentes e acusações tendenciosas, expressas ao sabor das emoções. Nessa atmosfera, qualquer conclusão definitiva traz em seu bojo a ambiguidade. É daí que os benefícios da dúvida podem obrigar-nos a refletir melhor sobre os objetivos e limites da avaliação humana.

O estreitamento ou a ampliação do horizonte interior do ser humano não pode ser medido pode outra pessoa. O processo do desabrochamento pessoal só se torna compreensível à luz da experiência própria de procurar-se e encontrar-se, onde, então, de diferentes maneiras é sentida a posição axial da autoconsciência. A partir dessa base, espontaneamente, aceita-se que cada personalidade tenha o seu mundo muito particular de significações, gerado na integridade de sua estória, mesmo não dispondo de elementos para explicar as razões de ser de cada um.

(...)

Desconhecemos as regras prontas, elaboradas para dissolver bloqueios mentais. Cremos que muitas de nossas impressões são frágeis. Compreendemos o valor da objetividade, da calma do estudo ordenando. Sabemos que a pesquisa é uma fascinante combinação de intuição, especulação, subjetividade, imaginação, esperanças e sonhos mesclados com dados coletados objetivamente e submetidos à realidade da ciência matemática. Um elemento isolado não basta. O conhecimento da complexa causalidade ajuda-nos a construir a longa estrada que nos conduz á verdade."

(Trecho de "Dibs em busca de si", de Virginia M. Axiline)

E tanta coisa se desenrola... 

O ideal é ler. Qualquer comentário que faça aqui não terá muito sentido. A leitura desse livro, por si só, nos leva a questionar os nossos sentidos, a vontade de crescer como ser humano e recuperar a simplicidade e capacidade de ler e refazer a vida como uma criança. Nós, mães, não somos culpadas, mas, nossa responsabilidade é nos encontrarmos em nossos papéis. Esse é o nosso maior desafio. 

Houve um momento do livro onde aparece a ansiedade dos pais em provar que o filho não é um "retardado mental", como eles colocam e a criança, gênio, por sinal, fecha-se e não permite que ninguém o vanglorie apenas pela sua inteligência intelectual, ele queria apenas, ser criança e crescer no processo natural de amadurecimento. E vem esse levantar de questão sobre essa ansiedade de nós, pais, em nivelarmos nossos filhos pelo seu grau de conhecimento apreendido. É difícil saber o quanto sabemos, o quanto uma criança é capaz de saber. É preciso que saibamos lidar com nossa ansiedade. Isso me fez recordar um episódio que vivencie quando Peu era pequeno - dois meses, apenas - e minha sogra estava perto de voltar para a Holanda, país onde morava, e, colocou Peu para engatinhar. Quando via a cena onde ela estava comovida e ele engatinhando em cima do colchão, segurei o calor que me subia pelas costas e fui, calmamente, carregar meu filho. Com os olhos marejados pela emoção, vi que o grau de ansiedade dela extrapolava o limite que o respeito a idade do bebê requeria naturalmente. Perguntei o porquê daquela atitude e ela me respondeu, inocentemente: "Quando eu voltar ao Brasil ele já estará engatinhando... Queria ver antes e ter a sensação de relembrar ver uma criança começar a engatinhar...". Também me recordo que eu, ansiosa, queria Pedro lendo e escrevendo antes da hora, seguindo o meu exemplo de criança precoce - o qual eu nunca soube lidar... Me via sem saber como lidar com o comportamento diferente de Peu e procurei "doentificá-lo" para justificar sua maneira de agir... Nisso ele me lembra Dibs, buscando liberdade, mexendo  com todos que têm o prazer de conhecê-lo - inclusive aqueles que nem se dão conta do prazer que é conhecer Pedro Henrique. Me vi enaltecendo essa mega - inteligência dele como marco. Pedro com 2 anos estava quase lendo sozinho, juntando sílabas... Hoje, com 5 anos, estamos em trabalho de quebrar a resistência dele em ler e escrever... Logo ele que com 2 anos conhecia todas as letras do alfabeto, e ordenava certinho... Que cobrou da avó, nessa idade, onde estavam "K, W e Y" no livro de alfabeto que ela bordara para ele - um livro lindo, só vendo! Ele que com menos de 2 anos, cantava "o sapo não lava o pé"  com cada vogal, sem gaguejar... Sabia todas as cores, números de 1 a 15 e algumas palavras em inglês. Onde ele represou tudo isso? Logo ele que chamou a atenção preconceituosa de um casal mineiro, no restaurante, por quase ler a placa na loja ao lado, enquanto almoçávamos, no que eles, na cara dura, se aproximaram e perguntaram: "Ele é baiano?" e, diante de nossa afirmação: "Sim." eles exclamam: "Inteligentíssimo!" - sem comentários... Provavelmente, ele se sentiu muito enaltecido por sua capacidade e, de alguma maneira, quis lembrar que ele era uma criança. Me recordo que cobrávamos dele uma atitude mais madura, haja visto que era dotado de uma inteligência acima da média... Tudo bloqueado. Desde o ano passado, Pedro demonstra resistência no aprendizado escolar. Quando para, em poucos segundos, responde tudo, como quem quer ter tempo de crédito para, apenas, brincar. Diante disso, reconheci minha angústia ansiosa e me freei - não com facilidade efêmera e superficial, mas com consciência de uma mãe que se colocou no lugar do filho de acordo com as necessidades de sua idade e vi que eu estava exigindo demais dele. Era como se falássemos de igual para igual... de criança inteligente para criança inteligente... Resgatei a minha criança que não gostava de ser vista apenas pela inteligência... haviam outros como eu e porque todo mundo só via a mim? Refiz meu caminho. - hoje, colaboro com o resgate dele e, olha, é só dar oportunidade e tentar acessar seu mundo que conseguimos resultados rápidos. Isso é tudo? Não. Trabalhamos o seu emocional abalado e seu comportamental com ajuda profissional. Não agi totalmente como a mãe de Dibs, mas, em parte, sim... Mãe ansiosa e frustrada, com medo do que representava uma criança em minha vida. Não o rejeitei, até porque, na gravidez estava muito feliz. Até mesmo com a DPP eu não o rejeitei - inclusive, essa questão de mães que rejeitam o filho após o parto tem outro nome... Se não me engando é psicose puerpural... - mas, não foi fácil lidar com tudo de vez... Quantos de nós não cede aos apelos da ansiedade? E quantos somos capazes de reconhecer?  Meu filho precisa de mim e eu dele. Nós precisamos, cada um de si próprio. Cresço e me liberto à medida que me reconheço. Ele cresce e se liberta à medida que se conhece!

"Dibs" me fez refletir muita coisa. Ele queria ser como o vento que nunca parava e estava em todos os lugares! Dibs só queria ser quem ele era! Ele constrói um "mundo de pessoas amigas", ao final de sua terapia, onde ele mesmo determina o seu término. Ele, que só falava com objetos inanimados, aprende a falar com outros humanos, com muito respeito e integridade. Ele aprende a importância de uma amizade sincera. Nesse mundo, ele fala, que todas as pessoas são amigas. Ao final do livro, já com 15 anos, ele dá provas de quanto isso faz parte de seu ser! Muito lindo! Muito emocionante! Muito edificante! Muito tocante! Muito profundo! Mas, não é doloroso. Ao menos, eu não senti dor, nem sofrimento. Senti uma vontade de viver ainda maior! Senti um calor gostoso! Senti que tenho muito a aprender e muito a ensinar. Que o meu filho precisa ser respeitado como é. E ele é uma luz na vida de muita gente. Como toda luz, também incomoda... nem todos conseguem manter-se de olhos abertos diante dele. Ele mexe, mesmo. Mexe muito. 

Se nós bem soubéssemos, não necessitamos de reconhecimento e sim de mérito. Devemos reconhecer nosso EU e assumirmos nosso dever diante da Vida. Deveríamos viver mais. Criticar menos. Julgar nada, nem ninguém. Condenar apenas a não tentativa!

Reconhecer-se dói, muito! Revelar-se e desvelar-se, dói e muito. Mas, viver cego deve doer muito mais, porque a vida passa e, depois que tempo cronológico segue e Tempo de Vida finda... todo tempo que passamos se foi. Nada mais é, apenas o que É de Verdade. Verdade, dói? Não deveria! Ele revela, indica o caminho que devemos tomar. Mas, se revelar-se dói, a verdade vai doer, também? Será? Sugiro que tentemos!

Dibs fala de amizade sincera! De honestidade. De resgates de valores humanos. Fala de amor de uma maneira diferente. Fala de esperança, ainda que não se tenha indícios de que algo possa melhorar, como não saber o que fazer, para começar... Fala da importância de VIVER A VIDA!



Saudações maternais,

Pat Lins - uma mãe, uma mulher, uma pessoa em busca de si!








2 comentários:

  1. Eu li esse livro há quase 20 anos atrás, uma amiga de trabalho que me indicou(pela minha história paternal e maternal) e por obra não sei definir do quê o livro tinha na biblioteca da faculdade que trabalhamos juntas. Foi um divisor de sentimentos esse livro em minha vida!

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  2. Olá estou procurando o filme do Dibs em busca de si mesmo , se alguém souber me avise por gentileza .

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